Collins e Pinch, O Golem (1993). Cap. 3

"It is our image of science which needs changing, not the way science is conducted."

CAPÍTULO TRÊS - O Sol em um tubo de ensaio: A história da fusão fria.
PRACONTAL, A impostura científica em dez lições. 2004. pp. 137-151.
  • Em 23 de março de 1989, Pons e Fleischmann (P&F) anunciaram, em uma coletiva de imprensa, que desenvolvido um mecanismo de fusão fria. Collin e Pinch afirmam que ambos haviam constuído uma reputação com hipóteses de alto risco.
  • O mecanismo constitia em uma célula de eletrólise. Um frasco de água pesada (com átomos de deutério), cátodo de paládio e um ânodo de platina. O sal condutor era deuteróxido de lítio. Os átomos de hidrogênio pesado se fundiriam em hélio, resultando em energia, calor, subprodutos nucleares e traços de trítio, ou hidrogênio superpesado. Segundo Collins e Pinch, o raciocínio deles era o seguinte:
    • "It is known that palladium has a surprising ability to absorb vast quantities of hydrogen. If a piece of palladium is 'charged' with as much hydrogen as it can absorb, then the pressure inside the crystal lattice dramatically increases. Perhaps at such high pressures the normal barrier of positive charge (known as the Coulomb barrier) preventing nuclei coming together to fuse would be overcome."
  • Este caso é notável pelo uso de meios não convencionais de informação. Após o anúncio, em uma coletiva de imprensa, não por meio de um artigo, os cientistas que queriam replicar o evento utilizaram-se de emails, televisão, faxes até que fossem conseguidas cópias piratas do artigo. Tudo isso no espaço de duas semanas. Collins e Pinch afirmam:
    • "It was 'science by press conference' as scientists queued up to announce their latest findings and predictions to the media."
  • Resultados positivos começaram a pipocar para, em seguida, serem desacreditados:
    • "It transpired that Georgia Tech had made a mistake; their neutron detector turned out to be heat sensitive. The Texas A&M excess heat measurements were explained away by an improperly earthed temperature sensitive device. Groups at MIT and national laboratories such as Lawrence Livermore and Oak Ridge were not yet seeing anything. Pons and Fleischmann's paper was mysteriously withdrawn from Nature. Congress decided to put the $25 million on hold."
  • Na década de 1920, Paneth e Peters, motivados pela o embargo de hélio americano para a Alemanha, utilizaram células de fusão parecidas para produzir hélio. O resultado inicial foi positivo, porém eles descobriram que o hélio detectado na verdade era um contaminante, publicados na Nature em 1926 e a 1927. 
  • John Tandberg, também em 1927, havia tentado patentear um mecanismo de produção de hélio por eletrólise da água (água comum, neste caso) muito semelhante ao de P&F. Na década de 1930, após o descobrimento do deutério, Tandberg tentou novamente, Collins e Pinch afirmam que "parace que ele teve algum sucesse, pelo menos quanto a produção de hélio."
  • Embora P&F afirmassem desconhecer esse histórico, a revista New Scientist afirma que Fleischmann e Paneth estiveram no mesmo departamento de química nos anos 1950.
  • O grupo de pesquisa de Jones também havia pesquisado algo semelhante, porém com resultados e apresentação muito mais moderados que os de P&F. Jones havia iniciado alguns experimentos com relação a fusão em 1982 e tomou conhecimento do trabalho de P&F em 1988, enquanto revisava a proposta deles a pedido do Departamento de Energia americano. Collins e Pinch afirmam: "Tendo em vista o óbvio retorno comercial que poderia resultar da fusão fria e a proteção de patentes necessária alguma rivalidade e suspeita surgiu entre os dois grupos. Exatamente o que foi acordado em relação a uma publicação conjunta de seus resultados ainda não está claro."
  • Collins e Pinch afirmam que P&F esperavam que Jones segurasse sua publicação por  até 18 meses, de modo que eles pudessem revisar as mensurações de neutrons que serviriam como explicação para a origem do excesso de energia. Collins e Pinch dizem:
    • "It was these hastily carried out measurements which were later to be challenged by the MIT group; they turned out to be the Achilles heel in the Utah body."
  • Os autores também dizem que os responsáveis pela controvérsia foram P&F, uma vez que os resultados de Jones eram muito menos sensacionalistas, "se não fosse por Pons e Fleischmann, Steve Jones teria queitamente esbalecido um fato interessante sobre o mundo natural: fusão de pequenas quantidades de deutério no paládio." Um eco pode ser encontrado em Pracontal:
    • "Mas imaginem que a probabilidade de encontro entre os núcleos de deutério seja fortemente aumentada por causa das colisões especiais que reinam no eletrodo de paládio. É o que segeriam Pons e Fleischmann, e os pesquisadores se lançaram sobre essa pista sedutora. Passado o tempo, parece evidente que, sem o lance econômico e sobretudo sem o papel da mída, a notoriedade de Martin Fleischmann e Stanley Pons jamais teria ultrapassado o círculo dos gênios desconhecidos da eletroquímica."
  • Pracontal ainda da mais foco a questão de prioridade entre Jones e P&F. Jones tinha diversas provas e documentos registrados em cartório que atestavam que seus experimentos haviam começado em maio de 1986, enquanto P&F só conseguiam comprovar seu ofício até 1987.
  • Collins e Pinch falam do histórico de fraudes nesta questão:
