Popper - A miséria do historicismo; Reynolds (1999); Souza (2021)

 

Nota histórica.

Tese central: o historicismo (a ideia de que é possível prever o destino histórico com base no crescimento do conhecimento humano) é impossível.

Prefácio

O presente livro critica o historicismo, mas não o refuta. A refutação é:

1: O curso da história humana é fortemente influenciada pelo crescimento do conhecimento humano.

2: Não é possível prever científica ou racionalmente a expansão do conhecimento.

Minha prova consiste em evidenciar que nenhum previsor científico – seja um homem de ciência ou máquina de calcular – tem como antecipar, utilizando métodos científicos, os resultados que futuramente alcançará. Tentativas em tal sentido só dão resultado após o evento, quando já é demasiado tarde para uma previsão; só dão resultado quando a previsão do futuro se faz previsão do passado. 5

3: Logo não é possível prever a história.

4: Logo não pode haver uma teoria científica do desenvolvimento histórico que gere previsões, não pode haver história teórica da mesma forma como há física teórica.

5: Portanto, o historicismo é inválido.

Refuta apenas a possibilidade de prever desenvolvimentos históricos ligados ao conhecimento. Outros tipos de testes sociais e econômicos não são aderessados.


INTRODUÇÃO

Ciências naturais e sociais andavam juntas até Galileu e Newton, e depois Pasteur, avançaram muito a primeira.

[Pasteur galileu da biologia??? 7]

Wundt tentou copiar a física na Psicologia e Mill e outros para as CC Sociais. De maneira geral, isso não deu certo.

[menos sucedidas segundo quem??? 7]

Duas escolas historicistas: Naturalistas ou positivistas favoráveis à aplicação dos métodos da física nas CCs sociais e antinaturalistas ou negativistas que se opõem.

O fato de um estudioso dos métodos aderir a doutrinas antinaturalísticas ou naturalísticas, ou adotar uma teoria que as combine, dependerá largamente das concepções que tenha acerca do caráter da ciência em exame e acerca de seu objeto. E a atitude que assuma estará também na dependência da maneira, como veja os métodos da Física. Creio, aliás, que este último ponto seja o de maior importância. Julgo que os erros fundamentais possíveis de apontar na maioria dos debates relativos a questões metodológicas nascem de mal-entendidos muito comuns a propósito dos métodos da Física. Julgo, em particular, que nascem do interpretar mal a forma lógica das teorias físicas, dos métodos de submetê-las a teste e dá função lógica da experimentação e da observação. 7

Historicismo seria um método aplicável a CC sociais com o objetivo de promover predições históricas.


I - Historicismo antinaturalista

Leis universais como as da física não são aplicáveis às peculiaridades da sociedade. Embora existam regularidades elas não são imutáveis ou necessárias. Uma teoria social baseada em leis seria "negadora de que a sociedade se desenvolve; ou de que sempre se altera significativamente; ou de que os avanços sociais, ocorrendo, afetam as regularidades básicas da vida social"  (10). Haveria um propósito apologético de conformismo nessas teorias, não se pode escapar do que já foi escrito. Em contrapartida, a ideia de que a sociade é modificada realmente e perceptivelmente pela atividade humana favorece o grupo de ativistas (aqueles que são contra a inação).

Experimentação seria impossível na sociologia. A contigência temporal e o isolamento necessário limitam sua utilidade e eficácia. Os experimentos feitos são interativos, modificadores e irreprodutíveis.

Existe novidade, ao contrário da física que só rearranja partes conhecidas. Todo acontecimento novo é integrado pelo aprendizado da sociedade, impossibilitando que a história se repita ipsis literis. Assim, os acontecimentos nunca são os mesmos, tudo sempre é novo embora semelhante ao antigo. Eles podem ser reconhecidos em termos de causa e efeito ou descritos em leis, mas nada garante que aquela situação se repetirá.

Sociologia é muito mais complexa que física, uma vez que impassível de isolamento e fundamentada em outras disciplinas (psicologia>bio>fis e quim). Mesmo que existissem padrões e repetições talvez fosse impossível nota-los ante a essa complexidade.

Previsões exatas seriam impossíveis. Saber o futuro modificaria o presente, levando a um novo futuro.

A indeterminação entre observador e observado, já presente nas ccs naturais, é muito maior nas sociais onde há ampla interação entre os dois. Uma previsão pode causar um evento ou evitar que ele aconteça; "O próprio fato de que seus pronunciamentos exercem influência destrói-lhes a objetividade" (15). A busca pela verdade daria lugar ao relativismo nesse contexto.

CC sociais são holítisticas e emergentes, não atomistas. Assume uma teoria organica das estruturas sociais.

