Ferreira, Bowler, Oliveira.

  • Ferreira fará, neste artigo, uma breve crítica sobre a obra de Popper entitulada Darwinism as a metaphysical research programme, na qual o autor elaborou suas críticas sobre o neodarwinismo de acordo com sua teoria, o falsificacionismo;
  • Ferreira reitera a importância da predição e da refutabilidade de uma teoria para a demarcação de ciência de Popper;
  • Popper criticou o neodarwinismo em diversas obras, de 1957 até 1974, embora a crítica se baseie principalmente no texto citado acima;
  • Ferreira mostra que estruturalmente a obra é divida em duas partes. Na primeira há as críticas e na segunda propostas de Popper para contribuir com a teoria da evolução;
  • Na primeira parte Popper postula que não é possível testar a teoria, logo ela seria metafísica. Porém, segundo Ferreira, é de extrema importância frisar que Popper não usa o termo "metafísica" no sentido costumeiro do positivismo lógico, mas sim no sentido de Lakatos, definido por Ferreira como:
    • [...] nesse conceito especial de metafísica é o reconhecimento de que, ainda que com caráter convencionalista ou puramente metodológico, a ciência precisa admitir premissas especulativas não testáveis para ser uma atividade possível.
  • Assim, vemos que Popper não descarta a validez científica do neodarwinismo, mas lhe nega o posto de "teoria científica testável";
  • Lakatos:
    • A metodologia de um programa de pesquisa com um núcleo “metafísico” não difere da metodologia de um programa de pesquisa com um núcleo “refutável”, exceto, talvez, no que concerne ao nível lógico das incoerências que são a força condutora do programa.
  • Popper faz duas críticas principais de acodo com Ferreira. 
    • A primeira é referente ao poder explicativo da teoria quanto a quantificação da biodiversidade, uma vez que a teoria poderia explicar qualquer número de espécies dentro de seu arcabouço. Essa crrítica é considera a mais razoável por Ferreira;
    • A segundo diz respeito ao mecanismo da evolução, criticando o que considera ser  quase tautológico e teleológico, pois para Popper, esse é o teor que enxerga ao imaginar que os ser está vivo por estar adaptado e o extinto por não estar. No entanto, Ferreira identifica que o próprio Popper soluciona essa questão ao propor que a adaptação não é um destino relacionado a sobrevivêcia, mas na verdade é um meio de "resolver problemas". Para Ferreira:
      • [...] ao propor que o valor de sobrevivência deve ser analisado como capacidade de solução de problemas concretos, o autor indiretamente concede que a adaptação seja testável em outros termos, como “[...] causas de efeitos biológicos” e não apenas como sobrevivência post facto. [...] Enquanto para Popper “dizer que uma espécie atualmente viva está adaptada ao seu ambiente é, de fato, quase tautológico” (1974, p. 137), a teoria da evolução, de sua parte, afirma que uma espécie atualmente viva está quase adaptada, o que não é nada tautológico.
  • Na segunda parte podem ser delimitadas seis contribuições que Popper gostaria de fornecer a teoria, buscando explicar o surgimento dos seres complexos. No entando Ferreira identifica que a grande maioria não foi original, sendo precedidas por diversos cientistas neodarwinistas. Além disso, Ferreira explicita que Popper focou-se nos animais, especialmente os mais complexos, deixando de lado as plantas e microorganismos.
  • O autor questiona Popper de maneira mais contudente:
    • Mais adiante ele afirma que esses problemas dos organismos “[...] são realidades biológicas específicas; eles são ‘reais’ no sentido em que sua existência pode ser a causa de efeitos biológicos” (Popper, 1974, p. 143). É extremamente difícil compreender essas afirmações sobre o “valor de sobrevivência” como fazendo referência a hipóteses não testáveis. O autor fala de problemas reais, que seriam causas físicas de fenômenos biológicos. Em que sentido então o termo metafísico se aplicaria ao darwinismo?
  • Ferreira conclui:
    • Em nenhum momento de sua discussão, Popper exclui a teoria da evolução do campo da ciência. Embora considerando sua crítica inválida em muitos pontos, mesmo que a assumíssemos in totum, o darwinismo subsistiria como um programa de pesquisa inestimável, segundo o próprio Popper. [...] A crítica do autor à teoria não questiona os dados advindos da paleontologia de que houve uma vasta transformação dos seres vivos ao longo da história da Terra. Popper questiona o quanto o darwinismo é capaz de explicar esse fenômeno, mas não questiona a existência do fenômeno e nem admite a explicação teísta da adaptação [...]



