Khronos 11 - Pereira; Valverde & Campos.



Pereira, B. S. (2021). Um Papel para a ciência : A Revolução Científica nos livros didáticos de História. Khronos, (11), 55-72. https://doi.org/10.11606/issn.2447-2158.i11p55-72 [OA]

  • Não se pretende debater a importância que história pode ter para o ensino de ciências, mas a forma como a ciência é tratada no ensino de história, um caminho pouco usual na literatura acadêmica 57
    • O tema “revolução científica” consta em nove dos dez livros analisados [...] Contudo, importante destacar que o termo “revolução cientí-fica” não aparece em todos os materiais, constando em apenas três coleções. Nas de-mais, as referências podem aparecer como transformações cientificas, renascimento ci-entífico, entre outros. No entanto, como se verá mais adiante, a mudança de nomencla-tura não implica uma mudança na forma de tratar o tema. Em oito livros o tema consta como assunto do primeiro ano do ensino médio, enquanto no que foge à regra ele é objeto do segundo ano15. Em todos eles a revolução científica está relacionada de al-guma forma ao tema “renascimento”, seja aparecendo como um subitem desse, o que ocorre na maior parte dos casos, ou sendo apresentado de maneira lateral, não como um tópico específico, mas em breves comentários em alguns boxes com imagens. 60-1
  • Hierarquização embora seja um conteúdo considerado constituinte mesmo não estando explicitamente citado nas resoluções do PNLD. As vezes enfatiza-se a continuidade entre o medievo e renascença.
  • No geral há um discurso descontinuista e "anti-religioso" repetindo mitos comuns. Mesmo que o edital utilize o anacronismo como critério de eliminação ele ainda passa sob determinadas formas.
  • Alguns qualificam as ideias de pensamento científico, verdade, etc...
    • A opção metodológica de tratar a revolução científica como um fenômeno li-gado ao renascimento associando-a, por sua vez, ao desenvolvimento econômico e a ascensão da burguesia, está longe de se apresentar como um ponto consensual entre os pesquisadores. Em um panorama sobre a discussão historiográfica do tema, Beltrán ressalta que a relação entre ciência e renascimento está no centro da divergência entre os chamados continuístas e descontinuístas. De acordo com o autor, o eixo central da vertente continuísta, que busca ressaltar continuidade entre a ciência produzida durante a Idade Média e a moderna, surge como uma espécie de contraposição à visão de Jacob Burckhart sobre o renascimento, que via nesse período uma negação da Idade Média, embora o próprio Burckhart não analisasse a ciência em particular. Ainda que não haja uma única concepção de ciência e sua formação entre os historiadores continuístas, em geral, Beltrán afirma, eles tendem buscar elementos da prática científica na Idade Média. 64-5
    • A tendência geral dos livros didáticos, contudo, é apresentar uma leitura des-continuísta da ciência, contrapondo a ciência moderna aos valores medievais, conforme foi exposto no tópico anterior. Tal vertente, importante ressaltar, também encontra um forte respaldo historiográfico, sendo defendida por pesquisadores de grande prestígio e influência, como Thomas Khun e Alexandre Koyré. O primeiro, logo na introdução de seu livro A estrutura das revoluções científicas apresenta uma forte crítica ao que chama de concepção cumulativa da história, uma vez que, segundo ele, a ciência só se desenvol-veria de maneira cumulativa nos períodos chamados de “ciência normal”, no qual os paradigmas elaborados pela comunidade científica apresentariam respostas para os prin-cipais problemas das atividades científicas. Contudo, continua o autor, existem momen-tos em que esses paradigmas não conseguem solucionar todos os problemas ciência, ocasionando em crise e podendo ser substituídos por outro paradigma incompatível com o anterior, gerando verdadeiras revoluções científicas. A ciência teria, portanto, um caráter intrinsecamente revolucionário25. 65
    • Enfase em empirismo, indução e racionalidade. O método na maioria das vezes é passado de maneira mais positivista, as vezes mais qualificado. "[...] um complexo debate não pode ser apresentado em contexto escolar como algo fechado e isento de controvérsias." 67
    • Consultando as referências bibliográficas elencadas nos livros, pode-se notar uma baixa presença de títulos que fa-zem referência à história da ciência, com alguns volumes sequer apresentando uma re-ferência da área. Entre os livros que apontam obras sobre a temática destacam-se: A revolução científica e as origens da ciência moderna, de John Henry, e Do mundo fechado ao universo infinito, de Alexandre Koyré, no livro Conexões com a História31; Ciência e vida civil no renas-cimento italiano, de Eugenio Garin, arrolado nas referências de História Global; e Descartes: A metafísica da modernidade, de Franklin Leopoldo Silva e Do novo mundo ao sistema heliocên-trico, de Luís Carlos Soares, ambos em História 1: ensino médio. Nas demais coleções as referências apresentam apenas obras que tratam o objeto de maneira secundária ou en-tão nem isso. 67
