Cambridge Companion 2 - Hodge

Cambridge Companion to Darwin (2003)

  • Após o retorno do Beagle, viagem discutida no ensaio anterior, Darwin passou os próximos anos em Londres, onde organizou suas anotações em livros, abriu vários "notebooks" e formulou todas as suas principais teorias;
  • Darwin formulou nesses anos a teoria da origem das espécies (seleção natural), a pangênese, teoria da origem da moral a partir dos instintos e sua interpretação da expressão das emoções no homem e nos animais. Apenas duas teorias foram concebidas depois, a seleção sexual e o princípio da divergência de variedades e espécies, elaborações da seleção natural, segundo Hodge;
  • Darwin abriu muitos cadernos para elaborar suas ideias:
    • Notebook A - Geologia (jul. 1837);
    • Notebook B - Zoonomia, leis da vida (jul. 1837);
    • Notebook C - Sequência de B, ficou cheio em 1838;
    • Notebook D - Sequência de C (jul. 1838);
    • Notebook M - Metafísica (jul. 1838);
    • Notebook E - Sequência de D (out. 1838);
    • Notebook N. - Sequência de M (out. 1838);
  • Darwin mantinha seus pensamentos para seus diários, de modo que, segundo Hodge, a correspondência com seus amigos não elucida a mente de Darwin durante esse período, não obstante ele não se isolou completamente pois lia muito, efeito discutido por Sloan no ensaio anterior, quando ele fala da distância cultural que ocorreu entre Darwin e a produção científica na Inglaterra durante os anos que passou no Beagle. Também manteve-se conversando com muitos outros pensadores;
  • Hodge também considera a autobiografia muito enganadora e afirma que os estudos baseados nela pintam o "London Darwin" como um precursor para o Darwin das décadas de 50 e 60 (Publishing Darwin), quando na verdade, deveríamos vê-lo como uma sequência do Darwin de Edimburgo e o  Publishing Darwin como um "póscursor" do Darwin que passava seu tempo organizando suas teorias nos cadernos. Para mim, essa visão encontra eco em Morris, quanto a importância de analisar a vida de Darwin cronologicamente, evitando carregar os resultados que já temos hoje. Afinal estamos vendo um filme de mistério de trás pra frente, onde o legado de Darwin já foi produzido e alterado pelas décadas, temos que fazer o máximo para não analisar as peças do mistério de modo a encaixá-lo no final que vivemos hoje;
  • Segundo o autor, temos que estudar os notebooks como produtos de seu tempo e local;
  • Hodge reitera Sloan, reforçando que Darwin passou muito mais tempo no mar que em terra, e isso favorece o estudo geológico, não o biológico. Assim Darwin pode expandir suas visões e concluir que regiões inteiras do planeta poderiam passar por subsidência e elevação;
  • Darwin concebeu sua teoria dos corais em oposição a Lyell. Para Darwin os recifes e atóis se formavam por subsidências vagarosas e para Lyell ocorria um elevação do terreno;
  • Darwin mantinha uma visão de que extinções ocorriam pela perda da energia vital de uma espécie desde 1835, porém as objeções levantadas por Lyell (migrações, mudanças climáticas, entre outros) abalaram a mente de Darwin. Até 1837 ele não tinha se preocupado em relacionar sua teoria da força vital das gerações com a transmutação. Lyell propôs que uma espécie poderia surgir a partir de um único casal em um único local, em oposição a teoria dos múltiplos centros de criação. Assim que surgem as espécies estão livres para se espalhar pelo globo e se adaptar as condições, porém sem nunca darem origem a outra espécie, em oposição a Lamarck, para Lyell as espécies são independes umas das outras;
  • Darwin começou a discordar da visão anti-transmutacionista de Lyell. Após receber o parecer de Owen e Gould sobre seus espécimes coletados na viagem. A partir daí Darwin percebeu, após Gould apontar os pássaros de Galápagos e do continente, que as semelhanças entre os seres vivos das ilhas e os continentais pode ser explicada por hereditariedade em conjunto com migração e transmutação, em oposição a adaptação ao local de origem de Lyell;
  • Lyell afirmava que a transmutação exigia que se explicasse as questões levantadas anteriormente por Lamarck, a geração espontânea, o progresso da vida dos animais basais aos derivados e a ancestralidade do homem;
  • Darwin estudou, influenciado por Grant, o Zoonomia de seu avô e chegou a conclusão que a geração sexual tem o propósito de possibilitar que os animais passassem suas características para seus filhos e netos;
  • Lamarck postulava a geração linear das espécies, sem divergência em forma de árvore, enquanto as mudanças responsivas ao ambiente sugeriam uma divergência arbórea. A geração única de Lyell possibilitou a elaboração da origem por um ancestral comum a todas as formas de vida;
  • A versão de Darwin para o aumento de complexidade da vida era baseada nos caracteres sexuais e nas respostas ao ambiente, em oposição a Lamarck que acreditava que a transmutação ocorria por uma força interna. Segundo Hodge, Darwin se baseava em dois princípios da geração sexual:
    • Inovativo: Permite que novas características adaptativas sejam adquiridas em condições não estáveis;
    • Conservador: A prole sempre será a média de seus pais;
  • Migração e isolamento possibilitariam o acúmulo de modificações até que as população se tornariam estéreis entre si; Darwin mantém a proposta de Lamarck de que os seres basais são constantemente gerados espontaneamente, mas diverge ao dizer que a força vital dos seres infusórios acabará e levará a extinção, assim animais que progrediram muito teriam forças vitais menores possibilitando a entrada de outras espécies e explicando os "elos perdidos" nos grupos superiores. Desta forma:
    • "Species deaths by extinctions are compensated for by splittings and branchings, so that the total number of species is, as in Lyell, constant on a long run average. Although the buddings of the tree of life are dependent on contingent geographical circumstances and so irregular, there is a tendency towards threefold diversifications into aquatic, aerial and terrestrial ways of life"
  • A árvore de Darwin cresce assexualmente, pois uma espécie nova não surge de um casal de espécies, mas de uma única ancestral, entretanto a propagação das espécies eram quasi-sexual. Para Darwin as mudanças de uma espécie em resposta a uma circunstância ambiental era como um quasi-cruzamento com a nova circunstância, pois a espécie jamais produzuria uma sucessora se a circunstância não fosse alterada, morrendo sem herdeiros pelo fim de sua força vital. Hodge adverte que essas analogias de Darwin não tornam o crescimento da árvore como o crescimento de um único organismo e também não torna o crescimento um progresso culminado  com a chegada do homem, por exemplo.  