As cc sociais operam por meio da compreensão intuitiva. Possui três varientes: 1) quando um evento é compreendido segundo as forças que o provocaram. "O método da Sociologia é, aqui, encarado como uma reconstrução imaginativa de atividades racionais ou irracionais, orientadas para certos fins" (17); 2) Além da orientação teleologica designada anteriormente, também deve ser compreendido o sentido e a significação, "para compreender a vida social, importa ir além da mera análise de causas e efeitos factuais, isto é, de motivos, interesses e reações provocados pelas ações: importa enxergar cada evento como desempenhando um papel característico dentro do todo. O evento ganha significação por exercer influência sobre o todo, sendo, pois, sua significação determinada, até certo ponto, pelo todo" (18); 3) Somado a primeira e a segunda, faz uso da análise por tendências históricas e aqui aparece a aplicação de inferência por analogia de um período para o outro, sem deixar de lado as diferenças entre eles.

Conflito quantitativo qualitativo. É impossível descrever quantitativamente os agentes responsáveis pelos movimentos sociológicos, logo é a formulação de leis causais matemáticas é bastante limitada.

Conflito nomnalista essencialista. Nominalistas metodológicos veem a ciencia como descritivista e fazem constantes reavaliações, atualizações e mudanças no significado dos termos empregados, uma vez que são apenas rótulos descritivos (mais comum nas cc naturais). Os essencialismo metodológico prega que a ciência deve chegar na essência das coisas universais e imutáveis designadas pelos termos, e é comum tanto na abordagem antinaturalista quanto naturalista das cc sociais. As mudanças preconizadas pelo historicismo ocorrem nas características das entidades sem afetar suas essências, fundamenta a escolha pelo método histórico ao sugerir que a essêcnia só pode ser vista conforme há mudança.

"O essencialismo metodológico pode, nesses termos, basear-se no argumento historicista que levou Platão a seu essencialismo metafísico, ou seja, no argumento heraclitiano de que as coisas mutáveis desafiam uma descrição racional. Conseqüentemente, a ciência há de supor algo que não se altere, mas permaneça idêntico a si mesmo – a essência. História, isto é, descrição de mudança, e essência, isto é, aquilo que se conserva imutável durante a mudança, aqui aparecem como conceitos correlativos. Essa correlação apresenta, porém, outro aspecto: em certo sentido, a essência também pressupõe alteração e, portanto, história. Com efeito, se o princípio de um algo que permanece idêntico ou imutável, quando a coisa se altera, é sua essência (ou idéia, ou forma, ou natureza, ou substância), então as alterações que a coisa sofre fazem emergir diferentes lados, ou facetas, ou possibilidades da coisa e, portanto, de sua essência. Em tais termos, a essência é interpretada como a soma ou a fonte das potencialidades inerentes à coisa, enquanto as alterações (ou movimentos) surgem como efetivação, ou concretização, de ocultas potencialidades de sua essência. (Essa teoria se deve a Aristóteles.) Segue-se, pois, que uma coisa, isto é, sua essência imutável, só pode ser conhecida através das transformações que sofre. Se, por exemplo, desejarmos certificar-nos de que algo é feito de ouro, teremos de analisar esse algo, ou submetê-lo a testes químicos, alterando-o e, assim, desvelando suas potencialidades ocultas. Analogamente, a essência de um homem – sua personalidade – só pode ser conhecida na medida em que se patenteie em sua biografia. Aplicando esse princípio à Sociologia, chegaremos à conclusão de que a essência ou real caráter de um grupo social só se desvela e é conhecido através de sua história. Ora, se os grupos sociais só podem ser conhecidos através de sua história, os conceitos usados para descrevê-los terão de ser conceitos históricos. Efetivamente, conceitos sociológicos tais como o de Estado japonês, de Nação italiana, de Raça ariana, dificilmente podem ser entendidos como outra coisa que não conceitos baseados no estudo da História. O mesmo vale para as classes sociais: a burguesia, por exemplo, só pode ser definida por sua história – em termos de classe que alcançou o poder com a Revolução Industrial, que afastou os grandes senhores de terras, que luta contra o proletariado e é por ele combatida, etc." 24-5 


II - Historicismo naturalista

1)     Embora, o historicismo seja fundamentalmente anti-naturalístico, Popper concorda com a ideia de que os historicistas, de um modo geral,  consideram que a sociologia como a física é um ramo do conhecimento ao mesmo tempo teórico e empírico? Explique.  

Proposição de que as ccs sociais devem ser teóricas e empíricas, ou seja, fundamentadas em fatos observáveis e capaz de explicar e prever eventos.

2)     Na seção 11, qual é a visão das doutrinas anti-naturalistas  do  historicismo sobre as   previsões a curto prazo e a longo prazo  na sociologia de acordo com  Popper e qual é a posição dele a esse respeito?  