    • "Part of the scepticism came from fusion researchers being only too familiar with grandiose claims for breakthroughs which shortly afterwards turn out to be incorrect. There had been many such episodes in the history of the field and thus fusion scientists were wary of extravagant claims. For them, solving the world's energy problemas via a breakthrough in fusion had about as much chance of being true as the perennial claims to have superseded Einstein's theory of relativity."
  • P&F realizaram medições de neutrons questionáveis, o excesso de calor registrado significaria que a quantidade de radiação liberada os teria matado. P&F decidiram medir o trítio, uma estratégia que foi muito contestada pelos físicos uma vez que o trítio é um contaminante do deutério. Os autores e seus proponentes justificavam resultados negativos dizendo que os experimentos não estavam sendo feitos corretamente.
    • "As in other controversies what was taken by most people to be a 'knockdown' negative result turns out, on closer examination, to be itself subject to be the same kind of ambiguities as the results it claims to demolish."
  • Um dos problemas desta controvérsia foi a falta de detalhes provindos de P&F. Collins e Pinch explicam que isso podia ser uma precaução com relação à patente, a periculosidade do experimento e a produção de trítio (um componente das bombas H).
  • Douglas Morrison, um físico e especialista em fraudes, inicia uma Newsletter no fim de março, por qual circulou grande parte das informações sobre o caso. Embora Morisson tenha começado otimista, logo passou a condenar os resultados de P&F.
  • Collins e Pinch sumarizam:
    • "It has been suggested that the affair has involved in fraud [...] The impasse between proponents and critics, an impasse made worse by each side accusing the other of 'unscientific' behaviour, is typical of scientific controversies. The critics cite a preponderance of negative results as grounds to dismiss the controversial phenomenon and any residual positive results are explained away as incompetence, delusion or even fraud.
    • The proponents, on the other hand, account for the negative results as having arisen from the failure to reproduce exactly the same conditions as used to obtain positive results. Experiments alone do not seem capable of settling the issue."
  • Algumas outras questões importantes: a fusão fria era considerada uma impossibilidade teórica; P&F não tinham credibilidade como físicos, apenas como eletroquímicos, especialmente demonstrado pela sua inexperiência com a mensuração dos neutrons;
  • Antes da publicação de abril, no dia 28 de março, segundo Pracontal, o manuscrito aparecia com um pico de energia a 2,5 MeV para identificar a liberação de neutrons quando o valor deveria ser 2,2 MeV, significando que o aparelho de medição talvez estivesse alterado. Numa segunda conferência e consequentemente no artigo que foi publicado, o valor apareceu corrigido. Collins e Pinch afirmam que "se as duas versões surgiram de uma maquiagem ou de erros genuínos e dúvida sobre o que havia sido medido antes é incerto." Pracontal é incisivo em usa acusação de fraude. Geralmente atribui-se a uma fraude, entretanto os autores afirma que é necessário ter cuidado para não considerar os experimentos dos críticos como decisivos e corretos, uma vez que são tão sujeitos a ambiguidades quanto seus opositores.
  • O artigo final de P&F era na maior parte voltado para a calorimetria, no entanto os físicos estavem interessados nos neutrons que deviam explicar o calor liberado, além disso, os problemas de medição anteriores serviram para erodir a competência de P&F aos olhos dos físicos.
  • Collins e Pinch concluem que, embora este caso seja utilizado para demonstrar o que há derrado com a ciência de hoje (utilização da mídia e supervalorização dos dados), a controvéria mostra a ciência na realidade, pois P&F agiram de acordo com suas expectativas em relação aos resultados obtidos e que "a segurança de patentes e a fanfarra das conferências de imprensa são partes inescapáveis da ciência moderna, na qual o reconhecimento de instituição e o financiamento são cada vez mais importantes."
  • Pracontal ainda narra o caso judicial ocorrido após o calor da controvérsia. Em 1993, P&F e alguns aliados processaram o jornal La Repubblica, pois os havia acusado de fraude. O tribunal julgou que:
    • "[...] Pons e Fleischmann cometeram erros indiscutíveis. Eles tinham omitido qualquer referência aos trabalhos de Jones, tinham apresentado a fusão fria como se fossem os primeiros a ter essa ideia e afirmavam ter começado [...] por volta de setembro de 1983 [...] Mas, no total, Pons e Fleischmann, não podiam produzir nenhuma prova antes de 1987. Jones por seu lado, tinha 2.400 páginas de argumentos e um caderno de laboratório registrado em cartório. [A questão da manipulação de dados também foi levantada] [...] Finalmente, o tribunal italiano pronunciou em 1996 um veredito dando razão a La Repubblica, e condenou os queixosos ao pagamento das custas."
  • Pracontal fala com mais detalhes de Morrison, listando os "milagres" necessários para que P&F estivessem certos: 1) a estrutura cristalina do deutério impede que eles se fundam, mesmo dentro do paládio; 2) Resolver as contradições entre a fusão fria com hidrogênio pesado e leve (utilizado como controle por P&F); 3) Se a quantidade de energia produzida fosse verídica a quantidade de radiação liberada teria sido letal para os pesquisadores; 4) As proporções de subprodutos nucleares não batem com o que é esperado. (Veja aqui o texto original de Morrison).
LINHA DO TEMPO ELABORADA POR MIM SOBRE O CASO: https://time.graphics/pt/line/252559

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