Kragh, IX - Anachronical and diachronical history of science


  • História anacrônica é o estudo do passado de acordo com os conhecimentos do presente, visa entender o seu desenvolvimento até o presente. Ideal para avaliar acontecimentos em relação com o presente. Fatos científicos e teorias são tidos como universais. Em muitos casos é necessária, pois questões de pesquisa interessantes podem ser respondidas, "de maneira geral, perguntas porque-não não tem lugar em uma historiografia puramente diacrônica".
  • O estudo diacrônico visa estudar o passado levando em conta apenas seu contexto imediato. Ideal para avaliar acontecimentos em seu contexto. Uma história puramente diacrônica torna-se descritiva, inacessível e pouco relacionada com o presente (chega-se ao ponto de uma discussão anti-anti-whig). Kragh afirma que a história diacrônica deve ser um ideal, uma vez que "o historiador não pode se divorciar de sua própria época e não pode evitar completamente o uso de padrões contemporâneas". Diacronismo puro não serve ao propósito pedagógico da história, pois falha na comunicação com o público leigo e tende a ser uma história descritivista sem explicações próprias:
    • The historian of biology, D.Hull, has pointed out that distortions cannot be automatically avoided by 'forgetting the present' or by pretending that present knowledge does not exist. Instead of carrying out this play-acting, the historian ought to admit that in many cases he has knowledge of the received judgements of history and openly use this admission to prevent proper anachronisms and at the same time render his studies understandable and of interest to a modern public.
  • A história anacrônica tem tendência de ser escrita ao contrário, ocasionando certa teleologia.
  • Bachelard é contra o historicismo, a crença de que o presente é o fim de uma linha temporal contínua, mas acredita que a história da ciência deve se relacionar com o presente para ser interessante (chama de HCC tópica). Ele chama de "história recorrente" a reflexão não-teleológica ativa sobre a ciência do passado em relação a ciência do presente, é uma teoria anacrônica pois valida a ciência do passado a partir da validade da ciência presente, mas não continuista ou teleológica. A visão de Bachelard envolve dois tipos de história:
    • História obsoleta: A história dos pensamentos impensáveis na racionalidade contemporânea.
    • História sancionada: História dos pensamentos sempre tópicos ou possivelmente tópicos quando avaliados sob os termos da ciência contemporânea. Aqui atua a história recorrente.
  • A história da ciência anacrônica é relacionada ao whigismo, criticado por Butterfield. Kragh discute as falhas do da história anacrônica whig.
    • 1. Avaliação e concessão de status. Seleção de fenômenos que parecem pioneiros segundo o estado do nosso conhecimento contemporâneo e descrição como se estivessem mesmo discutindo os conceitos como os entendemos hoje e fossem parte de um movimento inexorável em direção a ciência contemporânea.
    • 2. Formalização. Materiais históricos podem ser modernizados, traduzidos ou formalizados segundo nossos critérios contemporâneos. Se não houver grande mudança conceitual não há problemas. É função do historiador comunicar o passado para o público de agora, mas modernizações descuidadas levam a sérias distorções anacrônicas (Newton não formulou sua lei na forma de uma equação, por exemplo, e seu conceito de força seria melhor traduzido hoje como "momentum". Cohen acredita que essa dissonância só pode ser percebida diacrônicamente). [IMPORTANTE PARA A TESE].
    • 3. Coerência e racionalidade. Assume-se que cientistas foram racionais e coerentes em seus documentos, mas isso não é necessariamente verdade. Quando confrontado com a falta de um desses princípios o historiador pode: 1) aceitar que o ator não foi coerente; 2) assume-se que a atitude era racional no contexto estudado; 3) tenta-se resolver a coerência a partir de mais estudo, se não for possível o protocolo 1 é assumido.
      • Skinner acredita que atitudes do tipo 2 forçam raciocínios no ator sem documentação adequada. Cria-se a "mitologia da coerência". A crítica de Skinner resulta de uma concepção purista diacrônica na qual os eventos estudados não tem relação com o presente, importando apenas a intenção do ator em seu contexto. Kragh acredita que uma ênfase diacrônica forte leva a uma história fragmentada e que a intenção do ator é uma parte da equação, uma vez que a recepção de suas ideias também é importante. Sobre a mitologia da coerência, o cientista deve estar aberto a assumir que não entendeu o texto ao invés de apontar a irracionalidade do autor sem reflexão. Kragh ainda distingue a "suposição de coerência" e o "dogma de coerência":
        • A distinction should be made between the assumption of coherence and the dogma of coherence. While the latter invariably leads to bad historiography, the former can be a fruitful strategy when properly used. One should furthermore distinguish between the anachronical case, in which clarity is judged by modern standards, and the diachronical case, in which the assumption is defended without use being made of hindsight. Surely the historian is entitled to clarify obscure passages if he can justify the clarification by means of independent evidence. But he should not rule out the possibility that the text might, in fact, be obscure.
        • 4. Antecipação. Há um interesse por ideias ou cientistas tidos como precursores de uma determinada teoria posterior. Essa ideia se torna problemática se se atribui clarividência ao objeto estudado ou se teorias posteriores são forçadas nesses precursores. É comum que protocolos descritos em 3 sejam pensadas com antecipação em mente. A conexão entre o precursor e o contemporâneo é de responsabilidade do historiador, portanto subjetiva. Existem alguns casos bem definidos por Sandler:
          • I. P, na mesma tradição de N, formulou o conceito de maneira incompleta ou não foi reconhecido na época, mas realmente influenciou N. Não é problemática, mas quase não pode ser considerada antecipação;
          • II. P pode influenciar N sendo de uma tradição diferente (economia influenciando biologia, por exemplo);
          • III. P pode ser um precursor contra sua própria vontade. P pode desaprovar o uso de suas ideias em N.
          • IV. N pode não ter conhecimento de P, neste caso não há relação além daquela proposta pelo historiador.
          • V. No caso de N predizer P, não é mais caso de antecipação e sim de predição propriamente dita.
      • Para Sandler, a avaliação de antecipação é relativa. Cientistas raramente incluem II, III e IV em antecipação, mas podem ser heuristicamente interessantes para os historiadores. Antecipação historiográfica se relaciona com a invariância e continuidade da HCC, se HCC é vista de maneira contínua e conservativa a busca por precursores é central para o historiador. O método de apresentação como uma sequência de pequenas mudanças é chamado de "técnica da emergência" e aparece em Duhem.
      • Kragh sumariza:
        • The objections that can be raised against strict diachronism does not imply that the historian is forced to look at the past with modern science as his starting point. Neither should they be taken as support of relativist or presentist historiography in its extreme form. At least to some extent, the diachronical perspective is able to supply history with a measure of objectivity that does not depend on time or fashions. As a methodological guide and an antidote to the pitfalls of Whig history, the diachronical ideal is indispens- able.
        • We conclude that in practice the historian is not confronted with a choice between a diachronical or an anachronical perspective. Usually both elements should be present, their relative weights depending on the particular subject being investigated and the purpose of the investigation. The historian of science has to be a person with the head of a Janus who, at the same time, is able to respect the conflicting diachronical and anachronical points of view.

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