As ccs sociais podem fazer previsões de largo escopo, previsões de longo prazo não exatas.

Para  historicismo a sociologia é historia teorética. A base observacional da sociologia são registros históricos a partir dos quais ela fica habilitada em produzir previsões de largo escopo.

3)     Na seção 13, qual é a posição de Popper em relação à analogia entre as ciências sociais e astronomia feita pelos historicistas?

Há um parelelo entre a dinâmica física e social para o historicsimo. Da mesma forma que a dinâmica é o estudo das forças (e suas interações) que causam mudança, a sociologia deveria analisar as forças históricas para chegar a causa das mudanças.

4)     Qual seria a diferença entre leis históricas e leis da astronomia, por exemplo? (seções 14 e 15). 

Para o historicismo, existem leis históricas, mas elas não são generalizáveis. Desse modo, leis mais contigentes do que necessárias são ocorrem dentro de períodos históricos, enquanto as únicas leis universalmente válidas seriam aquelas que ligam períodos sucessivos.

...

A sociologia seria capaz de fazer previsões do futuro com menos resolução. Há dois tipos de previsões científicas sob o ponto de vista pragmático: proféticas (inevitável) e tecnológicas (engenhável). Os historicistas, por rejeitarem a experimentação, aliam-se as profecias e ficam contra a engenharia social (criação de instituições intervenidoras nos movimentos socias consideradas possíveis por alguns historicistas e impossíveis por outros).

Para os historicistas a sociologia é história teorética, voltando-se para o passado e para o futuro e edeveria estudar as forças em jogo para fazer encontrar e fazer previsões segundo as leis históricas universais. A tentativa de controle por engenharia social é impossível devido a característica irracional, multifatorial, transformativa e inovativa que dá forma as mudanças sociais ao longo da história.

 O ativismo, contanto, mesmo que seja ináplicavel conforme planejado vindo a existir apenas após a modificação com o meio, pode ser guiado pelos racioncínio científico. O historicistas visa interpretar o passado para predizer o futuro. A racionalidade do ativismo se dá segundo as previsões científicas. Se para o naturalismo a sociadade nunca muda, para o historicista ela muda seguindo uma predestinação. O fatalismo volta-se contra o historicismo, uma vez que é impossível impedir ou mudar a ordem dos acontecimentos por vir.

5)     Quais os principais pontos que Popper aborda na seção 18 (Conclusão da análise)? 

Conclui divorciando o ativismo otimista do historicismo. Afirmando que as críticas ao primeiro não são necessariamente críticas ao segundo. Fala ainda da teoria moral historicistas: "a mais razoável atitude é, dessa forma, a de ajustar o sistema de valores adotado para afeiçoá-lo às transformações que se avizinham [...] o moralmente bom é o moralmente progressista, ou seja, o moralmente bom é o que se coloca adiante de seu tempo, conformando-se aos padrões de conduta que serão aceitos em um tempo que virá". Esse seria um desdobramento filosófico do contexto metodológico abordado nesse livro.


III - Crítica das doutrinas antinaturalísticas

Embora a ciência pura seja válida, é importante que a ciência lide com problemas práticos que a estimule ou retarde para seu progresso. Pasteur colocou isso para a Biologia e Hayek entre outros para a Economia, as outras ciências sociais carecem disso frente a falta de resultados. Problemas práticos também são necessários para o desenvolvimente e refinmanento dos métodos, desenvolver métodos sem partir do prático, da tentativa e erro, faz com que a metodologia se torne fútil. Os historicistas se propõem a fazerem um estudo prático das ccs sociais "esperançosos de que poderão transformar a ciência social, graças ao emprego de métodos historicistas, em poderoso instrumento a serviço dos políticos 37", popper afirma que o historicismo é um método pobre e estéril.

Os métodos bem sucedidos para Popper são os de tecnologia da ação gradual (enfoque tecnológico das CS), "Grande parte do desenvolvimento das Ciências Sociais se deveu à crítica feita a propostas de melhoria social, ou, antes, à crítica feita a tentativas de saber se uma particular ação econômica ou política produziria o resultado esperado ou desejado" 37, o gradual vem, portanto, de correção gradual. Os problemas sociais podem ser públicos ou privados. O enfoque prático não implica na exclusão dos problemas teóricos, mas o enfoque prático impõe disciplina sobre a especulação que poderia ser levada a metafísica e força a adoção de teses práticos (buscar um Galileu ou Pasteur, ao invés de um Newton ou Darwin). Popper concorda na luta contra o cientismo, mas acredita que a analogia entre as Cc naturais e Sociais ainda é valida. Popper diz que esses métodos favorecem atitudes ativistas, mas ele afirma que a abordagem tecnológica é neutra e que o antiintervencionismo é resultado de uma abordagem tecnológica já que "uma a tarefa característica de qualquer tecnologia é a de apontar aquilo que não pode ser concretizado." Isso decorre pq as leis naturais podem ser expressas em negativas do que pode acontecer. Nas CS elas seriam as leis ou hipóteses sociológicas.

