Cambridge Companion 4 - R.J. Richards

Cambridge Companion to Darwin (2003)

  • Nesse capítulo Richards discutirá os pensamentos de Darwin com relação aos aspectos menos físicos e palpáveis das espécies;
  • Richards afirma que desde o início Darwin tinha os seres humanos em mente nas suas teorias sobre espécies, assunto discutido com mais profundidade em Bizzo (1992);
  • Darwin acreditava piamente que o fatores mentais e instintivos poderiam ser afetados por adaptações a novas circunstâncias e assim após várias gerações os instintos animais poderiam dar origem às complexas emoções humanas;
  • Segundo Richards Darwin recebeu principal influência da corrente filosófica conhecida como Romantismo Alemão [pesquisar mais sobre], através de nomes como Humboldt, Goethe, Carus, Schelling e Schleicher, segundo Richards essa tradição começou com Richard Owen. Richards afirma que isso distingue Darwin da visão mecanista característica do século XIX, pois ele mantinha uma concepção Humboldtiana de natureza definida como "um complexo cujo coração bate com regularidade segundo leis, e ao mesmo tempo expressa valores astéticos e morais";
  • Antes de ler Malthus Darwin explicava a evolução dos instintos por "uso-herança", no qual hábitos adquiridos por animais poderiam se fixar conforme as gerações e formar instintos, por sua vez, os instintos poderiam afetar a espécie morfologicamente. De acordo com Richards, a transmissão inconsciente do instinto como uma memória era vantajosa para Darwin, pois distinguia sua teoria da de Lamarck, na qual Darwin interpretava que existia uma vontade de consciente que afetava a herdabilidade e considerava absurda;
  • Mesmo após a elaboração da Seleção Natural, Darwin continuou a fazer uso da "uso-herança".
  • Darwin definiu a expressão em um de seus diários como "um movimento habitual que resulta de alguma ação, a qual o progenitor fazia, quando excitado ou perturbado por algo, e que [agora] estimula a expressão". Richards aponta que, segundo a definição de Darwin, a expressão não possui utilidade particular e é tida como um resquício dos hábitos de nossos ancestrais. Richards também afirma que, assim como na expressão, a razão teria sua raiz nos intintos;
  • Richards aponta a influencia de Hume em Darwin. Hume dizia que as ideias nada mais são do que cópias mais apagadas das sensações, a partir disso Darwin construiu uma base para a origem do pensamento complexo, uma vez que ele definia o raciocínio simples como uma comparação das imagens sensoriais e em conjunto com as lembranças gerando satisfação posterior ao ato teríamos a origem de um pensamento complexo. Darwin enquadrou isso da mesma forma que fez com o instinto dando origem a expressões, assim as imagens sensoriais e a lembrança e satisfação causada por elas poderiam dar origem ao pensamento complexo;
  • Carus, outro nome do Romantismo Alemão, afirmava que a mente e a matéria eram um conjuno. Darwin, influenciado por Carus, concebeu a natureza como viva e dotada de inteligencia.
  • Embora a continuidade cognitiva entre os homens e os animais já fosse relativamente aceita naquela época, a moralidade ainda era usada como um critério de separação. Darwin precisava mostrar que a moralidade também poderia ter evoluido de nossos ancestrais;
  • Mackintosh, um conteporâneo de Darwin, afirmava que a moralidade vinha da disposição dos seres humanos em ajudar outros e da aprovações subsequente, porém não negava a utilidade da moralidade na sociedade, apenas não acreditava que o que impelia as ações morais era sua utilidade, mas sim a disposição natural dos humanos;
  • Darwin, embora concoradasse, apresentou uma dificuldade: Por que os humanos fariam algo espontaneamente de uma maneira que depois poderiam racionalizar a utilidade do ato? Para Darwin, a moralidade era inata tal qual um instino, ou seja, era herdada e como um instinto não dependia de decisões tomadas com total consciência;
  • Em resumo:
    • Darwin assumed that habits of parental nurture, group cooperation, community defence, and so on, would be sustained over many generations, driving such habits into the heritable legacy of a species, so that they would be manifested in succeeding generations as instincts for moral conduct. These instincts would be distinguished from fleeting inclinations and less persistent impulses, which might occur in one generation and depart with the next. When an individual with sufficient intelligence recalled, well after the heat of the moment, a behaviour elicited by these deeply ingrained dispositions, he or she would feel renewed satisfaction and also would be able to perceive on reflection the social utility of the behaviour. Darwin thus solved the problem of the coincidence of the moral motive and the moral criterion. 
