HENNIG E CIA, FILOGENÉTICA
Notas da disciplina do Eduardo. Provavelmente das aulas, não de artigos específicos. Seguido do texto final da disciplina.
HENNIG
Outra edição foi publicada em ingles 1966, mas são diferentes.
Filogenética sistemática, seria mesmo uma revolução?
Hennig não é método. Não criou ferramenta.
Táxon não é mais ancestral ou derivado, apenas os
caracteres e nós em seus estados de caráter são (isso foi maturado em Hennig,
no início não era assim).
Série de transformação – Dois caraters polarizados.
Não exisitia estado de caráters.
Heterobatimia – Não há espécies inteiramente plesio ou
apomórficos, mosaico dos estados de caráter
Holomorfia/morfologia – Todos os caracteres possíveis
dos semaforontes de uma unidade comparativa
Semaforonte – período morfológico da vida do indivíduo
para base de identificação sistemática.
Darwin respeitou seus antecedentes idealistas
morfológicos e fortaleceu as construções dele com uma explicação evolutiva. Os
arquétipos (ferramenta epistêmica) davam ideia de antecedentes, dava ideia de
comparação, mas não evolução.
Zimmerman
(1931), antecedente de Hennig: Zimmermann campaigned for the phylogenetic
method, an objective way of grouping organisms based on genealogy. He preferred
the phylogenetic method because common ancestors once existed in reality and
are not human constructs as in the case of these other two grouping methods.
Ele não foi o primeiro a pensar em árvores. Suas
árvores eram bifurcantes.
Darwin gera uma crise que só se resolve com a síntese
moderna. Houve ênfase na microevol. Em detrimento das áreas comparativas
macroevol, sistemática, embriologia, morfologia etc.
Dois pontos importantes de virada: filogenia
sistemática e evo-devo.
Hennig sobre tipologismo (similaridade morfológica
total) e idealismo (arquétipo) (não no sentido popperiano da filosofia da
ciência). Idealismo passou a se chamar similaridade geral.
O grau de relacionamento filogenético é mais
importante do que as características de cada táxon pois ele existe
independentemente da comparação dos caracteres. Não se estuda a morfologia para
entender relações, mas sim as relações para entender morfologia. Faz-se um
caminho de vai e volta ou de iluminação recíproca na qual um explica o outro
(acumulação de evidências). Essa ideia não é original de Hennig.
Filogenia não é o mesmo que relações filogenéticas (ou
seja, a proximidade dos grupos entre si). É impossível encontrar um ancestral
comum.
pontos importantes de hennig
1.
Posicionar a
sistemática na biologia.
2.
Hennig definiu
muito bem “monofilia”, como grupo que inclui todos os descendentes de um
ancestral comum
3.
Apomorfia, quase
um método de hennig. Polarização de caracteres para propósitos de sistemática.
4.
O resultado de um
estudo filogenético é uma hierarquia que permite reconhecer grupos irmãos e estudar
as relações de parentesco entre eles.
Hologenese – Rosa. Não há evidência de desonestidade
intelectual por parte de Hennig.
Relação tocogenéticas – Relações reprodutivas entre
indivíduos de uma linhagem dentro das espécies, filogeografia. Quando há
cladogênese, domínio da filogenética, cessa a tocogenia. Há ainda relações
ontogenéticas dentro de um mesmo indíviduo.
Corologia – Biogeografia
Hennig queria que a classificação fosse um retrato das
relações filogenéticas, gerando um sistema numérico impraticável.
Hennig não tinha uma prática muito replicável. Ela era
baseada na expertise do sistemata quanto ao grupo para a escolha dos caracteres
de interesse e a definição da polarização.
Hennig levou a atenção para os taxa supraespecificos.
Tipologia apenas não é o suficiente para agrupamento
sistemático.
Homologia é diferente de sinapomorfia. Homologia é um nível de comparação enquanto a sinapomorfia é um subtipo dessas comparações.
CAVALI-SFORZA E EDWARDS, MICHENER, SOKAL, CAMIN,
FARRIS, FELSENSTEIN...
A partir da década de 50 geneticistas, estatísticos e
outros se juntaram aos sistematas para discutir questões de classificação.
Fizeram as fórmulas que depois foram adaptadas para os
programas de computador. Desenvolvimento de métodos objetivos para sistemática.