  • Porém, Darwin logo revisa sua teoria. Abandonando a questão da força vital nos animais infusórios. Ele acha a resposta para a relação entre os "elos perdidos", tempos de vida mais curtos, maior variação e aumento de complexidade na sua abrangência taxonômica ao invés de sua maior organização. Assim:
    • "For, in the buddings and splittings in the tree of species branchings, when one ancestral species has a dozen descendent species, there must be a dozen lines ending without splitting in extinctions, given that the total species number is not increasing. In the greater multiplying of species in the diversifying descent of a large group, a class, say, rather than a mere genus, there will be vastly more extinctions and so more gaps in character, within and between such groups."
  • Essa nova versão da árvore da vida explica a o nascimento e extinção de uma nova espécie sem jamais retornar novamente, uma vez que todas as espécies são descendentes de um ancestral que respondeu a uma pressão ambiental no passado, não há necessidade de peixes atuais se tornarem mamíferos por exemplo.
  • "Darwin’s new tree of life with its treatment, at once Lyellian and Grantian in its resources, of species as generating, dividing and multiplying quasi-individuals, has now departed fundamentally from any scheme, such as Lamarck’s, of recurrent escalations of life through a given array of particular taxonomic types each distinguished by its own peculiar organisational structure [...] [the tree now shows] cumulative arboriform outcome from the births, lives and deaths of species in the indefinitely long run of times past and present."
  • Segundo Hodge, a ciência Newtoniana tem uma estrutura piramidal. Na base há as observações particulares, no nível superior há as leis gerais (descritivas, mas não causais) e no topo estão as causas, as leis que unificam e explicam os níveis inferiores. Darwin pretendia desenvolver sua teoria dessa maneira, mas apenas a esboçou.
  • Lei de Yarrell: Quando duas raças de animais domésticos são cruzadas e a prole mantém as características da raça mais velha. Segundo Hodge, Darwin utilizou muito esse conceito e o batizou.
  •  Hodge discute a questão da formação de raças domésticas em contraste com as raças naturais, assunto discutido entre Darwin e Lyell, que enxergava isso como um ponto contra a transmutação;
  • "Darwin’s view of species formation was always that it was an adaptive achievement [...] Darwin came to contrast adaptive variations in individuals with monstrous variations. [...] Both adaptive and monstrous variations are made possible by sexual generation; but only the adaptive variations contribute to species formation; rare, monstrous variations are blended out in crossing and are less able to survive and procreate anyway. More and more, Darwin came to see adaptive structural variations as initiated by changes in habits and so in the use of organs. [...] For Darwin, the initiation of structural change by habit change complemented his view of instinctive aversions to interbreeding as initiating eventual species formation."
  • Darwin acreditava que uma teoria deveria ser suportada por: 1) independentemente dos fatos que explica; e 2) por quão bem explica os mesmos fatos. Segundo Hodge, essa é a estratégia argumentativa mantida na Origem;
  • Hodge explica a importância dos estudos da mente para Darwin e sua teoria. A divergência das espécies começava para Darwin primeiramente com a mudança dos hábitos, a questão da moralidade e consciência humanas também deveria ser estudada. Darwin se considerava materialista e "necessitarian" (determinista para o linguajar moderno, segundo Hodge);
  • Há uma secção dedicada a Deus e visões religiosas. Darwin exibia visões religiosas coerentes com seus materialismo e agnosticismo. Primeiramente, via o homem como apenas um animal como todos os outros, e sua mente da mesma forma era um produto da seleção natural, e devido a isso seria impróprio para qualquer ser humano julgar questões divinas, pois estas estariam em um plano muito superior ao do homem.
  •  Há uma discussão das relações de Darwin com Whewell e Comte.
    • Comte afirmava que o pensamento e o homem movem-se do teológico ao metafísico e depois a fase científica, isso aprazia Darwin segundo Hodge. Porém Darwin discordava de Comte quanto este afirmava que as teorias causais davam lugar generalizações acausais conforme a maturação da ciência;
    • Para Darwin o ideal de ciência era o encontrar a vera causa. Darwin apoiava Whewell na questão dos princípios a priori teriam de ser interpretados pela experiência e não inferidos posteriormente como conclusões de uma experiência. Para Whewell, esses princípios eram divinos e colocados na mente do homem pelo criador, para Darwin eles eram hereditários;
  • Darwin não demonstra preocupação com o pós-vida;
  • Hodge informa que a seleção natural surgiu vagarosamente durante setembro de 1838 até março de 1839, em oposição ao mito perpetuado de que houve um insight.
  • Após ler Malthus, Darwin chega a conlcusão de todas as espécies estão pressionando constantemente umas as outra competindo por recursos limitados, de modo que pequenas alterações podem ter grandes efeitos populacionais. Segundo Hodge, esse mudança de concepção fez com que Darwin abandonasse completamente sua teoria da Força vital e voltasse as teorias de extinção de Lyell, como diz Hodge, a teoria geracional foi substituída por uma teoria ecológica. Ocorre um sincretismo entre o insight Malthusiano com as ideias mais antigas de progresso e adaptação;
  • Para Darwin a causa final das pressões populacionais é a seleção das melhores características para adaptação as condições;
  • No Notebook N, Darwin postula dois princípios contrastantes, um é a hereditarieade de caracteres adquiridos por hábito (Lamarck) e o segundo é sem precedentes nas reflexões de Darwin, a prole mais bem adaptada vive mais que seus competidores.
  • No Notebook E os princípios são expandidos para três. 1) netos lembram avôs; 2) variação ocorre sob circuntâncias dinâmicas; e 3) a fertilidade supera o que os recursos podem suprir. Segundo Hodge, os princípios são compatíveis com os primeiros dois. Lembro-me do esquema de Mayr levando em conta isso tudo (abaixo);

