Alfonso-Goldfarb


O que é: História da Ciência (1994)
  • HC dividida em três fases: 1) HC como justificativa - Antiguidade; 2) como crônica (glorificação e registro) vai do XVII ao XX; e 3) crítica da segunda metade do século XX até agora.

  • Europa quatrocentista era um caldeirão cultural no qual a retomada do conhecimento clássico (a partir de traduções do grego e do árabe para o latim) permitiu redescorbetas e possibilitou a crítica dos saberes tradicional e novo. A expansão européia e acumulação de novos conhecimentos se auxiliavam mutuamente. A Ciência surge como forma de organizar esses saberes.

  • Paracelso é discutido como um exemplo de "antigo não tão antigo". Rompeu com a medicina humorística de Galeno e Avicena. Paracelso prefere o conhecimento empírico e tem a Bíblia como livro-guia infalível. Se na medicina tradicional temos a doença como um desiquilíbrio interno curada pelo princípio dos contrários, Paracelso postula a doença como afecção externa que deve ser curada através do princípio dos semelhantes.

  • HC durante esses séculos servia para justificar os trabalhos como continuações de uma tradição de pesquisa, atualizando ou corrigindo questões pontuais do conhecimento tradicional (conforme visto em Vesalius e Agricola). Entretanto

    • "A história da ciência, do conhecimento e da filosofia dos clássicos não haviam servido, na Europa cristã, para falar ou justificar a transformação de coisa alguma no conhecimento: eram a própria ciência, o próprio conhecimento." (p. 28)
  • Durante o medievo, a cristianização "forçada" de ideias clássicas (notadamente Aristóteles) e a fixação da Bíblia como texto inquestionável levaram a problemas quanto a originalidade das teses dessa época. Entretanto não eram completos ignorantes como os Iluministas fizeram parecer.
  • O caráter de lei inviolável das ideias aristotélicas e bíblicas impedia a reformulação dos conhecimentos naturais, como a medicina e astronomia. Daí a ideia de revolução científica na qual poucos iluminados eram capazes de desafiar essas leis.
  • Os primeiros renascentistas seguiam os greco-romanos muito de perto, transferindo a infalibilidade da bíblia para eles, mas a desconexão desses textos milenares para com a sociedade européia e o acúmulo de novos conhecimentos revelou tais texto não poderiam ser perfeitos. Um exemplo é Copérnico e seu modelo (1473-1543):
    • "Esse modelo de cosmos heliocêntrico (com o Sol no centro) onde a Terra se movimentava - que até hoje é o modelo de nosso sistema planetário, embora não mais do universo - já não fora aceito na Grécia antiga. E, na época de Copérnico, foi um choque que provocou muita polêmica e fez com que a maioria dos que quisessem falar de novidades sobre este tema passassem ao lado dos modernos. Assim, Copérnico, um superantigo, porque queria corrigir aqueles clássicos que, no entender dele, não haviam usado corretamente as normas clássicas, acabou sendo um exemplo para os modernos." (p. 41).
  • A HC também apareceu como modo de justificativa para os modernos que:
    • "[...] tiveram que se justificar, convencer aos demais (e às vezes a si próprios) que suas teorias valiam a pena. Uma das maneiras foi usar a História (mas claro que uma História diferente da que usavam os antigos), criando assim sua perspectiva de História de Ciência." (p. 38)
  • Entre os séculos XVI e XVII, marcou o início da modernidade, com Galileu e Kepler que não se aliavam aos clássicos, e promoveram "o princípio do fim de uma História da Ciência que ajudou a justificar a própria ciência." A história da ciência moderna focada no futuro era menos histórica e mais filosófica além de um apêndice da ciência ao invés de fazer parte da História. 
  • A partir do século XVI surge a HC como proselitismo e propaganda junto com os experimentos populares e reuniões para divulgação científica (por exemplo Gilbert e Pascal). HC do futuro, quase ficção científica.
  • Bacon, no início do século XVII, afirma que os filósofos eram aranhas que tecem teias de pensamento sem base do mundo natural, os artesãos eram formigas que extraem o material da natureza mas não o processam para produzir conhecimento e cientistas deveriam ser abelhas que extraem o material da natureza e o processam transformando em mel, isto é, conhecimento. As ciências deveriam ser específicas para entender os processos naturais distintos. Assim, a história natural  (soma das histórias específicas desvendadas pela ciência com objetivo de prosperidade) era a única que deveria existir. É a HC cronista, contando o desenvolvimento de cada assunto (limitado temporalmente a uma ou duas gerações para trás) e do progresso geral da ciência.
  • Descartes (1596-1650) é um oponente de Bacon ao preferir a razão (dedutiva) ao empirismo (indutivo).
  • Química rompe com a medicina, Aristóteles e Paracelso. Evidencia outro tipo de HC: a de comparar o progresso moderno com a suposta ignorância do passado. Mecanicismo como ideia de progresso científico perfeito dispensa até a história.

  • A filosofia experimental ganha força contra a história natural mais descritiva do que teórica.

  • No fim do século XVIII inicia-se a grande influência do positivismo de Comte, que coloca a ciência a como destino final do desenvolvimento humano (sendo o cume do desenvolvimento do conhecimento religioso seguido do filosófico). Comte ainda traça um estatuto científico para todas as ciências. A especialização dos cientistas promove a crença de que só o especialista de cada área é capaz de narrar sua história (mesmo sendo despreparado em questões históricas ou filosóficas). Exceções são Berthelot, Mach e Duhem.

  • Agora na contemporaneidade, após as críticas à história pedigree (que busca precursores para uma linha teleológica de desenvolvimento) e a institucionalização da HC vemos uma forma de criticar as ideias sobre o desenvolvimento científico que abarcam também conhecimentos antes descartados como ciência (tidos como erros ou atrasos), chamados anteriormente de pseudociência, protociência ou préciência. Surge a HC externalista, o oposto da internalista, que procurava entender as influências sociais do processo científico. Bachelard propõe a ideia de avanço descontínuo ao invés do progresso teleológico do conhecimento que repercute em Koyré e Kuhn. A HC vai para os estudos históricos agindo como um exemplo de campo interdisciplinar.

  • A HC tem usos importantes no ensino, política científica, museus e para os próprios cientistas (desde que estejam dispostos a ouvir).

Comentários

  1. Maravilha, Pedro!
    Bom saber por onde você tem navegado...
    Abreijos e há braços,
    Cristina

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    1. Obrigado Cris! Aqui está um pouco abandonado mas esse foi um texto obrigatório do GP do GHTC e deixei minhas notas aqui.

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