Embora a subjetividade seja de certa forma inevitável, a replicabilidade podia
ser melhorada.
Sokal, Camin e Snee (taxonomia numérica) foram os mais
associados com a ideia de fenética. Numérica e se concentra na similaridade
entre OTUs. O táxon pode ser descrito por caracteres em números e assim
busca-se a holomorfia entre eles. Não é mais numérica que a cladística. Forma
grupos por meio de similaridades estatísticas. Viés pragmático.
A fenética deixou de ser aceita como um bom princípio
para discussão dos relacionamentos filogenéticos. DNA barcoding é uma distância
fenética. Produz relações de proximidade, não necessariamente filogenéticas,
foi um dos motivos para a queda da fenética (meio que ia contra Hennig).
Mayr denigriu o essencialismo e o tipologismo. Critica
o sistema de classificação de Hennig por ser muito restrito aos grupos
monofiléticos e ignorante às mudanças rápidas que alguns grupos sofrem em
relação a outros que permanecem conservados. Esse é um problema relacionado a
pesagem dos caracteres. Deve-se seguir em direção a uma replicabilidade do
processo de pesagem.
Idade não é um bom critério porque não há
comparabilidade entre grupos muito distintos.
FARRIS
Farris: feroz defensor da parcimônia. Demonstrou que a
cladística é uma forma de fenética muito melhor levando a recaída da fenética.
Reforço da objetivação da sistemática, mas não é
original dele.
Consistência estatística – Subamostra representativa extrapolável
para o todo.
Robustez – Não é aplicável ao resultado, mas sim ao
modelo estatístico.
Farris critica a fenética por não levar em conta as
relações evolutivas entre os OTUs estudados. A fenética não era robusta, pois a
adição de caracteres em uma análise modificava a análise.
Chegou independemente a mesma conclusão que Hennig
quando a justificativa para os métodos de sistemática. Entre os vários métodos
de taxonomia numérica, acreditava que a parcimônia era a melhor.
Da crédito a evolução mínima de edward e
cavali-sforza.
Pesagem de caracteres por consistência. Índice de
consistência, caracteres mais confiáveis. Levou a pesagem sucessiva.
Árvores de Wagner – Série de recomendações para
análise filogenética. Enfatizado e algoritimizado por Farris. Farris cria uma
matriz de distância que gera uma árvore de wagner, mais parcimoniosa sem necessidade
de polarização.
São insuficientes pois gera empates decididos de forma
arbitrária no caso de informação restrita na matriz de distância.
Aqui começa a ter necessidade dos outgroups para
enraizamento que determinam a monofilia das relações entre grupos.
Árvore não enraizada de agrupamentos para cada caráter
> árvore de todos os caracteres (justificativa de agrupamento de grupos por
caracteres visando aumento de homologias, menor discordância das hipóteses de
homologia=parcimônia) > Árvore de Wagner > enraizamento > rearranjo de
ramos.
Taxonomia numérica e fenética eram idênticas no
início, mas com o passar do tempo a cladística passou a ser numérica também.
Cladística mudou metodologicamente com o tempo mas sempre procurando árvores
mais, a fenética também se baseia em similaridade, mas essa similaridade pode
ser medida de maneiras diferentes. Aumentar a base de dados não resolve os
problemas de usar similaridade total.
Cladística, devido a parcimônia, foca apenas nas
apomorfias, uma vez que os restantes são ancestrais. Agrupa da mesma forma que
a fenética, mas não precisa levar em conta todas as características.
FELSENSTEIN
Felsenstein aplica a máxima de verossimilhança de
Cavali-Sforza e Edwards a sistemática. É um contraponto a parcimônia estrita de
Farris.
Desenvolve um modo de aplicar a máx vero às
classificações biológicas. A ideia já havia sido proposta.
Verossimilhança – probabilidade dos dados segundo um
modelo serem reais. Contrasta vários modelos para chegar a um resultado de
máxima verossimilhança.
Critério – O que determina a melhor resposta sobre as
relações filogenéticas (MV, parcimônia, fenética...).
Método – Como aplica-se e operacionaliza-se o
critério.
Modelo – Substituição, de cladogênese, etc... O Hennigiano,
parcimonioso, considera um número mínimo de mudanças.
Todas as propostas estatísticas (Cumin Sokal,
Cavali-Sforza Edwards) de filogenética ocorreram antes de Hennig. Ele forneceu
uma justificativa para tal.
