Sobre a martin claret

 

Funda na década de 1970 por Martin Claret. Foca em livros de bolso de dompinio publico para venda em baixo preço.


2000

FOLHA https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq0411200716.htm

Em 2000, respondendo a uma intimação judicial da Companhia das Letras, a Martin Claret reconheceu ter usado uma parte das traduções de Modesto Carone para três novelas de Kafka (1883-1924): "A Metamorfose", "Um Artista da Fome" e "Carta a Meu Pai".
Indenizou Carone e retirou de circulação o livro, que tinha como tradutores Nassetti e Torrieri Guimarães.
A nova edição, de 2007, é assinada só por Guimarães, um jornalista de 74 anos que fez várias traduções de Kafka para a editora Hemus e de outros autores para a Martin Claret.

2007

https://web.archive.org/web/20080523082905/http://www.jornalopcao.com.br/index.asp?secao=Imprensa&subsecao=Colunas&idjornal=259 Euler da França Belém.

A Martin Claret publicou A República, livro basilar de Platão, em 2001. A tradução é do “misterioso” Pietro Nassetti, mas não há referência a respeito do ponto-de-partida. Ou seja, não há nenhuma informação se a tradução foi feita a partir do original grego ou se teve como base alguma tradução inglesa, alemã ou francesa. Sobretudo em livros de filosofia, assim como de poesia, as editoras costumam fazer questão de explicitar que a tradução foi feita a partir da língua de origem. Leitores mais dedicados, principalmente professores de filosofia, certamente vão optar por uma tradução, no caso de Platão, feita diretamente do grego. Estudantes, não apenas de filosofia, preferem em geral edições mais em conta, como a da Martin Claret, que tem 320 páginas e custa apenas 10,50 reais. A edição portuguesa custa impraticáveis 87 reais.

Como se trata de edição popular, supostamente não dedicada a especialistas, embora mantenha notas de rodapé relativamente detalhadas, a tradução da Martin Claret é fluente e chamou a atenção do professor Gonçalo Armijos Palácios, do curso de Filosofia da Universidade Federal de Goiás. Ao confrontar a edição de A República da Fundação Calouste Gulbenkian (localizada em Lisboa, Portugal), celebrada pela qualidade e requinte, com a da Martin Claret, o doutor em filosofia, que sabe grego, ficou estupefato. As duas traduções eram idênticas. Ou melhor, só existia uma tradução, a da Fundação Calouste Gulbenkian. A Martin Claret é responsável por uma edição pirata (leia no box que o proprietário da editora admite a pirataria).

Maria Helena da Rocha Pereira é responsável pela tradução, notas e introdução de A República, na edição da Fundação Caloustre Gulbenkian. A versão tem como ponto de partida o grego e a primeira edição é de 1972. A versão examinada pelo Jornal Opção é a 7ª edição, de 1993. Trata-se de uma edição muito bem-cuidada. No final da introdução, Maria Helena — o que prova que se trata de uma especialista, não de uma mera tradutora (obras filosóficas costumam exigir tradutores que conheçam filosofia, senão terão de passar por uma revisão técnica acurada) — anota: "Para a versão que agora se apresenta, seguiu-se escrupulosamente o texto estabelecido por J. Burnet, no quarto volume da sua edição dos Platonis Opera para a Scriptorum Classicorum Bibliotheca, Oxford University Press, reimpressão de 1949". Maria Helena ressalva, mostrando seriedade e respeito ao trabalho alheio, que serviu-se, ao traduzir Platão, de outras versões, aparentemente do grego para o inglês. Além da detalhada introdução, a tradutora oferece uma bibliografia sobre Platão, notas detalhadas e, ao final, um "índice de assuntos principais".

O que fez a Martin Claret? A editora brasileira, que está sendo comprada por uma editora de outro país, tão-somente jogou fora o aparato crítico, a introdução, resumiu as notas e republicou, sem citar a fonte, o texto integral da versão da Fundação Caloustre Gulbenkian (na página 4, o destemido editor escreveu: “Copyright Editora Martin Claret, 2001). O "tradutor" sequer teve o cuidado de fazer as adaptações de praxe para o português escrito e falado no Brasil. Ele (um fantasma?) faz apenas mudanças ligeiras —como a troca de efectivamente por efetivamente. Observe o leitor que, no início da "versão" brasileira, da Martin Claret, tenta-se disfarçar o plágio, com uma ou duas mudanças cosméticas, mas, em seguida, não se altera uma vírgula. É possível desconfiar que não há um tradutor "brasileiro", e sim um datilógrafo brasileiro, e, provavelmente, um revisor brasileiro. O leitor poderá identificar, facilmente, que há mudanças, bem leves, só no início dos capítulos; depois, a tradução é a mesma.

