Schwarcz 1993

 



INTRODUÇÃO

  • Entre as várias transições que estavam ocorrendo no final do XIX no Brasil e no mundo "as teorias raciais se apresentavam enquianto modelo teórico viável na justificação do complicado jogo de interesses que se montava". Precisavam justificar as hierarquias vigentes. 24
  • Originalidade:
    • É na brecha desse paradoxo — no qual reside a contradição entre a aceitação da existência de diferenças humanas inatas e o elogio do cruzamento — que se acha a saída original encontrada por esses homens de ciência, que acomodaram modelos cujas decorrências teóricas eram originalmente diversas. 24
  • Do darwinismo social veio a diferença e hierarquia das raças, do evolucionimso social  o aprefeiçoamento das raças. Homens de sciencia buscavam nessas teorias estrangeiras meios de entender e  lidar com a miscegenação do país. 25
I - ENTRE 'HOMENS DE SCIENCIA'
  • Instituiçõe superiores começam a surgir no Br apartir de 1808 com a chegada da corte. As instituições buscavam reproduzir o dominio colonial. Começa a haver pessoas mais ilustradas no Brasil. Os instituos históricos buscam a criaçãi de uma memória nacional 31-3
  • Década de 1870 marca algumas viradas culturais: 1) mudança do eixo econômico do nordeste pro sudeste devido ao café e proliferação dos institutos de pesquisa e educação; 2) profissionalização dos 'ilustrados brasileiros'. 33
  • Os institutos eram os diveross museus, faculdades de direito e instituos históricos onde ocorreu o amadurecimento dos grupos intelectuais. Era difícil definir um perfil sôcioeconomico. Todos tinham posses, mas não eram aristocratas monárquicos e alguns exerciam profissões liberais. Segundo a autora "suas ações não podem ser explicadas exclusivamente por classe. 34-5
  • Três grupos, elite nordestina em decadência, elite carioca estabelecida e elite paulista em ascensção. 36
  • Ocorre a desmonte da escravidão. E iniciam-se os debates sobre imigração.
  • Modelos cientificos eram aplicados ao brasil que explicavam o atraso mas também estabeleciam inferioridade.  "Era a partir da ciência que se reconheciam diferenças e se determinavam inferioridades." 38
  • No fim do XIX havia um espírito difuso de cientismo na cultura. Ciência era sinônimo de progresso e corria meio solta dentro da sociedade. Tornava-se popular entre o povo. 39
  • Surgimento da sociologia como cmapo de pesquisa oprprio. Quebra do determinismo extrasocial por Durkheim. Nas ciencias naturais há crescente especialização dos campos de esquisa 39-40
  • Pós guerra do paraguai e relativamente estável as elites do império consumiam as ideias européias e americanas originalmente produzidas como justificativas do imperialimso.. Contudo:
    • O que se valorizava nesse momento, porém, não era tanto o avanço científico, entendido enquanto incentivo a pesquisas originais, e sim uma certa ética científica, uma “cientificidade difusa” e indiscriminada. Tanto que se consumiram mais manuais e livros de divulgação científica do que obras ou relatórios originais. A ciência penetra primeiro como “moda” e só muito tempo depois como prática e produção. 41
    • Com efeito, a moda cientificista entra no país por meio da literatura e não da ciência mais diretamente. 43
  • O próprio D Pedro II era exemplo disso. A elite cheguia junto, fundando jornais que propangadeavam teses liberalistas, darwinistas e positivistas. Na literatura isso aparecia na forma de romanaces com modoleos cientificos deterministas. Cientificismo retórico popular difuso. 41-4
    • Na saúde traduzia-se em políticas higienitas e sanitaristas e eugenia:
      • .... se é certo que o conhecimento e a aceitação desses modelos evolucionistas e darwinistas sociais por parte das elites intelectuais e políticas brasileiras traziam a sensação de proximidade com o mundo europeu e de confiança na inevitabilidade do progresso e da civilização, isso implicava, no entanto, certo mal-estar quando se tratava de aplicar tais teorias em suas considerações sobre as raças. Paradoxalmente, a introdução desse novo ideário científico expunha, também, as fragilidades e especificidades de um país já tão miscigenado. 46
    • O br era visto como "nação degenerada de raças mistas" 48
    • Aí que entram os homens de sciencia buscando progresso social mesmo que fossem de certa forma servis ao pensamento europeu.: "esses intelectuais não apenas conheceram um momento de maior visibilidade e relativa autonomia, como buscaram formular, pela primeira vez, modelos globalizantes, estudos pioneiros, na tentativa de buscar uma lógica para toda a nação." 51
      • Profundamente interessados pelas vogas literárias do período, esses intelectuais tenderam a adotar os modelos evolucionistas e em especial social-darwinistas, já bastante desacreditados no contexto europeu, que tinham como objeto central o estudo das raças e a verificação de sua contribuição singular.25 Com efeito, para esses intelectuais os modelos científicos da época significavam uma nova forma — secular, materialista e moderna — de compreensão do mundo. Por outro lado, “enquanto autodidatas, foram esses grupos mais sensíveis ao filosofismo erudito e livresco do que ao espírito da filosofia em largo senso” (Holanda, s. d.:223), consumindo sobretudo manuais e obras de divulgação, muitas vezes de escassa aceitação nos círculos europeus.26 
      • “Novos-ricos da cultura”, na feliz expressão de Antonio Candido (1988:30), esses grupos, crescentemente ligados a atividades urbanas, passarão a fazer do ecletismo e da leitura e interpretação de textos e manuais positivistas, darwinistas sociais e evolucionistas sua atividade intelectual por excelência. 