  • Logo Darwin reinterpreta a seleção Malthusiana como Seleção Natural, uma forma muito mais prolongada e compreensiva que a seleção artifical;
  • Os desenvolvimentos na teoria permitiram Darwin se afastar de ter de explicar a origem da vida como um todo, e se concentrar nas origens das espécies;
  • Hodge faz um mapeamento dos notebooks com os livros:
    • "One can map Darwin’s notebook projects on to his books. Notebook A contributes to the geological volumes on South America and on coral and volcanic islands. M and N, on metaphysics, are consummated mostly in The Descent of Man (1871) and The Expression of the Emotions in Man and Animals (1872). The zoonomical enquiries divide in their legacies. The generation of individuals has its final synthesis in the hypothesis of pangenesis, apparently first formulated in 1841, but only published in 1868 in The Variation of Animals and Plants under Domestication. The generation of the tree of life by means of natural selection has the Origin (1859) all to itself."
  • Ao final Hodge faz uma análise socio-histórico colocando Darwin na questão da luta de classes que considerei inapropiada para este ensaio, esse aspecto poderia ser discutido em outro lugar de maneira melhor e menos dissonante;
  • No entanto, Hodge afirma que não devemos considerar a ciência de Darwin como produto da revolução industrial, pois essa só nasceria mais tarde. Para Hodge, Darwin perpetua a ciência praticada por homens ricos e rurais, em oposição a urbanização associada a revolução industrial.
    • "[...] one can recognise in Darwin’s account of nature not the urban sites of machinofacturing capitalism in Manchester, Leeds and elsewhere, still often marginal as they were to the social, political, economic and cultural life of the nation. Rather, one can recognise in the selective breedings, stockand crop improvements, dominant species and horizontal territorial competitions of life the agrarian, financial and imperial ways and means of those aristocratic and gentlemanly capitalisms which had first become nationally hegemonic early in the previous century [...]"

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O Evolucionista Voador - Costa

Brown Sequard

TS - Jia Ye (2021)