Engenharia social gradual é a aplicaação da teconlogia de ação gradual e Se afasta do historicismo por entender os fins como algo situado além da tecnologia enquanto o histicismo acredita que os fins das atividades humanas ainda são dependentes de forças históricas. Embora a maioria das instituições socias seja espontânea e não planejada o tecnológo as ve como meios para um fim, máquinas para alcançar resultados. Os resultados poderão ser estudados "E, assim, caminhará passo a passo, comparando cuidadosamente os resultados esperados aos conseguidos, sempre alerta para as inevitáveis conseqüências indesejáveis de qualquer reforma; e não se empenhará em reformas cuja complexidade e alcance torne-lhe impossível distinguir as causas dos efeitos e avaliar, exatamente, o que está fazendo. 41". Em contraposição, há a engenharia social holista ou utópica. Ela é sempre pública, estatizante e voltada a remodelação de toda a sociedade a partir do controle das forças históricas. Os holistas rejeitam a ação gradual por acharem na muito tímida, embora na prática a utilizem devido aos contratempos que encontram pelo caminho, assim, pragmaticamente, a eng gradual é mais bem planejada. O holista tem fixo que a reforma deve ser completa, enquanto o gradualista não, assim ele rejeita certas hipoteses a priori de maneira não científica e busca a alteração do próprio homem para chegar a seus objetivos, ele ainda foge de testes a sua teoria sendo portanto não científico. De fato há um paradoxo na associação entre eng social e historicismo:

"Trata-se de aliança algo estranha, pois, como vimos (seção 15), chocam-se claramente a abordagem própria do historicista e a própria do engenheiro social ou do tecnologista – se por Engenharia social entendermos a criação de instituições sociais segundo planos estabelecidos. Do ponto de vista do historicismo, a abordagem historicista é tão profundamente oposta a qualquer tipo de Engenharia social quanto é oposta à abordagem do meteorologista à do mágico provocador de chuvas; por isso mesmo, a Engenharia social (ainda quando adota a abordagem da ação gradual) tem sido atacada pelos historicistas e considerada utópica29. Apesar disso, vemos o historicismo aliar-se, muitas vezes, a idéias típicas da Engenharia social, holista ou utópica, tais como a idéia de “diretrizes para uma nova ordem” ou de “planejamento centralizado”. 44

Ambos historicismo e utopismo visam a sociedade como um tudo ao invés da materialidade da vida humana, acreditam que seus propósitos não são de escolha ou decisão moral, mas podem ser descobertos cientificamente nesses campos, adota-se uma moral historicismo e uma cultura de planejamento frente a inevitabilidade da mudança histórica por vir. Conclui:

"Tocados pela inspiração historicista, esses autores censuram os seus oponentes, dizendo-os mentalmente em atraso, e acreditam que a tarefa mais importante a desempenhar é a de “romper os velhos hábitos de pensamento e encontrar novas chaves para a compreensão de um mundo que se transforma”32. Asseveram que as tendências da transformação social “não poderão ser eficazmente influenciadas ou alteradas” enquanto não abandonarmos a abordagem da ação gradual ou o espírito de “alcançar êxito em meio à confusão”. Cabe, entretanto, colocar em dúvida que essa nova “reflexão em torno do nível de planejamento”33 seja tão nova quanto pretende, pois, aparentemente, o holismo foi característico de antiqüíssima forma de pensamento, inaugurada por Platão. Pessoalmente, creio procedente entender que a maneira holista de pensar (a propósito da “sociedade” ou a propósito da “natureza”), longe de corresponder a um alto nível ou a um último estágio do evolver do pensamento, é típica do estágio pré-científico." 45

Todo na teoria holista, pode ser " (a) a totalidade das propriedades ou dos aspectos de uma coisa e, especialmente, a totalidade das relações que unem suas partes constitutivas; e (b) especiais aspectos ou propriedades da coisa em tela, a saber, aqueles que a fazem apresentar-se como estrutura organizada e. não como “simples amontoados” 45". O segundo são passíveis de estudo cientpificos como os da Gestalt, mas o primeiro não pois é impossível estudar algo integralmente, uma vez que toda descrição é seletiva. Segundo Popper, historicistas holistas tendem a não distinguir os dois.

Não há base prática para experimentos ou planejamentos utopistas, eles não possuem base científica. O utopista e o historicista concordam que "um experimento social (se possível) só terá validade quando realizado em escala holística 49" Popper diz que essa concepção n leva em consideração os experimentos graduais e que os experimentos holísticos pouco contribuem na soma do conhecimento, a não ser que o conceito de experimento seja redefinido. Segundo Popper, os experimentos seriam sofisticados cada vez mais seguindo seu processo de progresso científico.