      • Sem entrar ainda nos meandros desse tipo de teoria, o que interessa destacar é que ela cumpriria um papel privilegiado no acervo de autores ecleticamente aproveitados pelos intelectuais do Segundo Reinado. Esses, de acordo com Sérgio Buarque de Holanda, tomavam várias concepções, por vezes incoerentes entre si, tal qual “elementos de campanha, que permitiam compreender e até dar soluções a problemas práticos, sobretudo sociais e políticos da condição brasileira” (s. d.:321). O que interessava não era recordar o debate original, restituir a lógica primeira dessas teorias, ou o contexto de sua produção, mas, antes, adaptar o que “combinava” — da justificação de uma espécie de hierarquia natural à comprovação da inferioridade de largos setores da população — e descartar o que de alguma maneira soava estranho, principalmente quando essas mesmas teorias tomavam como tema os “infortúnios da miscigenação”. 54
    • Cabe nos pensar a originalidade da cópia 55
    • Repete que as teorias raciais não haviam colado na europa. Seleção de textos para tradução. Germanismo de segunda ordem.
    • Tradução:
      • O ato de traduzir não se limita, portanto, a simplesmente revelar um conhecimento (Osakabe, 1979:176). A tradução implica seleção prévia de textos e escolha de certos autores em detrimento de outros. No caso, o pensamento racial europeu adotado no Brasil não parece fruto da sorte. Introduzido de forma crítica e seletiva, transforma-se em instrumento conservador e mesmo autoritário na definição de uma identidade nacional (Ventura, 1988:7) e no respaldo a hierarquias sociais já bastante cristalizadas.55
    II - DIFERENÇAS E DESIGUALDADES
    • Evolução social como paradigma pós 1870.
      • Fala das ideias de Rousseau: humanismo, perfectibilidade e bom selvagem; 58-60
      • Visão otimista do início XVIII dá lugar a uma mais negativa de inferioridade do continente americano e de suas produções vinda principlamente de Buffon. 61
      • Inrodução da degenenaração como desvio ao invés de inferioridade organizacional. 62
      • Visão humanis herdeira da Rev Francesaqe naturalizaca a igualdade humana e outra que pensava as diferenças. A segunda se popularizará no XIX.
      • Raça:
        • Com efeito, o termo raça é introduzido na literatura mais especializada em inícios do século XIX, por Georges Cuvier, inaugurando a ideia da existência de heranças físicas permanentes entre os vários grupos humanos (Stocking, 1968:29).8 Esboçava-se um projeto marcado pela diferença de atitude entre o cronista do século XVI e o naturalista do século XIX, “a quem não cabia apenas narrar, como classificar, ordenar, organizar tudo o que se encontra pelo caminho” (Sussekind, 1990:45). 
