Collins e Pinch, O Golem (1993). Cap. 1

"The personality of science is neither that of a chivalrous knight nor that of a pitiless juggernaut. What, then, is science? Science is a golem [...] It is powerful. It grows a little more powerful every day. It will follow orders, do your work, and protect you from the ever threatening enemy. But it is clumsy and dangerous. Without control, a golem may destroy its masters with its flailing vigour."

CAPÍTULO UM - Conhecimento comestível.

  • Neste primeiro capítulo Collins e Pinch discutem o caso da transferência de memória entre organismos que causou grande celeuma entre um grupo de cientistas nas décadas de 1960 e 1970.
  • Inicialmente, McConnell treinou planárias com eletrochoques e exposições a luz com o intuito de gerar um reflexo condicionado. Se a planária fosse cortada ao meio as duas metades regeneradas "lembravam-se" do treinamento.
  • McConnell sugeriu que a memória poderia ser guardada em forma química e iniciou experimentos no qual alimentava planárias canibais com planárias treinadas. Ele descobriu uma correlação entre o treinamento e a alimentação.
  • Vários argumentos foram feitos contra McConnell:
    • Transplante vs. transferência química: Opositores disseram que as planárias não digeriam o alimento, mas simplismente implantavam os pedaços que ingeriam em seu próprio corpo. McConnell focou-se na "substância de memória", chegando a injetar RNA em planárias.
    • Sensibilização vs. treinamento: Alguns disseram que os vermes não tinham sido treinados, apenas que sua sensibilidade a qualquer estímulo havia sido aumentado. Collins e Pinch afirmam que um simples controle de choques em ordem aleatória resolveria isso. McConnell afirmava que havia diferença considerável entre os dois casos e afimou que os resultados eram diretamente relacionados à prática dos experimentadores.
      • Os autores do livro detalham a discussão entre "ad horcery" e "skill". Ad hoc, pois o argumento destina toda a responsabilidade a alguns técnicos que são capazes de realizar o treinamento o que soa, querendo ou não, como fraude. Entretanto eles também atestam a existência de tais experimentadores em laboratórios.
    • Variáveis confusas e replicação: Os grupos opositores começaram a questionar diversas variáveis dos experimentos. Os autores sumarizam:
      • All these arguments take time, and it is not always clear to everyone exactly what has been established at any point. This is one of the reasons why controversies drag on for so long when the logic of the experiment requires a large number of trials and a statistical analysis. The levels of the final effects are usually low so it is not always clear just what has been proved.
      • The greater the number of potential variables, the harder it is to decide whether one experiment really replicates the conditions of another.
    • Argumento da especificidade: A ideia de moléculas específicas para determinados comportamentos ou treinamentos era difícil de ser aceita. Preferia-se a ideia de que a molécula, se existisse, representaria o estado geral do animal. Isso destruiria o sonho da pílula química da transferência de conhecimento.
    • Alguns também diziam que não importava se isso acontecia ou não com planárias, uma vez que eles eram muito pouco complexas em relação a mamíferos.
  • McConnell, espirituoso, fundou uma revista científica para publicar seus resultados e se defender de críticas. Infelizmente a revista publicava piadas e cartuns além de auxiliar estudantes secundaristas. Erodindo a credibilidade do cientista. Os autores dizem:
    • In the competition between scientific claims, the manner of presentation is just as important as the content. (Relaciona-se com Gross, Harmon e Reidy)
  • Após algum tempo a discussão se elevou da transferência de memória em planárias para mamíferos. Abaixo, as falas de um cientista que apresentou os resultados da transferência entre mamíferos.

  • Ungar realizou diversos experimentos de transferência com ratos. Suas contas resultam em dezenas de replicações em outros laboratórios. Os autores dizem:
    • This is a good point at which to note a feature of science that is often misunderstood. The sheer number and weight of experimental replications is not usually enough to persuade the scientific community to believe in some unorthodox finding. In this case, for example, a single one of the negative experiments, carried out by a number of influential scientists, outweighed the far larger number of positive results. Scientists have to have grounds for believing the result of an experiment - and this is quite reasonable given, as we demonstrate throughout the book, the skill involved. Scientists will demand better grounds where an experiment produces more unorthodox results; one might say they start with grounds for not believing. Again, among the sorts of grounds people look for in deciding whether or not to believe a result are the scientist's reputation and the respectability of his or her institution. This, of course, militates still more strongly against the unorthodox. Ungar's figures show clearly that experimental replication is not a straightforward business and neither are the conclusions that scientists draw from replications.
    • Em outras palavras, um cientista que afirma absurdos (para os outros cientistas) é culpado até provado inocente.
  • Os experimentos de Ungar envolviam milhares de ratos e muito dinheiro, de modo que ninguém tinha interesse em reproduzir sua pesquisa, tampouco era possível realizar chegar a resultados negativos. Quando Ungar faleceu, sua pesquisa (e a controvérsia) foram enterradas com ele. Como dizem os autores: "Like many controversies, it ended with a whimper rather than a bang." e  "[...] it just ceased to occupy scientific imagination."
  • Um de seus aritos foi publicado na Nature com um parecer de Walter Stewart duas vezes maior. Para mais informações sobre Stewart ver Pracontal (2004), pp. 200-202.
Esta controvérsia foi famosa o suficiente para aparecer em um quadrinho do gibi A Saga do Monstro do Pântano #21 (1984), escrito por Alan Moore:


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