"O historicista sustenta que método experimental é inaplicável às Ciências Sociais porque não podemos reproduzir, no campo da sociedade, condições experimentais de acordo com o que desejamos. 53" Contudo, condições similares dependem do experimento, uma vez que é impossível decidir a priori quais condições realmente afetam o experimento. Assim 

"As diferenças mais claras com as quais o historicista tanto se preocupa, ou seja, as diferenças entre as condições prevalecentes em períodos históricos diversos, não criam qualquer dificuldade especial para as Ciências Sociais [...] serão os experimentos que nos levarão a descobrir a transformação ocorrida nas condições sociais; os experimentos é que nos ensinarão que as condições sociais variam com os períodos históricos [...] Dito de outro modo, a doutrina da existência de diferenças entre períodos históricos, longe de tornar impossíveis os experimentos sociais, não passa de uma expressão do pressuposto de que, se nos transportarmos para outro período, poderemos continuar a realizar experimentos graduais, mas com resultados surpreendentes ou desanimadores" 54

Para Popper, os experimentos sociais não seriam tão alterados em outros períodos e a crença de que sim seria parte de  uma hsiteria historicista ou obsessão em relação a mudança social. Assim, Popper acredita que não há base para acreditar que a variabilidade das condições históricas inutilize o método experimental, nem que as CS sejam fundamentalmente distintas das Ccs naturais. A distinção principal é que o sociologo tem bem menos poder sobre suas variáveis.

Popper é contra o indutivismo e acredita que a teoria vem antes da observação, dando sentido a esta última. Os resultados influenciam na reformulação da teoria que sempre é provisória. Popper diz que as contingências que regulam as observações sociais segundo os historicistam também estão presentes, em até maior grau, nas ccs naturais. Assim, nas ccs naturais nunca foi necessário isolamento total para a realização de experimentos e colheita de resultados. A mudança dos homens frente a mudança da sociedade seria igual a mudança dos elétrons frente a campos magnéticos, conssonante as leis vigentes. O mesmo vale para a universalidade das leis, que não sabemos serem universais nas ccs naturais tbm. Faz uma crítica as leis nas ccs naturais?


IV - Crítica das doutrinas naturalísticas

Em comum com as antinaturalísticas: holismo, ideia errada do método científico, são cientificistas. Ccs sociais buscam a lei de evolução da sociedade se aliando ao naturalismo de comtwe Mill e Darwin. 

A chamada hipótese evolutiva é uma explicação de numerosas observações biológicas e paleontológicas (e.g., de certas similaridades entre vários gêneros e várias espécies), feita com base no pressuposto de uma ancestralidade comum de formas relacionadas62. Essa hipótese não tem o status de lei universal, embora algumas leis universais da natureza, como as leis de hereditariedade, segregação e mutação, acompanhem a hipótese, na explicação em que se traduz. A hipótese tem, melhor dizendo, o caráter de um enunciado histórico particular (singular, ou específico). (Tem, a rigor, o mesmo status do enunciado histórico “Charles Darwin e Francis Galton possuíam um mesmo ancestral” – ambos eram netos de uma dada pessoa.) O fato de a hipótese evolutiva não ser uma lei natural universal63, mas um enunciado histórico particular (ou, mais precisamente, um enunciado histórico singular) acerca dos antepassados de vários animais e de várias plantas terrestres, vê-se freqüentemente obscurecido pelo fato de o termo “hipótese” ser usualmente utilizado para caracterizar o status de leis universais da natureza. Não olvidemos, porém, que o termo também é empregado, com freqüência, em sentido diverso. Exemplificando, seria perfeitamente correto descrever como hipótese um diagnóstico médico, embora essa hipótese tenha caráter histórico e singular, e não caráter de lei universal. Dito de outra maneira: o fato de que todas as leis da natureza são hipóteses não deve contribuir para que olvidemos que nem todas as hipóteses são leis – e que, em particular, as hipóteses históricas são, em geral, enunciados singulares (não universais) a respeito de um evento individualizado ou de um grupo de eventos individualizados. 