        • Delineia-se a partir de então certa reorientação intelectual, uma reação ao Iluminismo em sua visão unitária da humanidade. Tratava-se de uma investida contra os pressupostos igualitários das revoluções burguesas, cujo novo suporte intelectual concentrava-se na ideia de raça, que em tal contexto cada vez mais se aproximava da noção de povo. O discurso racial surgia, dessa maneira, como variante do debate sobre a cidadania, já que no interior desses novos modelos discorria-se mais sobre as determinações do grupo biológico do que sobre o arbítrio do indivíduo entendido como “um resultado, uma reificação dos atributos específicos da sua raça” (Galton, 1869/1988:86). 63
      • Monogenismo vs poligenismo pr[e final do XIX: Monogenismo conforme a biblia, fonte comum., humanidade como gradiente; Poligenimos, contestadores da igreja, pensavam em centros de criação. 64
      • Poligenismo favorecia  uma análise científica dos comportamentos encorajado pela frenologia, antropometria, craniologia técnica, antropologia criminal e tratamentos psiquiátricos que buscavam parear traços comportamentais das raças com caracterísitcas físicas fenotípicas. 65 Broca e o Eugenista Morton também eram dessa escola 67
        • ...enquanto os estudos antropológicos nascem diretamente vinculados às ciências físicas e biológicas, em sua interpretação poligenista, as análises etnológicas mantêm-se ligadas a uma orientação humanista e de tradição monogenista. A antropologia como disciplina se detinha, portanto, nesse momento, na análise biológica do comportamento humano, enquanto a etnologia se mantinha fiel a uma perspectiva mais filosófica e vinculada à tradição humanista de Rousseau. 66
      • Evolução enquanto paradigma
        • É somente com a publicação e divulgação de A origem das espécies, em 1859, que o embate entre poligenistas e monogenistas tende a amenizar-se. ... / 
        • De um lado, monogenistas como Quatrefage e Agassiz, satisfeitos com o suposto evolucionista da origem una da humanidade, continuaram a hierarquizar raças e povos, em função de seus diferentes níveis mentais e morais. De outro lado, porém, cientistas poligenistas, ao mesmo tempo que admitiam a existência de ancestrais comuns na pré-história, afirmavam que as espécies humanas tinham se separado havia tempo suficiente para configurarem heranças e aptidões diversas. A novidade estava, dessa forma, não só no fato de as duas interpretações assumirem o modelo evolucionista como em atribuírem ao conceito de raça uma conotação bastante original, que escapa da biologia para adentrar questões de cunho político e cultural. 
        • As máximas de Darwin transformavam-se, aos poucos, em referência obrigatória, significando uma reorientação teórica consensual. Nas palavras de Hofstadter: “se muitos descobrimentos científicos afetaram profundamente maneiras de viver, nenhum teve tal impacto em formas de pensar e crer... O darwinismo forneceu uma nova relação com a natureza e, aplicado a várias disciplinas sociais — antropologia, sociologia, história, teoria política e economia —, formou uma geração social-darwinista” (1975:3). 
        • Servindo-se de uma linguagem acessível, o livro de Darwin alcançava um público amplo, apesar do enfoque, nesse primeiro momento, estritamente biológico. “Dei o nome de seleção natural ou de persistência do mais capaz à preservação das diferenças e das variações individuais favoráveis e à eliminação das variações nocivas” (1859/1968:84), afirmava o pesquisador ao analisar mudanças operadas em espécies animais e vegetais.14
        • No entanto, não são poucas as interpretações de A origem das espécies que desviam do perfil originalmente esboçado por Charles Darwin, utilizando as propostas e conceitos básicos da obra para a análise do comportamento das sociedades humanas.15 Conceitos como “competição”, “seleção do mais forte”, “evolução” e “hereditariedade” passavam a ser aplicados aos mais variados ramos do conhecimento: na psicologia, com H. Magnus e sua teoria sobre as cores, que supunha uma hierarquia natural na organização dos matizes de cor (1877); na linguística, com Franz Bopp e sua procura das raízes comuns da linguagem (1867); na pedagogia, com os estudos do desenvolvimento infantil; na literatura naturalista, com a introdução de personagens e enredos condicionados pelas máximas deterministas da época, para não falar da sociologia evolutiva de Spencer e da história determinista de Buckle. 
        • No que se refere à esfera política, o darwinismo significou uma base de sustentação teórica para práticas de cunho bastante conservador. São conhecidos os vínculos que unem esse tipo de modelo ao imperialismo europeu, que tomou a noção de “seleção natural” como justificativa para a explicação do domínio ocidental, “mais forte e adaptado” (Hobsbawm, 1977 e 1987; Néré, 1975; Tuchman, 1990).
        • O pensamento social da época também acabará sendo influenciado por esse tipo de reflexão, reorientando-se antigos debates teóricos. Assim, enquanto a etnografia cultural adaptava a noção monogenista aos novos postulados evolucionistas,16 darwinistas sociais ressuscitavam, com nova força, as perspectivas poligenistas de inícios do século. Era preciso pensar na antiguidade da “seleção natural” e na nova realidade que se apresentava: a mestiçagem racial. 