  • Porém Darwin tinha uma dificuldade para encaixar os comportamento altruístas na Seleção Natural. Como comportamentos que não geram ganho individual e aumento da probabilidade de produzir uma prole poderiam ser herdados? Segundo Darwin, discutindo sobre os indíviduos neutros de colônias de formigas, "a seleção natural poderia agir nos pais ee continuamente preservar aqueles que produzissem mais e mais descendentes aberrantes, que possuissem qualquer estruturas ou instintos que fossem vantajosos para sua comunidade". No Descent of Man Darwin afirma que os impulsos altruístas poderiam favorecer certas tribos, portanto seriam mantidos conforme a evolução das comunidades humanas;
  •  Richards vai contra a visão mecanista que alguns atribuem a Darwin, e diz que, na verdade, ele possuia uma questão moral bem clara em sua visão da natureza, que se mostrava altruísta e engenhosa, "rejeitando que é mal, preservando e adicionando tudo que é bom";
  • Richards salienta a contribuição de Lyell e Wallace para o debate. Lyell acreditava que o salto mental e moral entre os humanos e os animais só podia ser feita com a ajuda de um agente divino. Wallace inicialmente acreditava que a seleção natural podia sim fazer com que essas características surgissem por meio de três fatores:
    • 1) a presença de diversos grupos humanos teria um efeito acelerador devido a competição. Darwin incorporou a seleção de grupo em suas teorias;
    • 2) Para Wallace a seleção era grupal e não individual, o que permitia o surgimento de comportamentos altruístas;
    • 3) Influenciado pelo livro Social Statics de Spencer no qual o afirma que a herdabilidade de hábitos úteis seriam o meio pelo qual o progresso evolutivo aconteceria, enquanto Wallace acreditva que a seleção natural faria esse papel;
  • Wallace se tornou um firme crente do mundo espiritual após 1865, o que despertou desgosto em Darwin. Wallace começou a dar atenção aos aspectos morais e de raciocínio abstrato que, segundo ele, não poderiam ter se originado naturalmente. Nas palavras de Richards:
    • While his friend Herbert Spencer regarded such properties as explicable only through use-inheritance, Wallace found a unique explanatory mode of selection that his new faith could provide. In his estimation, distinctively human traits had been artificially selected for us: ‘a superior intelligence’, he proposed, ‘has guided the development of man in a definite direction, and for a special purpose, just as man guides the development of many animal and vegetable forms’.
  • Sobre a linguagem, Darwin supunha que nossos ancestrais passaram a imitar sons da natureza e esses foram a base para o desenvolvimento da linguagem complexa;
  • Scheleicher, outro pensador contemporâneo de Darwin e figurante do movimento do Romantismo Alemão, aplicou a teoria de Darwin a evolução das línguas e acreditava que como ambos se comportavam de maneira semelhante o processo podia ser respaldado. Darwin e Haeckel adotaram essa ideia posteriormente. Não é raro hoje encontrarmos "árvores filogenéticas" das linguagens.
    • Darwin utilizou a ideia presente no livro de Haeckel (1868) desenvolvida a partir de Schleicher, de que a evolução da linguagem era a face material da evolução da mente. Assim ele obteve um contra-argumento para confrontar Wallace:
      • Darwin conceded that Wallace had been correct: for sheer survival, our animal ancestors had sufficient brain power. But he could now blunt the further implication of his friend’s argument. Citing Schleicher, he argued in the Descent that developing language would rebound on the brain, producing more complex trains of ideas; and constant exercise of intricate thought would gradually alter brain structures, causing a hereditary transformation and, consequently, a progressive enlargement of human intellect beyond that necessary for mere survival.
    • Darwin usou duas linhas argumentativas principais, a seleção natural e a seleção grupal. Porém é importante lembrar da explicação por "uso-herança".