 Existe uma lei de evolução? Pode haver uma lei científica no sentido pretendido por T. H. Huxley quando ele escreveu: “(...) deve ser apenas meio filósofo aquele que (...) duvida de a ciência, mais cedo ou mais tarde, (...) vir a englobar a lei da evolução das formas orgânicas – a ordem invariável da grande cadeia de causas e efeitos (...) cujos elos são todas as formas orgânicas, passadas e presentes (...)”?64 

Creio que a resposta a essa pergunta deve ser “Não” e que a busca da lei da ordem invariável, na evolução, está impossibilitada de ver-se abrangida pelo escopo do método científico, seja em Biologia, seja em Sociologia. As razões que sustentam minha crença são muito simples. A evolução da vida na Terra (como a evolução da sociedade humana) é um processo histórico peculiar. Esse processo – podemos admiti-lo tem lugar em consonância com todos os tipos de leis causais, como, digamos, as leis da mecânica, da Química, da hereditariedade e da segregação, da seleção natural, e assim por diante. Sua descrição, entretanto, não é uma lei, mas apenas um enunciado histórico singular. As leis universais fazem afirmações a propósito de alguma ordem invariável, como sugere Huxley, ou seja, fazem afirmações a propósito de todos os processos de determinado tipo. Não há razão, é claro, que nos impeça, a partir de um caso particular único, de formular uma lei universal; também não há razão para supor que não possamos, se tivermos sorte, atingir uma verdade. Contudo, é óbvio que qualquer lei – seja qual for o modo que conduziu à sua formulação – deve ser submetida a testes, perante novos casos, antes de ver-se admitida no reino da ciência. Mas não podemos esperar submeter a testes uma hipótese universal, como não podemos encontrar uma lei natural aceitável, se nos confinamos à observação de um processo peculiar e único. A observação de um processo peculiar e único também não pode ajudar-nos a prever seu futuro desenvolvimento. A mais meticulosa observação de uma lagarta em desenvolvimento não nos ajuda a prever sua transformação em borboleta. Nosso argumento, aplicado à história da sociedade humana (e esse é o prisma que importa considerar aqui), foi apresentado por H. A. L. Fisher, nos termos seguintes: “O homem (...) vislumbrou, na História, uma trama, um ritmo, um padrão predeterminado (...) (Quanto a mim) só vejo uma emergência após outra (...), apenas um grande fato com respeito ao qual, por ser ele único, não há generalizações (...) 65”. 59-60

Podemos negar que o processo evolutivo é único ou afirmar que ele tem uma tendência passível de teste. A primeira se alia ao eterno retorno, que não pode ser considerado universal. A segundo resulta de mal entendidos em rerlação a aplicação da física nas sociais: "É errôneo, pois, supor que estas previsões dinâmicas, a longo prazo, relativas a um sistema estacionário, estabeleçam a possibilidade de se formularem profecias históricas de (larga escala, relativas a sistemas sociais não-estacionários" 62. Complicações semânticas com o termo movimento também. Tendências são enunciados históricos singulares, não leis.  Mill elaborou suas "leis" de progresso social como tendências na verdade.

O ponto importante é este: embora caiba admitir que qualquer sucessão real de fenômenos se manifeste em consonância com leis da natureza; releva compreender que praticamente nenhuma seqüência de digamos, três ou mais eventos concretos, causalmente associados, se manifesta segundo uma só lei natural. Se o vento balança uma árvore e a maçã de Newton cai ao solo, ninguém negará que esses acontecimentos possam ser descritos em termos de leis causais. Mas não existe uma única lei, como a da gravidade, nem mesmo um conjunto único e bem definido de leis, capaz de descrever a sucessão real, ou concreta, de eventos causalmente associados; ao lado da gravidade, seria preciso considerar as leis que explicam a pressão do vento; o movimento dos galhos das árvores; a tensão que se observa no talo que prende a maça à árvore; o que precede processos químicos provocados pelo choque, etc. É simplesmente errônea a suposição de que uma seqüência ou sucessão de eventos (desconsiderados exemplos especiais, como o do movimento pendular ou o do movimento do sistema solar) possa ser explicada por meio de uma única lei ou por qualquer conjunto definido de leis. Não existem leis de sucessão nem leis de evolução. 63-4

Tendências não servem para previsões científicas. Os esquecimento, por parte de Mill, da dependência entre tendências e condições iniciais, fazendo com que utilizem-nas como leis ou tendências incondicionais em relação ao progresso. A miséria do historicismo é uma pobreza de imaginação, pois o historicista não é capaz de imaginar uma situação na qual sua tendencia favorita seja negável.