  • Neste artigo Bowler discute o review de Fleeming Jenkin e seus efeitos sobre Darwin e a Origem;
  • Bowler distingue as três linhas conceituais do termo "variação" utilizadas por Darwin, duas já apontadas por Jenkin e Vorzimmer e uma identificada por ele:
    • 1 - Variação causa pelas diferenças individuais as quais todos os indivíduos de uma população estão sujeitos. As diferenças são contínuas dentro de uma população, ou seja, existe um máximo e um mínimo de variação para cada caratcerística e os indíviduos estão distribuídos entre os extremos, característica curva de Gauss utilizada hoje;
    • 2 - Variação causada por mutação ("sports" no original), indíviduos sozinhos com mutações que os distinguem do resto da população;
    • 3 - Proposta por Bowler, variação aplicada a diferenças pequenas na estrutura, abrangendo o mesmo fênomedo causado pelo primeiro conceito, porém, neste caso, apenas uma parte da população possui a variação;
  • Bowler afirma que o terceiro tipo é o único suscetível as críticas de "Swamping" feitas por Jenkin;  
  • Bowler sumariza:
    • First, we have seen that throughout his career Darwin used a mechanism of natural selection based on the permanent existence of a continuous range of variation within any population, a mechanism valid even within the context of blending heredity. Second, as early as 1844 he began to speak of small variations as single deviations from the norm, and, by the time he wrote the Origin of Species, this mode of description had become quite common in his work. In 1859 he did not always consider these variants as rare, and this alternative view was still capable of providing a valid mechanism of selection. However, Darwin was driven by occasional bouts of pessimism to introduce a few remarks implying that such variants were indeed quite rare, and this part of his theory was vulnerable to the swamping argument, a vulnerability which was eventually driven home to him by Fleeming Jenkin. After reading Jenkin's review, Darwin not only rejected rare variants as the raw material of selection, but also tended to abandon the attempt to represent small variations as individual events, whether common or rare. This left him with the range concept, which automatically implied that favoured individuals must exist in considerable numbers within any population. The significance of these developments is evident. There can be no doubt that by adopting the third concept of variation Darwin considerably improved his ability to describe natural selection, and he may even have found it easier to deal with major difficulties such as the appearance of new organs. When he finally abandoned single variations he certainly did not have to give up natural selection itself, but it may well be that Jenkin's attack was one of the factors which encouraged him to admit that alternative mechanisms of evolution have also had some effect.


  • Artigo entitulado "A Ciência e a Razão nas Histórias em Quadrinhos" de Ivan Carlos Andrade de Oliveira, presente no livro "As Histórias em Quadrinhos no Brasil" organizado por Calazans;
  • Neste artigo, Oliveira faz uma análise da ciência representada nos Quadrinhos em duas obras de épocas muito distintas, uma é Flash Gordon (dos anos 50) e a outra é Watchmen (anos 80). Acredito que as comparações desses quadrinhos com elementos da história da ciência são fantásticas;
  • Primeiramente há a análise de Flash Gordon, gibi da década de 1950, que mostra a ciência em sua face positivista e como fonte de iluminação e avanço social, a ciência mítica totalmente racional do iluminismo e do positivismo. A vela no escuro de Thomas Ady. Oliveira fundamenta essa concepção de ciência em Comte.
  • Em seguida a comparação da visão de ciência presente em Watchmen, um quadrinho muito mais denso e complexo, no qual a ciência é vista como uma faca de dois gumes, possibilitanto o avanço da sociedade ao mesmo tempo que abre portas pra milhares de perigos, dentre eles, a guerra atômica;
  • Oliveira faz uma análise longa do personagem Dr. Manhattan, de Watchmen, comparando-o ao "Demônio de Laplace", uma vez que o personagem é onisciente e determinista. No entanto, conforme o desenvolver do enredo, o Demônio de Laplace entra em embate com o Demônio de Maxwell, indeterminista, personificado, segundo Oliveira, por Ozimandias. O encontro entre ambos leva a queda da ideia Laplaciana de um futuro fixo, uma vez que o Demônio é enganado;
  • O artigo, portanto, faz uma análise relativamente aprofundada da história da ciência, com foco em sua crise pós segunda guerra, utilizando quadrinhos como estudo de caso. O autor passa pela ciência ingênua e capaz apenas de fazer o bem, como representada nas histórias de Flash Gordon, até a desilusão e desespero gerado pela Guerra Fria nos anos 1980, como representado em Watchmen, HQ que também discute os conceitos de determinismo científico, elaborado por Oliveira em sua análise; 

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