    •  Sobre a moralidade, Darwin combatia a descrença e argumentos teológicos de Lyell e Wallace da seguinte maneira:
      • While ‘a high standard of morality’ indeed conferred small or no advantages to individuals, tribes of individuals endowed with ‘patriotism, fidelity, obedience, courage,  and sympathy’, and the readiness ‘to give aid to each other and to sacrifice themselves for the common good’, would be ‘victorious over most other tribes; and this would be  atural selection’. Furthermore, as the victorious, moral tribes supplant the defeated, immoral ones throughout the world, ‘the standard of morality and the number of well-endowed men will thus everywhere tend to rise and increase’.
    • Darwin utilizou a explicação por "uso-herança" para explicar como o aparecimento dos comportamentos sociais nas tribos. Para ele, existiam duas fontes desse comportamento:
      • 1) The first is the prototype of contemporary theories of reciprocal altruism. Darwin observed that, as the reasoning powers of members of a tribe improved, each would come to learn from experience ‘that if he aided his fellow-men, he would commonly receive aid in return’. From this ‘low motive’, as he regarded it, each might develop the habit of performing benevolent actions, which habit might be inherited and thus furnish suitable material on which community selection might operate.
      • 2) The second source relied on the assumption that ‘praise and 
      • blame’ of certain social behaviours would feed our animal need to 
      • enjoy the admiration of others and to avoid feelings of shame and 
      • reproach. This kind of social control would also lead to heritable 
      • habits.
    • Darwin explicou também as diferentes padrões de moralidade das diferentes culturas. Para ele  a evolução moldaria o altruísmo inato e o aprendizado cultural ao longo dos séculos faria com que os humanos passassem a negar ajuda a outros grupos;
    • Ghiselin (1969) acredita que como a ação altruísta traz uma vantagem para o grupo e para o ser que a perpetra ela seria a "na verdade a forma final do egoísmo".
    • Embora muitos saliente os aspectos egoístas e materialistas do instinto altruísta, Darwin parecia pensar o contrário segundo Richards:
      • Our moral instincts, he believed, would urge us to act for the benefit of others without calculating pleasures and pains for self. And since such altruistic impulses, at least in advanced societies, would not be confined to family, tribe or nation, he confidently concluded that his theory removed ‘the reproach of laying the foundation of the most noble part of our nature in the base principle of selfishness’.
    • Através de suas comparações das expressões faciais Darwin chegou a conclusão de que elas eram mais uma evidência para a origem comum dos seres. Porém Darwin não conseguiu explicar a origem das expressões apenas pela Seleção Natural e formulou três princípios:
      • 1) O princípio dos hábitos conjuntos úteis no qual as reações intintivas eram herdadas de hábitos ancestrais e aconteciam continuamente frente a determinados estados emocionais;
      • 2) O princípio da antítese versa que determinadas expressões relacionadas a um estado emocianal encontrariam seu oposto em um estado emocional igualmente oposto;
      • 3) Por último, Darwin emprestou um princípio de Spencer, que explicava que emoções muito intensas podiam se manifestar por diversos caminhos nervosos produzindo efeitos de expressão secundários;
    • Richards conclui, demonstrando novamente a influência Humboldtiana de Darwin:
      • Mind, morals and emotions occupied Darwin’s attention in his early notebooks and found places even within the Origin of Species, which ostensibly avoided the problem of human evolution. His argumentative strategy in the Descent and in the Expression of the Emotions continued that of the Origin. He employed vast amounts of empirical evidence gathered from many different sources and was able to show that when properly  juxtaposed, evolutionary consequences quite naturally followed. But he did not simply rely on the observations of others. He, of course, made use of his own experience on the Beagle voyage, especially his knowledge of tribal life among the Indians of South America and his encounters with the slave trade. Further, he stuffed these books with experiments and mathematical calculations of his own devising. The language of his arguments and experiments did not have the dry, crusty sound of many of the empirical studies from which he drew. His prose had a poetic lilt and his tropes, such as nature scrutinising the internal fabric of organisms, allowed the reader to feel the more comfortable presence of a larger power watching over all of life.

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