        • Questão fundamental, a mistura de raças na versão poligenista apontava para um fenômeno recente. Os mestiços exemplificavam, segundo essa última interpretação, a diferença fundamental entre as raças e personificavam a “degeneração” que poderia advir do cruzamento de “espécies diversas”. Com respeito a essa noção, conviviam, inclusive, argumentos variados. Enquanto Broca defendia a ideia de que o mestiço, à semelhança da mula, não era fértil, teóricos deterministas como Gobineau e Le Bon advogavam interpretações opostas, lastimando a extrema fertilidade dessas populações que herdavam sempre as características mais negativas das raças em cruzamento. O certo, porém, é que a miscigenação, com a sua novidade, parecia fortalecer a tese poligenista, revelando novos desdobramentos da reflexão. As raças humanas, enquanto “espécies diversas”, deveriam ver na hibridação um fenômeno a ser evitado. 
        • Portanto, se a adaptação monogenista do darwinismo era mais imediata,17 a utilização poligenista dos populares modelos que partiam da biologia também se deu de forma intensa. Bastou minimizar a importância da origem comum e relevar as máximas deterministas, presentes na ótica darwinista, que apontavam para a importância das leis e regularidades da natureza. Para os poligenistas, seleção natural implicava pensar na degeneração social, assim como as leis da natureza chegavam aos homens de forma determinista e premonitória, sobretudo quando se tratava de pensar no impacto que a questão da raça teria sobre as diferentes experiências nacionais. Uma só teoria fundamentava, dessa forma, as diferentes interpretações das escolas, que disputavam a hegemonia na representação de sua época. 71-4
      • Cultura começou a ser visto de forma evolutiva em estudos comparativos. Buscavam aferir o ritmo de credcimenento e criar esquemas de amla aplicabilidade. Civilização e progresso como modelos universais. Estasods sucessivos necessários.. Restitupia a noção sde humanidaded  única. [me parece estar descrevendo Comte] 75-6
      • Determismos: geográfico; racial (visão pessimista da miscigenação e enaltecimento dos tipos puros). Partiam de 3 proposições: realidade das raças; continuidade entre caracteres físicos e morais levando a uma divisão entre culturas; predominânica da raça sobre o comportamente em oposição ao livre arbítrio individual. Implicou na eugenia e ideias de eliminação das raças infeirores. 77-8
        • Transformada em um movimento científico e social vigoroso a partir dos anos 1880, a eugenia cumpria metas diversas. Como ciência, ela supunha uma nova compreensão das leis da hereditariedade humana, cuja aplicação visava a produção de “nascimentos desejáveis e controlados”; enquanto movimento social, preocupava-se em promover casamentos entre determinados grupos e — talvez o mais importante — desencorajar certas uniões consideradas nocivas à sociedade.
        • O movimento de eugenia incentivou, portanto, uma administração científica e racional da hereditariedade, introduzindo novas políticas sociais de intervenção que incluíam uma deliberada seleção social (Stepan, 1991:1-2).21 
        • A eugenia não apenas representava a política social desse modelo determinista, como revelava as incompatibilidades existentes entre evolucionismo cultural e darwinismo social. Com efeito, punha-se por terra a hipótese evolucionista, que acreditava que a humanidade estava fadada à civilização, sendo que o termo degeneração tomava aos poucos o lugar antes ocupado pelo conceito de evolução, enquanto metáfora maior para explicar os caminhos e desvios do progresso ocidental.22 Para os autores darwinistas sociais, o progresso estaria restrito às sociedades “puras”, livres de um processo de miscigenação, deixando a evolução de ser entendida como obrigatória. 
        • Recortando na história mundial exemplos que reforçavam seus argumentos, esses teóricos acreditavam que o bom desenvolvimento de uma nação seria resultado, quase imediato, de sua conformação racial pura. A evolução europeia, e em especial o tipo ariano, representaria para pensadores como Gobineau um caso extremo em que o apuro racial teria levado a um caminho certo rumo à civilização.23 Já o Egito, segundo Morton (1844), teria conhecido um período de decadência a partir do século IX a.C., devido à grande miscigenação racial ocorrida a partir de então. 