  • Maioria dos autores é historiador. Maioria mestre ou especializado. Menos da metade é doutor. Na comissão avaliadora a vasta maioria é doutor. Portanto não há distanciamento entre academia e autores, mas nenhum deles teve aproximação com HC em sua trajetória acadêmica.
  • Discute a interface hc, cc, ensino com os clássicos whitaker e Brush.
    • No que diz respeito à disciplina história, acredita-se que as mesmas considera-ções metodológicas feitas por cientistas sobre como se apresentar a história são válidas aos historiadores para como se apresentar a ciência. Caso o historiador se afilie a alguma concepção de história que preze pela pluralidade, que evite explicações monocausais, que busque relacionar aspectos econômicos, sociais e culturais na formação de sínteses explicativas e que destaque os múltiplos sujeitos agentes do processo histórico, ela de-verá submeter à ciência ao mesmo rigor com que outros temas são tratados. 69
  • Visão whigg de ciencia. Não houve grandes avanços no tratamento da HC como houve com os outros módulos da história, onde questões sociais recentes foram incluídas. Magalhães sugere o estudo de controvérsias como remediação a esse problema.
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Valverde, B. A., & Campos, C. de. (2021). Para inglês ver: A presença britânica no hemisfério sul a partir de relatos de Charles Darwin (1831-1836) . Khronos, (11), 122-139. https://doi.org/10.11606/issn.2447-2158.i11p122-139 [oa]
    • A Teoria Ator-Rede propõe uma epistemologia que busca ultrapassar a dicotomia moderna entre natureza e cultura, sujeito e objeto e que posiciona o Homem, a priori, como protagonista da ação. Assim, a definição dos atores é feita de forma relacional, a partir do papel que desempenham na situação em estudo, o que abre espaço para que artefatos sejam considerados como participantes da ação e tratados nos mesmos termos que os atores humanos9 . 235-6
    • Pratt destaca que a grande empreitada naquele momento era classificar o mundo natural, uma ambição enciclopedista permeada pela noção adâmica que associa o nomear a apropriação da natureza pelo Homem. O mundo natural ao ser sistematizado pelo Homem passava a atender a seus objetivos científicos, militares, econômicos, políticos e religiosos. Assim, as expedições se tornaram um assunto de Estado, uma expressão do imperialismo europeu e estadunidense que se voltavam, sobretudo, às novas porções territoriais abertas às expedições na América e na Oceania15 . 127
    • Tem-se então que tanto a disponibilidade, quanto o custo do serviço interferiram na remessa e, consequentemente, na relação entre Darwin e Henslow. 129
    • Apesar das contingências impostas pelos serviços de transporte e correios, é notável que ao longo de toda a viagem Darwin tenha contado com uma infraestrutura capaz de fazer circular informações e espécimes com relativa segurança. Darwin valeuse do serviço postal britânico20, que a partir de 1821 passou a dispor de paquetes com motores a vapor. A introdução da navegação a vapor é significativa, pois reduziu o tempo de viagem de forma considerável. Contudo, somente a partir de 1850 foram estabelecidas linhas regulares de paquetes a vapor entre o Brasil e a Europa, com um tempo de travessia de 28 dias, no período imediatamente anterior os paquetes a velam levavam entre 100 e 60 dias para cumprir o mesmo percurso21 . 129
    •  Quanto à ação civilizatória pela espada, é notável na América do Sul, por onde o Beagle ficou até outubro de 1835. Darwin presenciou os conflitos políticos e sociais de Brasil, Uruguai, Argentina, Chile e Peru que se constituíam como estados autônomos naquele momento. Tais conflitos em muito interessavam a Grã-Bretanha, pois representava a ruína do domínio ibérico e, como visto acima sobre a ação dos diplomatas, à oportunidade de atraí-los para sua área de influência (PASSETTI, 2014). Em muitos momentos, o Beagle não foi apenas testemunha desses conflitos, mas colocou suas armas a serviço dos interesses britânicos e/ou dos governantes locais. 133
    • A expedição chegou ao Brasil no início Período Regencial (1831-1840) após a abdicação de Dom Pedro I. Nos anos que se seguiram o Império teve sua incipiente unidade política abalada com revoltas como: Farroupilha, Cabanagem, Balaiada e Sabinada37. Os conflitos na região platina38 também foram presenciados pela expedição, [...] 133-4
    • Como vimos até aqui, o Beagle entendido com uma rede composta por uma variedade de atores (militares, armas, cartas, instrumentos de medição e navegação, cientistas, missionários, pintores, médicos, mapas e etc.) foi capaz de desempenhar suas missões: a principal - mapear o litoral da América do Sul, mas também observar e coletar espécimes, cristianizar e tomar parte de conflitos em Montevidéu e nas Malvinas. 136
    • Desta forma, concluímos que o Beagle atuou como um agente do imperialismo, que pôs em movimento diversos atores e os direcionou a fim de colaborarem com as pretensões britânicas no hemisfério Sul. 138

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