Unidade de método entre as ccs. Método hipotético dedutivo. Explicação (problema é estabelecer condições iniciais para uma prognose), previsão (problema é deduzir a prognose a partir de leis e condições iniciais) e teste (problema é fazer testes comparativos entre as prognoses para asseverar as leis ou condições iniciais em questão). O resultado dos testes é a seleção de hipóteses que não foram falseadas por eles, portanto, mais próximas a realidade, haveria uma luta pela vida e seleção das mais aptas. Popper rejeita o indutivismo, pois acredita que sempre há uma teoria que guia a observação dos fatos, contudo afirma que é irrelevante científicamente saber como foi formada a teoria, apenas importa saber se é paasível de testes. Modelos ou construtos abstratos são frequentemente confundidos com com coisas concretas, isso acarreta nas doutrinas essencialistas, uma vez que o modelo engana se apresentando como essencia permanente, mascarando o que há por detrás dele, e seria função das ccs sociais fazer análises nominalistas dos modelos sociológicos, em termos de estudo dos indíviduos em um individualismo metodológico. Ambos as ccs naturais e sociais se uniriam metodologicamente no método hipotético dedutivo. Por esse método, as leis apenas excluem possibilidades mas não dão antecipações precisas de situações concretas. A ideia de que a sociedade é mais complexa que a física nasce de comparações erradas (entre situação sociais concretas e situações experimentais controladas) e da ideia de que os estados mentais e físicos dos entes que compões a sociedade também devam ser descritos (uma balela segundo Popper). As cc sociais seriam menos complexas devido a racionalidade (não total, mas de cada um) que opera nas relações humanas. Seria possível traçar um método zero para racionalidade e calcular os desvios. Popper reconhece que é mais díficil quantitativizar as sociais.

As cc históricas se interessem em testar enunciados singulares enquanto as teóricas leis. Leis universais e acontecimentos específicos são necessária para qualquer explicação causal, mas fora do campo das ccs teóricas as leis universais não são muito interessantes. Ora a história encara um acontecimento como passível de explicação causal, ora como acontecimento único.

Pontos positivos do historicismo:

Esse exemplo nos lembra de que há, no historicismo, alguns elementos merecedores de consideração; é ele uma reação contra o método ingênuo de interpretar a história política apenas em termos do relato de ações dos grandes tiranos e dos grandes generais. O historicista percebe, corretamente, que deve existir algo melhor que esse método. E é tal percepção que o leva à idéia de “espíritos”, – de uma época, de uma nação, de um exército –, pela qual tanto se deixa seduzir. 78

As condições de causa entretanto são muito complexas. Assim devemos escolher a história que nos interessa. Essa seleção gera construtos raramente testáveis, portanto cabe chamá-la de interpretação histórica. O hsitoricismo confunde interpretações com teorias. Deve-se ter consciencia do ponto de vista sendo adotado.

 Comte e Mill postulam leis de sucessão reduzíveis à natureza humana. Popper diz que isso não é científico pois não é falseável. Popper diz que é necessário determinar onde o progresso se deteria. Popper então propõe uma história institucional, na qual o controle das instituições impede o progresso. A objetividade científica não depende dos cientistas indíviduais, mas da empreitada toda, é disso que sociologia do conhecimento se esquece. Os mesmos problemas pelos quais passam as ccs socias são os que os fisicos passam com relação a objetividade. O fator humano irracional não deve ser reduzido como se reduz nas naturais, o método zero funciona indepententemente do psicologismo ainda dentro do individualismo. Faz contudente crítica ao psicologismo e afirma que a natureza do homem não deve e não pode ser suprimida pelas instituições até para não atrapalhar o desenvolvimento da ciencia.

 Historicistas tentam se vender como novos, e exibem um conservadorisamo inconsciente.


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PERGUNTAS

Seção 25-26
Como Popper rebate as ideias historicistas relacionadas a impossibilidade de fazer experimentações e generalizações devido a variabilidade das condições sociais?

"O historicista sustenta que método experimental é inaplicável às Ciências Sociais porque não podemos reproduzir, no campo da sociedade, condições experimentais de acordo com o que desejamos. 53" Contyudo, condições similares dependem do experimento, uma vez que é impossível decidir a priori quais condições realmente afetam o experimento. Assim 

"As diferenças mais claras com as quais o historicista tanto se preocupa, ou seja, as diferenças entre as condições prevalecentes em períodos históricos diversos, não criam qualquer dificuldade especial para as Ciências Sociais [...] serão os experimentos que nos levarão a descobrir a transformação ocorrida nas condições sociais; os experimentos é que nos ensinarão que as condições sociais variam com os períodos históricos [...] Dito de outro modo, a doutrina da existência de diferenças entre períodos históricos, longe de tornar impossíveis os experimentos sociais, não passa de uma expressão do pressuposto de que, se nos transportarmos para outro período, poderemos continuar a realizar experimentos graduais, mas com resultados surpreendentes ou desanimadores" 54

Para Popper, os experimentos sociais não seriam tão alterados em outros períodos e a crença de que sim seria parte de  uma hsiteria historicista ou obsessão em relação a mudança social. Assim, Popper acredita que não há base para acreditar que a variabilidade das condições históricas inutilize o método experimental, nem que as CS sejam fundamentalmente distintas das Ccs naturais. A distinção principal é que o sociologo tem bem menos poder sobre suas variáveis.