        • A justificativa poligenista tinha, também, fundamentos biológicos. Partindo da teoria de Darwin, mas na verdade subvertendo-a,24 esses pensadores afirmavam que o resultado de um casamento híbrido era sempre degenerado ou mais fraco. Pior ainda, carregava os defeitos (e não as qualidades) de cada um de seus ancestrais. 79-80
      • Desigualdade e diferença: o primeiro lembra a conceção humanista de humanidade indivisivel e passível de progresso pelo tempo ou por vias pedagógicas. O segunda coloca as raças como ontologicamente diferentes de modo que a igualdade seria impossível.
        • Esses termos desmembram-se, também, conforme deles se servem essas duas escolas da época. Segundo os evolucionistas sociais, os homens seriam “desiguais” entre si, ou melhor, hierarquicamente desiguais, em seu desenvolvimento global. Já para os darwinistas sociais, a humanidade estaria dividida em espécies para sempre marcadas pela “diferença”, e em raças cujo potencial seria ontologicamente diverso. Assim, nesse contexto e com o amadurecimento do debate, dois grupos mais claramente delineados podem ser reconhecidos. De um lado, congregados em torno das sociedades de etnologia, estariam os etnólogos sociais (também chamados de evolucionistas sociais ou antropólogos culturais), adeptos do monogenismo e da visão unitária da humanidade. De outro, filiados a centros de antropologia, pesquisadores darwinistas sociais, fiéis ao modelo poligenista e à noção de que os homens estariam divididos em espécies essencialmente diversas. 81
      • Alguns poligenistas:82-4
        • Renan: raças branca negra e amarela. As não brancas eram inerenetemente incivilisáveis. Negava o darwinismo duvidando da origem comum e da possibilidade de se prever um destino conciliável.
        • G. Le Bon: Psicologia social, grupo como conjunto determinava o comportamento. Raças como espécies.
        • Taine: Determinstas. Individuo resultado de seu grupo. Expansão da raça com coneceito biológico para nação.
        • Gobineau: determinismo racial absoluto sobre o livre arbítrio. Miscigenação = degenração; mestiços e sub-raças inciviliz-aveis. Sacerdote do racismo
      • Diz que Gobineau não foi bem aceito na europa 84
      • Miscigenação:
        • A miscigenação transformava-se, desse modo, em um grande divisor entre as concepções monogenistas das escolas etnológicas e as interpretações poligenistas presentes sobretudo na antropologia da época. Para esta última, era por meio das consequências nefastas advindas da mistura de raças e de um certo “abastardamento dessas populações” que se poderia comprovar a falácia do argumento monogenista. 
        • A partir desse balanço nota-se que a percepção da “diferença” é antiga, mas sua “naturalização” é recente. Ou seja, é apenas no século XIX, com as teorias das raças, que a apreensão das “diferenças” transforma-se em projeto teórico de pretensão universal e globalizante. “Naturalizar as diferenças” significou, nesse momento, o estabelecimento de correlações rígidas entre características físicas e atributos morais. Em meio a esse projeto grandioso, que pretendia retirar a diversidade humana do reino incerto da cultura para localizá-la na moradia segura da ciência determinista do século XIX, pouco espaço sobrava para o arbítrio do indivíduo. Da biologia surgiam os grandes modelos e a partir das leis da natureza é que se classificavam as diversidades. 
        • Certamente essa não era a única versão que explicava, naquele momento, as sociedades em seu comportamento. É possível dizer, no entanto, que os modelos deterministas raciais foram bastante populares, em especial no Brasi1.29 Aqui se fez um uso inusitado da teoria original, na medida em que a interpretação darwinista social se combinou com a perspectiva evolucionista e monogenista. O modelo racial servia para explicar as diferenças e hierarquias, mas, feitos certos rearranjos teóricos, não impedia pensar na viabilidade de uma nação mestiça. Este já é, porém, um debate que pressupõe a reflexão sobre a excelência da cópia e a especificidade desta no pensamento nacional — o que será feito mais adiante. 84-5
      • As instituições permitiam espaços de discussão, produção e reconhecimento intelectual. Formavam-se grupos de pensadores.
      III - MUSEUS ENTOGRÁFICOS
      • Século XIX como era dos museus. Movimento de busca da memória. Apogeu após 1890, estruturação das instituições, processos de trabalho e coleçoes. 88-9
      • Museus brasileiros copiavam os europeus e isolada das instiuições nacionais. Adotavam perspectivas evolucionistas e darwinistas. 90
      • Os museus eram bases para os naturalistas viajantes 91
      • Museu Nacional criado em 1808 para estimular os estudos de botânica e zoologia. Mas era pouquissimo organizado e financiado e funcionava como um gabinete de coleções e curiosidades. Apenas a partir de Ladislau Netto e Batista lacersda que o museu é reestruturado de modo a fica páreo com os museus europeus. Começa em 1876 junto com a revista (divisada como um instrumento de comunicação e permuta). 92
      • Os archivos do museu nacional tinha apenas três correspondente brasileiros, mas dentre os internacionais tinha Broca, Darwin, Quatrefages, e Turlaine. 92-3
      • Museu de zoo, bot, antrop e geol. Mas antropo era muito pouco representado.