Para Felsenstein, a parcimônia não era superior.
Na verossimilhança é necessário estimar parâmetros.
Isso é diretamente dependente da amostragem.
FARRIS
Parcimônia diminui o número de hipóteses ad hoc, ou a
quantidade de homoplasias necessárias.
Na parcimônia vemos vários caracteres dos quais somos
ignorantes e supomos não que não é possível modelar.
Princípio auxiliar hennigiano – Aceitar homologias.
Extrapolado por Farris em defesa da parcimônia.
Na verossimilhança aceita-se os não observáveis.
Putativo – Aproximação da realidade.
BRADY e BROWER
Cladismo de padrão – Não é necessário supor evolução
para análises filogenéticas. As Análises de congruência dos caracteres são
interpretadas a posteriori. Muito polêmico.
RIEPPEL
Hennig falhou em aproveitar a riqueza de seu tempo
segundo Schmitt, mas Rieppel relaciona muitas influências filosóficas.
Influência de Russel e Whitehead levaram a uma
influência na axiomatização da ciência, o círculo de Viena. Woodger é um
exemplo disso na biologia que influenciou Gregg que por sua vez influenciou
Hennig.
.....................
A prova de que o impacto da obra de Hennig foi de fato
duradouro é facilmente atestável ao ver a quantidade de disciplinas, textos e
pesquisas discutindo suas ideias, mas existe um debate quanto ao seu aspecto
revolucionário. Acredito que o cerne dessa discussão é limitado a essa palavra:
“revolução”, significando uma grande mudança em um establishment. Se o
tal establishment for científico, surgem as ideias de “revolução copernicana”,
“darwiniana” ou, neste caso, “hennigiana”.
O problema é que raramente uma quebra tão evidente em
um sistema de pensamento sobrevive a um escrutínio histórico. Quando se olha de
perto e tenta-se traçar uma história das ideias, invariavelmente descobrimos
pensadores com ideias semelhantes anteriores ou concomitantes que foram
apagados por diferentes motivos da história oficial. Seguem desse raciocínio
discreto, ao invés de contínuo, em relação ao progresso científico, muitos dos
argumentos contra um determinado “revolucionário”. Discute-se se suas ideias
são deles mesmos, quais conceitos são originais ou emprestados, se eram mesmo
grande coisa, etc.
Essa concepção é facilmente resolvida se entendermos a
ciência de maneira mais contínua, conforme Kuhn ou Lakatos, por exemplo. Hennig
de fato promoveu uma mudança de paradigma ao propor as relações filogenéticas
como justificativa para os métodos de agrupamento e classificação dos
organismos baseando-se em ideias anteriores, como as de Zimmerman, e esse
continua sendo o núcleo duro do programa de pesquisa da sistemática
filogenética. Segundo Rieppel, Hennig buscou essa axiomatização da sistemática
influenciado filosoficamente pelas ideias de Gregg e Woodger, que buscavam
aplicar a ideias do Círculo de Viena às ciências biológicas. Obviamente, nem
tudo que ele acreditava perdurou, como seu sistema de classificação pouco
prático por exemplo.
Seguindo a visão de Lakatos, não faz muito sentido
discutir se algo é revolucionário ou não, mas se o programa de pesquisa criado
ou inspirado por Hennig persiste até hoje, claro que com mudanças em seu
cinturão, é inegável que houve uma grande influência. Hennig foi parte
importante no reposicionamento da sistemática dentro da biologia, definiu
termos operacionais importantes como “monofilia” e “apomorfia” e reconheceu que
o resultado de um estudo filogenético reflete uma hierarquia que permite a
determinação de grupos irmãos e suas relações de parentesco. Claro que algumas
de suas ideias, como a iluminação recípocra, são de originalidade questionável,
mas o trabalho de síntese e redefinição de conceitos antes difusos e
desconectados também é parte da atividade científica.
De fato, como dito acima, Hennig não criou um método,
algoritmo ou ferramenta para o agrupamento e classificação dos seres vivos, mas
sim uma série de recomendações e um framework teórico que deram sentido
para essas ferramentas que estavam sendo desenvolvidas paralelamente e
independentemente a ele. Cavali-Sforza, Edwards, Sokal, Camin, entre outros, a
partir da década de 1950, desenvolveram fórmulas, futuramente aplicadas
computacionalmente, em busca métodos mais replicáveis para sistemática, uma
ciência altamente dependente da expertise do sistemata, e portanto de
sua autoridade, em relação aos organismos estudados.