Popper é contra o indutivismo e acredita que a teoria vem antes da observação, dando sentido a esta última. Os resultados influenciam na reformulação da teoria que sempre é provisória. Popper diz que as contingências que regulam as observações sociais segundo os historicistam também estão presentes, em até maior grau, nas ccs naturais. Assim, nas ccs naturais nunca foi necessário isolamento total para a realização de experimentos e colheita de resultados. A mudança dos homens frente a mudança da sociedade seria igual a mudança dos elétrons frente a campos magnéticos, conssonante as leis vigentes. O mesmo vale para a universalidade das leis, que não sabemos serem universais nas ccs naturais tbm. Faz uma crítica as leis nas ccs naturais?


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Quem foi Karl Mannheim, principal historicista abordado por Popper nesse capítulo?

Sociologo hungaro, influenciado por Lukacs e Marx, mas era crítico do conceito de Ideologia e consciência de classes de Marx desde o início. Trabalhou bastante com sociologia do conhecimento (Ideologia e utopia, onde fala das condições sociais do cnhecimento). 

Mais a frente, estudou o planejamento democrático da sociedade. Em 1935 publica o livro abordado por Popper, Man and Society in a Age of Reconstruction, no qual advoga o fim do liberalismo em favor do planejamento social.


CAP 4
Seção 27. HÁ UMA LEI DA EVOLUÇÃO? LEIS E TENDÊNCIAS
Qual a diferença entre tendências e leis? E qual a relação delas com as "leis de progresso social"?
tendências não são leis. tendencias são expressas em enunciados existenciais e não universais como nas leis (enunciados que expressam impossibilidade). O enunciado portanto, depende das condições inicias de onde é feito, ele é histórico e singular. Por ser passível de mudança a qualquer momento, é impossível fazer previsões cientificas com base em tendencias. A confusão de lei e tendencia "inspirou as doutrinas nucleares do evolucionismo e do historicismo e as leis da sucessão de comte. Popper afirma: 
"nenhuma seqüência de digamos, três ou mais eventos concretos, causalmente associados, se manifesta segundo uma só lei natural [...] É simplesmente errônea a suposição de que uma seqüência ou sucessão de eventos possa ser explicada por meio de uma única lei ou por qualquer conjunto definido de leis. Não existem leis de sucessão nem leis de evolução." (exemplo da maçã) 63-64

Seção 28. O MÉTODO DA REDUÇÃO. EXPLICAÇÃO CAUSAL. PREVISÃO E PROFECIA
Qual é a miséria do historicismo descrita nessa seção?

Tendências não servem para previsões científicas. O esquecimento, por parte de Mill, da dependência entre tendências e condições iniciais, faz com que elas sejam utilizadas como leis ou tendências incondicionais em relação ao progresso. A miséria do historicismo é uma pobreza de imaginação, pois o historicista não é capaz de imaginar uma situação na qual sua tendência favorita seja negável.

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Tipos de historicismo:
  1. É necessário contexto histórico para a compreensão das coisas (historicismo mundano). Tese metodológica.
  2. Métodos próprios da história separados das ciências naturais (historicismo metodológico). Tese metodológica relacionada a Vico e Dilthey. Oriundo da natureza irreproduzível, contingente e humana dos eventos históricos. Foi debate entre Hempel e Collingwood.
  3. Existem leis gerais, ritmos e padrões na história que são usados pelas ciencias sociais para fazer predições (historicismo popperiano). Tese metodológica. Contrária a ideia anterior, mais antiga e difundida. Popper atacava Hegel e Marx, mais especialmente, e a ideia organicista de leis de desenvolvimento para povos. Reynolds acredita que Kuhn poderia entrar no balaio.
  4. Padrões de racionalidade não são fixos, mas mudam com o tempo (historicismo epistêmico). Tese epistemológica. Não existe racionalidade fixa, os critérios mudam com o passar do tempo. Não de maneira previsível mas impossibilitando a crença iluminista num critério único de racionalidade. Nomes relacionados, Comte até certo ponto, AC Crombie, Ian Hacking, Putnam, Foucault, Kuhn e Feyrabend (esses dois incomensurabilistas).
  5. Não existem valores ahistóricos, tudo é relativo ao seu período histórico e cultural (historicismo total). Tese epistemológica. Visão pósmoderna, perspectivista ou relativista da história. Enquanto na anterior "still allowed hope for a convergence to objective knowledge and styles of reasoning (cf. Hegel and Comte), this thesis draws the more radical conclusion that the very concepts of "truth", "objectivity", "reason", "scientific knowledge", etc. are merely social constructions favored by a particular culture at a particular time in history 278". Relacionado com com Rorty.

 Segue com uma crítica ao quinto tipo seguido de uma exame detalhado do trabalho de Rorty
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  • Faz uma análise do historicismo de Popper e suas relações com a historiografia. Dá mais contexto para os diálogos feitos no livro e suas motivações.

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