      • Nacionalista, dava preferência aos brasileiros nos cargos internos e nas publicações. JB Lacerda, Netto e Alipio Miranda eram os que mais apareciam. Dos internacionais vemos Hartt e Muller (96).
      • Embora fosse chamado de etnológico era muiro mais de ciencias naturais. "Mesmo os poucos textos que selecionam temas de cunho social o fazem sempre a partir de uma visão biológica e física" 97
      • Lacerda er aum exemplo. Atacava a antropologia social como pouco cientifica e era aliado da escola francesa de broca 97-100
        • A posição de Lacerda marcava uma mudança de perspectiva. Por oposição à imagem idealizada do romantismo, que via nos Tupis um modelo rousseauniano vivo, apareciam agora os Botocudos. Como “índios da ciência”, objetos diletos de pesquisa, esse grupo passava a representar o atraso, a base de uma pirâmide humana concebida em moldes evolucionistas.10 Interessante é notar, também, como o cientista combinava teorias em princípio excludentes. Lacerda,11 poligenista convicto, acreditava na existência de vários centros de criação humana (AMN, 1887:75), mas continuava supondo que a evolução era única em direção à civilização. 100
      • Museu Paulista ou Museu do Ipiranga, várias datas de inicio. Mais momentum a partir de 1885. 101-2
      • A partir de 1895 surge o projeto de museu enciclopédico pautado nas ccs biológicas, clasdsificaçõ e evolução. Nesse ano é lançada a Revista do Museu Paulista, bastante personalista de seu diretor Von Ihering e era autoconglatório. 103
      • von Ihering desconsiderava o MN, causando uma contenda com Lacerda. 104
      • Ressaltava as glorias dos museus europeus e americanos. A revista era muito internacional, com pouquíssimas publicações de brasileiros. Mas von Ihering provavelmente foi o maior contribuidor único e maioria dos artigos totais era de sua área, zoologia.
        • A antropologia, por sua vez, era entendida enquanto disciplina como um ramo dos estudos zoológicos e botânicos, tanto que muitas vezes temas mais propriamente antropológicos apareciam em meio a artigos sobre a flora ou a fauna local. É isso que sugere Von Ihering, que ao descrever a evolução dos moluscos do terciário concluía: “de fato, o que vale para os animais e no mundo da natureza vale também para os homens em sua evolução” (RMP, 1902). O suposto era que o modelo evolutivo da biologia servia de base para todos os seres vivos da Terra e em especial para explicar a evolução da humanidade. Tratava-se, portanto, de uma interpretação evolucionista social, cuja base não era religiosa, mas científica e positiva. 106-7
      • Aumetno da influnecia dos darwinistas sociais e da atuação pública de von ihering com a questão dos exterminio dos kaigang,  que deviam ser eliminados por atrasar a civilização. Contudo:
        • Apesar do controle que Von Ihering exercia sobre a revista do museu, ele não expôs ali suas controversas opiniões, e a ausência desse tipo de artigo é digna de nota. De fato, na qualidade de publicação científica, a revista só trazia pesquisas e trabalhos de comprovada competência profissional, nas áreas de ciência natural e antropologia. Dessa forma, a interpretação determinista de Von Ihering, do intelectual que se afasta de seu campo de atuação para lidar com temas sociais, presente na fala para O Estado de S. Paulo, não pode ser encontrada, ao menos de forma tão explícita, nas páginas da RMP. A defesa de uma interpretação evolucionista social se resumia aos artigos na área de antropologia e às análises no campo da craniometria, não se estendendo em sua aplicação social. Todo o escândalo era motivado, por sua vez, pelo radicalismo das posições de Von Ihering, que, como cientista e antropólogo físico, posicionava-se a favor do assassinato de um grupo, tendo por argumento o fatalismo das conclusões deterministas, a inevitabilidade das previsões científicas. Era talvez essa a primeira vez que um “cientista de museus” utilizava-se dos jornais para advogar questões sociais, tomando como justificativa teórica os modelos darwinistas sociais. Era a própria imagem do “cientista puro” e imune às paixões de seu tempo que se redesenhava, sendo que Von Ihering apresentava nesse periódico paulistano as mesmas posições que iria expor na Revista do Instituto Historico e Geographico de São Paulo (1911). Assim, se na publicação do IHGSP a questão do extermínio dos Kaingang vinha revestida de um tratamento histórico e científico — já que em pauta estava a delimitação da própria origem paulista —, em O Estado de S. Paulo era antes o intelectual irado que se manifestava em prol da repressão a um grupo bárbaro e degenerado.16 107-8
      • Fica marcado o estudo da humanidade subordinado a biologia.