O fato desses primeiros métodos numéricos (comumente
chamados de escola fenética) serem baseados apenas na holomorfia dos
caracteres, ou seja, na similaridade total entre as unidades taxonômicas
operacionais (OTU, na sigla em inglês) segundo os estados dos caracteres
determinados na matriz, foi determinante para que perdessem espaço. Uma vez
considerado o princípio filogenético de Hennig, fica evidente que a holomorfia sozinha
não gera agrupamentos verdadeiros já que não lida bem com paralelismos e
convergências comuns nas linhagens biológicas.
Farris, na década de 1970, foi fundamental para a
queda da escola fenética ao demonstrar o valor da parcimônia. Também em busca
de uma maior objetivação, Farris procurava incluir consistência estatística e
robustez nas análises sistemáticas. Ele criticava os feneticistas por não
levarem em conta as relações evolutivas entre os OTUs e a falta de robustez de
seus modelos, pois a adição de caracteres em uma análise modificava os
resultados. Dessa forma, formulou o índice de consistência para a pesagem de
caracteres.
Farris chegou independentemente a mesma conclusão que
Hennig quanto a justificativa para os métodos da sistemática. Em seguida,
apropriou-se do princípio auxiliar hennigiano e o extrapolou em defesa do critério
da parcimônia para as análises filogenéticas. No que ficou conhecida como
“escola cladística”, a parcimônia diminuía o número de hipóteses ad hoc,
ou a quantidade de homoplasias necessárias.
Na formulação desse critério, Farris deu crédito a
evolução mínima de Cavali-Sforza e Edwards além de trazer à tona e
operacionalizar matematicamente as árvores de Wagner. Ao criar uma matriz de
distância entre os OTUs, ele podia gerar uma árvore de Wagner mais parcimoniosa
sem a necessidade de polarização, ou seja, sem necessidade da expertise
do sistemata na identificação da apomorfia ou plesiomorfia dos caracteres.
A cladística mudou metodologicamente com o passar do
tempo, mas sempre em busca de árvores mais parcimoniosas, enquanto a fenética,
também baseada em similaridade, não tinha uma metodologia clara para medir
essas similaridades. Além disso, a cladística, devido a parcimônia, focava
apenas nas apomorfias, agrupando da mesma forma que a fenética, mas sem a
necessidade de explicar todos os caracteres.
Em oposição a Farris, ainda nos anos 1970, Felsenstein
foi responsável pela operacionalização da máxima verossimilhança de
Cavali-Sforza e Edwards na sistemática. Se “verossimilhança” significa a
probabilidade dos dados serem reais segundo um modelo, a máxima verossimilhança
contrasta vários modelos para chegar a um resultado com mais chance de estar
correto.
Enquanto a parcimônia assumia um modelo hennigiano,
segundo Farris, que assumia um número mínimo de mudanças seguindo a justificativa
de nossa ignorância quanto a história evolutiva, na máxima verossimilhança
aceita-se os fenômenos não observáveis, sendo possível a inclusão de modelos
putativos que expliquem melhor a mudança de caracteres ou dos pares de base de
maneira probabilística.
Felsenstein ainda identificou uma mudança profunda na
cladística, um desvio da preocupação com a classificação para uma preocupação
com a história dos caracteres e integração com outros campos de estudo. Segundo
ele, a briga entre a escola fenética que classifica por similaridade geral, a
evolutiva que classifica segundo as modificações ecomorfológicas de cada grupo
em relação a seus grupos irmãos e a filogenética que classifica por grupos
monofiléticos é irrelevante já que o que mais importa é a qualidade da hipótese
filogenética sendo estudada.
Concluindo, acredito que a mudança da sistemática com
o passar dos anos, chegando a tocar em ideias polêmicas como o cladismo de
padrão, é composta não apenas de derivações, como a justificativa para os
métodos estatísticos, e desvios, como a perda de relevância da classificação,
em relação a Hennig, mas também de apropriações de sua autoridade, como faz
Farris em defesa da parcimônia. Isso mostra que embora Hennig não seja a origem
de grande parte do que hoje lhe é atribuído, suas ideias ainda são fundamentais
para sistemática tanto prática quanto teoricamente.
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