O editor Martin Claret, dono da Editora Martin Claret, admite que "sua" edição de A República, de Platão, é plágio da edição da Fundação Calouste Gulbenkian. Em contato telefônico com o Jornal Opção na quarta-feira, 10, Martin Claret disse que encomendou a tradução ao italiano Pietro Nassetti e só ficou sabendo "há quatro ou cinco meses" que ele apenas "copiou" a tradução portuguesa. "O italiano Pietro Nassetti, tradutor do inglês e do italiano, faleceu há dois anos." Ele existe mesmo?, pergunta o Jornal Opção. "Ele morreu", insistiu.

Martin Claret diz que está providenciando nova tradução. "Nossa versão será feita a partir do inglês, porque fica mais barato do que traduzir do grego. Pedimos desculpas aos leitores." O editor diz que também estuda entrar em contato com a editora portuguesa, para tentar obter a autorização legal da tradução. O fato é que pode ser processado.

A Martin Claret pôs no mercado 500 títulos. "Somos uma editora de médio para pequeno porte." Ele diz que o grupo espanhol Santillana quer comprar a Martin Claret. "É impossível resistir ao assédio dos espanhóis. Eles compraram a Editora Objetiva, do Robert Feith; quem não vender pode quebrar", disse ao Jornal Opção.

BARROSO - https://web.archive.org/web/20121004141448/http://www.revista.agulha.nom.br/ibarroso3.html

a edição de "As Flores do Mal", o clássico livro de poemas de Charles Baudelaire, lançada "no verão de 2001" pela Martin Claret, de S. Paulo, em tradução ali atribuída a Pietro Nassetti, que, não se tratando de um pseudônimo de Jamil Almansur Haddad, responde certamente pelo nome de seu plagiário indecoroso, tal a maneira inequívoca com que se apropria da obra alheia.

FOLHA

https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq0411200716.htm

Quatro casos de plágio estão confirmados: edições de "Os Irmãos Karamazov", "A República", "As Flores do Mal" e de três novelas de Franz Kafka reunidas num único volume-"A Metamorfose", "Um Artista da Fome" e "Carta a Meu Pai".

Um caso menos grave é o da editora Hedra, que reconheceu notas de sua versão de "Metamorfoses", de Ovídio, nas da Martin Claret.
Como a tradução e a maioria das notas são do poeta português Bocage (1765-1805), que já está em domínio público, descartou-se medida judicial.
Suspeita-se que muitos outros livros da Martin Claret usem traduções plagiadas, já que poucos e desconhecidos nomes -como Alex Marins e Jean Melville- assinam um arco eclético de títulos.
Pietro Nassetti teria traduzido Shakespeare, Maquiavel, Descartes, Rousseau, Voltaire, Schopenhauer, Balzac, Poe e outros.
"Se esse cara trabalhasse 24 horas por dia durante 60 anos, não traduziria nem a décima parte disso", afirma o especialista Ivo Barroso.
Segundo o artigo 184 do Código Penal, os plagiadores estão sujeitos a detenção de três meses a um ano. Na área cível, podem arcar com danos morais e materiais.

FOLHA https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq0411200718.htm

Em conversa por telefone com a Folha nesta semana, Claret assumiu ter indenizado Modesto Carone por causa das traduções de Kafka: "Acertamos tudo". Reconheceu também a cópia de "A República", mas, ao contrário do que afirmara ao jornal goiano "Opção", não culpou Pietro Nassetti.
"Eu estou assumindo a responsabilidade. Se tiver que ressarcir alguém, estamos dispostos a ressarcir. Se houver um erro, estamos dispostos a corrigir. Talvez possa ter havido alguma ingenuidade nossa, falta de habilidade profissional", justifica.
Apesar dos indícios, Claret negou que sua edição de "As Flores do Mal" seja plágio: "Não houve nada". E disse "não estar a par" do caso de "Os Irmãos Karamazov".
O editor afirmou que Pietro Nassetti era o tradutor dos vários livros em que aparece seu nome. "Ele precisava, trabalhava bastante", disse Claret, pouco antes de pedir o telefone do repórter para ligar depois, o que não aconteceu.
De acordo com mensagem deixada por uma filha de Nassetti num grupo de discussões da internet, seu pai morreu em janeiro de 2005, "nunca foi um tradutor fantasma" e pode ter sido prejudicado por erros de revisão da editora. A Folha localizou outra filha, mas ela desligou o telefone enquanto o repórter falava. Foram deixados dois recados, mas não houve resposta.