      • Museu Paraense também vários início até engrenar em 1891 com o boom da borracha. O suiço Emílio Goeldi assume a diretoria em 1893.110
      • Goeldi ressaltava a humildade e buscava refletir os centros europeus.
      • Questão da língua da revista:
        • “como producto brasileiro deve sair com a sua roupa nacional. Nos dirão, o Japão tão progressista escreve em Inglês e Francês; mas nós apontamos do nosso lado para os Russos, os Hungaros e Dinamarqueses que cada vez mais mostram a tendência de publicar obras de sciencia em idioma nacional”. 111
      • As revistas, centradas nas ccs naturais, tratavam de questões locais segundo os problemas dos pesquisadores internacionais.112
      • Goeldi era um evolucionista convicto defensor da perfectibilidade, porém poligenista. O museu era o mais em localizado para\ estudfr a origem do homem americano, mas era mal equipado em material e pessoal. 113
      • A preocupação com o poligenismo não se traduziu na revista. Foco na zoologia. 114
      • Impasse com o MN. 115
      • Museu era mais importance como base para viajantes estrangeiros do que como produção local;
      • Conclusões gerais
        • Faltava, até então, um projeto que instituísse uma prática comum e que desse novo sentido e condição aos museus nacionais. É só a partir da década de 1880 que eles entram em um período de apogeu, quando não apenas se contratam novos profissionais, como se aparelham os estabelecimentos com vistas a cumprir seus novos fins científicos. Essa nova era marca uma situação de maior homogeneidade entre os museus nacionais, que transparece na figura forte de seus diretores. São eles que organizam coleções, classificam o material, contratam pessoal, elaboram as revistas, assim como escrevem a maior parte dos artigos. Como afirma Schwartzman, “prevalecia a forte dependência de um líder pessoal carismático”, que com sua atuação garantia a vigência de sua instituição (1979:139).21
        • Esse segundo período também inaugura um momento em que os museus concentram sua atenção privilegiada no exterior.
        • Mas, para além das especificidades de cada um dos museus, é possível dizer que cumpriram um papel relevante no incentivo de estudos e pesquisas em ciências naturais e antropologia física no país, bem como personificaram um certo ideal de cientificidade e objetividade, muito estimado naquele momento em especial. Como afirma Schwartzman, “era o único ambiente em que se praticava a ciência pela ciência, sem a simbiose com a ciência aplicada, que marca a atividade dos demais institutos” (1979:84). 
        • A partir desse tipo de produção, à primeira vista tão longínqua do debate político que se travava entre nós, os museus buscaram, mesmo que de forma específica, discutir o homem brasileiro. Partindo da flora e da fauna para chegar ao homem, ao recolher, analisar, classificar, hierarquizar e expor, os museus pretenderam trazer um pouco de ciência e ordem a esse meio tão carente de produções intelectuais dessa categoria. 118-9
      • A meta era "hierarquizar e aproximar para comparar e isolar" 119
      • Serviam as máximas do evolucionismo social e forneciam condições para estudar as etapas atrasadas da humanidade em seu desenvolvimento cultural. 120
      • Questões raciais de mistura e inferioridade. Museu como laboratório racial.
        • Longe do bon sauvage de Rousseau, o que esses cientistas procuravam encontrar eram não só exemplos de culturas atrasadas, mas populações asselvajadas pela mistura de raças tão diversas. Apesar do espaço restrito destinado à antropologia na divisão temática dos museus, foi a partir dela que se enriqueceu tal tipo de discussão em que se redescobriu o “homem americano” empregando critérios naturalistas e raciais. Partindo do modelo das ciências naturais, utilizavam o desenvolvimento das espécies animais e vegetais ora como metáforas, ora como modelos para explicar, seja os tipos puros, seja a presença da hibridação. Considerava Von Ihering em nota a um texto sobre zoologia: “A degenerescencia presente nos tipos híbridos pode ser com certa facilidade percebida nos grupos humanos... Longe dos tipos puros é com cuidado que deve ser analisada a miscigenação local” (RMP, 1897). Homelands para um debate que se travava fora de nossos limites territoriais, os museus ajudaram a divulgar internamente teorias raciais que desabonavam ou tornavam incertos os futuros dessa “jovem nação mestiça” (Lacerda, 1911). 
