BLOCH, Apologia da História. INTRODUÇÃO

INTRODUÇÃO. Apologia da História, ou O Ofício do Historiador (2001 [original francês de 1949]). Traduzido por André Telles.

"Papai, então me explica para que serve a história."

  • Confrontado com um questionamento acerca da legitimidade da história, Bloch põe-se a explicar em linguagem simples suas ideias acerca da prática historiográfica, em direta oposição às correntes vigentes até então (isto é, o positivismo e o historicismo).
  • O autor questiona-se inicialmente com relação ao dispêndio de tempo e energia no ato de se fazer história, e se esse dispêndio não poderia ser melhor empregado de outra maneira, em seguida pergunta, "o que, precisamente, torna legítimo um esforço intelectual?"
  • Bloch conclui que a história deveria ter o direito de perscrutar suas fontes sem nenhum interesse em especial, mas que só alcança sua legitimidade enquanto campo de conhecimento na medida que explica e conecta os fenômenos racional e inteligivelmente. Contudo, espera-se de qualquer ciência que torne a vida do homem melhor, ainda mais se espera de uma ciência que tem o homem como objeto de estudo.
    • "O problema da utilidade da história, no sentido estrito, no sentido 'pragmático' da palavra útil, não se confunde com o de sua legitimidade, propriamente intelectual. Este, a propósito, só poderá vir em segundo lugar: para agir sensatamente, não será preciso compreender em primeiro lugar? Mas sob a pena de não responder senão pela metade às sugestões mais imperiosas do senso comum, este problema tampouco será elucidado.
  • Bloch afirma querer mostar como e por que um historiador faz o que faz, e deixar a cargo do leitor se é válido fazê-lo. Afirma que a história é algo em movimento e diz: "Limitar-se a descrever uma ciência tal qual é feita será sempre traí-la um pouco. É mais importante dizer como ela espera ser capaz de progressivamente ser feita."
  • Bloch descreve a história como em constante marcha e muito jovem, por isso em constante conflito com o método. Em seguida passa a criticar o empirismo da escola positivista:
    • "As gerações que vieram logo antes da nossa, nas últimas décadas do século XIX e até os primeiros anos do XX, viveram como alucinadas por uma imagem muito rígida, uma imagem verdadeiramente comtiana das ciências do mundo físico. Ao estender ao conjunto das aquisições do espírito esse prestigioso esquema, parecia-lhes então não existir conhecimento autêntico que não devesse desembocar em demonstrações incontinenti irrefutáveis, em certezas formuladas sob o aspecto de leis imperiosamente universais. Esta era uma opinião praticamente unânime."
  • Essa visão gerou duas tendências contrátrias
    • A primeira é originária de Durkheim e tenta estabelecer a história empirista e portanto alheia ao homem. Segundo Bloch, essa visão permitiu uma aproximação dos problemas históricos e uma sofisticação dos pensamentos sobre eles.
    • Os segundos, frustrados por não incluir a história nos moldes da física e pelas frequentes críticas documentais não viam perspectiva de progresso. Não viam nela conhecimento científico, mas um "exercício de higiene benéfico à saúde do espírito".

  • Bloch, no entanto, anuncia o fim dos ideiais científicos positivistas:
    • "Ora, nossa atmosfera mental não é mais a mesma. A teoria cinética dos gases, a mecânica einsteiniana, a teoria dos quanta alteraram profundamente a noção que ainda ontem qualquer um formava sobre a ciência. Não a diminuíram. Mas a flexibilizaram. Com certeza, substituíram, em muitos pontos, o infinitamente provável, o rigorosamente mensurável pela noção da eterna relatividade da medida. Sua ação foi sentida até mesmo pelos inumeráveis espíritos — devo, infelizmente, colocar-me entre eles — aos quais as fraquezas de sua inteligência ou de sua formação proíbem de seguir, se não de muito longe e de certo modo por reflexo, essa grande metamorfose. Estamos portanto agora bem melhor preparados para admitir que, mesmo sem se mostrar capaz de demonstrações euclidianas ou de imutáveis leis de repetição, um conhecimento possa contudo pretender ao nome de científico. Aceitamos muito mais facilmente fazer da certeza e do universalismo uma questão de grau. Não sentimos mais a obrigação de buscar impor a todos os objetos do conhecimento um modelo intelectual uniforme, inspirado nas ciências da natureza física, uma vez que até nelas esse gabarito deixou de ser integralmente aplicado. Não sabemos ainda muito bem o que um dia serão as ciências do homem. Sabemos que para existirem — mesmo continuando, evidentemente, a obedecer às regras fundamentais da razão —, não precisarão renunciar à sua originalidade, nem ter vergonha dela."
  • A Introdução termina com outro conceito caro ao autor, a interdisciplinaridade e capacidade associação de conhecimentos necessárias para que a prática historiográfica possa ser compreendida.

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