2008- bottmann http://naogostodeplagio.blogspot.com/search/label/martin%20claret

exposed de krieger https://groups.google.com/g/tradnorte/c/2ryOdyBRAr0?pli=1

2009

LPM https://www.lpm.com.br/site/default.asp?TroncoID=805136&SecaoID=816261&SubsecaoID=0&Template=../artigosnoticias/user_exibir.asp&ID=828190 Bottmann aciona o ministério público

FOLHA https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq2606200906.htm

Um dos casos mais conhecidos no meio editorial agora virou caso de polícia. A pedido do Ministério Público Estadual, a polícia instaurou na última sexta-feira um inquérito contra a editora Martin Claret, por violação de direitos autorais.
A investigação está a cargo do 23º Distrito Policial, cujo titular é o delegado Luiz Antonio Ribeiro Longo -para quem ainda é prematuro fazer comentários. Os crimes sob investigação nesse caso -identificados nos artigos 184 e 186 do Código Penal- prevêem desde detenção de três meses até reclusão de quatro anos, e multa.
Seria uma pena inusitada para uma prática que infelizmente ainda é mais comum do que os leitores imaginam. A partir de denúncias publicadas nesta Folha, profissionais identificaram dezenas de novos casos suspeitos ou comprovados.
Muitas vezes a ação é feita pela utilização do trabalho intelectual de tradutores mortos, o que favorece a falta de acompanhamento -ainda que vários tradutores sejam famosos e tenham seus direitos morais e patrimoniais ainda sob guarda profissional, como o poeta gaúcho Mario Quintana. Ou então contam com a falta de vigilância oficial.

A Martin Claret, famosa pelos livros de bolso que vende em todo o país, admite que diversas traduções tem atribuição errada. Designada para responder pela editora, a advogada Maria Luiza de Freitas Valle Egea diz que a Martin Claret está "refazendo o seu catálogo, contratando tradutores para as novas publicações, e pagando os titulares dos direitos de todas as obras em que os problemas estão sendo detectados".
Segunda ela, a Martin Claret já reeditou mais de 80 títulos e fez acordos com as editoras Ediouro, 34, Hedra e com os tradutores Boris Schnaiderman e João Angelo Oliva.
Isso não impede que livros publicamente denunciados continuem sendo comercializados em grandes livrarias. A Livraria Cultura, por exemplo, uma das maiores de São Paulo, continua vendendo "As Flores do Mal", de Baudelaire, edição da Martin Claret que a Folha noticiou em 2007 ser uma tradução plagiada.
De prático, além de forçar as reedições, as denúncias abortaram a venda da Martin Claret para a editora Objetiva, associada ao grupo espanhol Prisa-Santillana, que havia anunciado sua aquisição em 2008.
Alvaro Gomes, agente que cuida dos licenciamentos da obra de Monteiro Lobato, diz que a IBEP/Companhia Editora Nacional, que detém os direitos sobre as traduções, já está negociando com a Martin Claret uma forma de ressarcimento. Há outros títulos da Companhia Editora Nacional que também teriam sido plagiados.

2010 correio braziliense http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=028274_06&pesq=hemus&pasta=ano%20201&hf=memoria.bn.br&pagfis=5214

2011 O Tempo https://www.otempo.com.br/diversao/magazine/traducoes-suspeitas-de-plagio-1.378631

Processo próximo ao fim, acordos feitos.

2012 Lindoso

http://oxisdoproblema.com.br/?p=872 - Sobre o processo com o cadastro do livro de baixo preço

Carvalho https://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/2012/08/10/livros-a-ate-r-10-um-balanco-do-programa-da-fbn-e-o-anuncio-de-nova-fase/ msm tema

2014 - Carvalho

https://revista-a.org/2014/06/04/pietro-nassetti-e-a-originalidade-da-traducao/

Diante desta lista não exaustiva de evidências, todos somos obrigados a concordar que a Martin Claret é autora de algum crime, mas ainda não sabemos precisar que crime é este e qual o seu real ônus social. Está claro que a dimensão individual do plágio, que consiste na usurpação da glória alheia para engrandecimento pessoal diante de outros homens, não pode existir no caso de Nassetti ou dos outros tradutores/usurpadores da Martin Claret, pois não há ali nenhum indivíduo para gabar-se individualmente do fruto do trabalho de outro. O crime é fruto da concorrência entre editoras e da maneira como a Martin Claret decidiu reduzir os seus custos de produção. Primeiro, elegeu apenas obras disponíveis em domínio público para explorar comercialmente. Depois, diante da realidade da legislação brasileira, que resolve o problema metafísico da tradução com a caneta, ao escrever, como simples norma, que esta se define como “criação intelectual nova” ou “criação do espírito dotada de originalidade”, dotada, portanto, dos seus próprios direitos autorais, ainda que derivada de obra previamente depositada em domínio público; diante desta realidade, pois, a Martin Claret decidiu camuflar as suas “criações de espírito dotadas de originalidade” de modo a não cometer o crime muito explicitamente. Finalmente, contando com a redução de seus custos de produção, a Martin Claret vendeu os seus livros a preços excepcionalmente baixos no mercado e foi aceita no Programa Nacional do Livro de Baixo Preço, a partir do qual vários dos seus títulos abarrotaram as estantes de mais de 2.700 bibliotecas públicas.


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