        • Evolucionistas sociais convictos, os cientistas dos museus não deixaram de aceitar as disposições dos teóricos das raças. “É preciso entender a degeneração racial humana, para depois supor uma futura evolução” (RMP, 1908), dizia Von Ihering saindo do terreno da zoologia para se referir aos seres humanos. Como cientista e adepto da teoria da evolução, Lacerda descobria nos Botocudos o exemplo máximo de inferioridade humana, e apontava no branqueamento a grande perspectiva nacional diante do inevitável fenômeno de depuração das raças. 121-2
      • Decadencia dos museus a paritr de 1920. Instituições frágeis dependentes de seus diretores. Mudança para ciência aplicada e educação técnica por parte do governo. Morte do Pedro II. Continuado subfinanciamento. 1930 marca o fim dos museus mundialmente. MPEG incorporado no Instituto de Pesquisas da Amazonia o MP é desmembrado entre a USP e o IB. O mn teria uma sobrevida com roquette-pinto
        • Nessa oportunidade, o antropólogo Edgar Roquete-Pinto cumpriu um papel público importante, opondo-se à forte influência racista presente na maioria dos participantes do Congresso, que defendiam a aplicação de uma política eugenista radical e a teoria “degeneracionista da mestiçagem”. Marcado pelos ensinamentos genéticos de Mendel e pelo culturalismo norte-americano de Franz Boas, Roquete-Pinto sustentou o argumento de que o “problema brasileiro seria uma questão de higiene e não de raça”.25 Posicionou-se, também, a favor da introdução de imigrantes japoneses, contrariando a interpretação majoritária dos cientistas médicos, como Miguel Couto e Renato Kehl,26 que insistiam na elaboração de leis eugênicas que restringissem a entrada da mão de obra asiática. Cumpria o MN, dessa maneira, um papel estranho à sua antiga atuação, tão marcada pelos modelos da biologia e da frenologia. Começava a aglutinar uma vanguarda intelectual, que, ainda de forma frágil, se opunha frontalmente ao racismo científico, moeda corrente em períodos imediatamente anteriores. 125-6 [a pluralidade racial não mais se sustentava]
      • Museus buscavam resolver a questão das raças dentro do projeto de branqueamento nacional e dos interesses do mundo de classificar os espécimes da natureza.
        • Imersos, porém, em uma lógica extremada da classificação, perderam-se os museus em meio a tantas regras científicas evolutivas que faziam sentido apenas para um grupo cada vez mais restrito. Talvez por esse motivo tenha sido esse tipo de estabelecimento o que mais radicalmente sofreu com as novas perspectivas teóricas e com as reorientações científicas dos anos 30. Conjugados a um certo tipo de concepção do que era fazer ciência, sofreram e tornaram-se obsoletos diante dos novos modelos. 
        • Restou, no entanto, de maneira vívida, a imagem do local de ciência, composto por profissionais identificados, de forma quase cega, a seu projeto. Como marca, o rigor na seleção do corpo de profissionais, a distinguir os museus etnográficos de outros estabelecimentos científicos da época. 127-8
      IV - OS IHGBs
      • Procuravam "construir uma história da nação, recriar um passado, solidificar mitos de fundação, ordenar fatos buscando homogeneidades em personagens e eventos até então dispersos." 129
      • Limitado pelos seus compromissos sociais com a elite. 131
      • Recrutamento por critérios sociais e não intelectuais. Muita afinidade com o estado, inclusive com a figura de Dom Pedro II. 133-4
      • Construção de uma historiografia nacional que exaltasse a pátria como faziam os europeus. 134-5
      • Organização entre sócios efetivos, correspondentes, honorários, beneméritos, e presidente honorário. Apenas o primeiro requeria condições intelectuais, "critérios elásticos" para "diversas condições de admissão". 136
      • Os presidentes eram figuras cosméticas, membros das elites. Quem tocava as coisas eram os secretários, geralmente profissionais liberais. Varnager foi m secretpario com projeção politica, era monarquista e tudo de ruim que acompanha o rotulo. Conhecido como primeiro historiador nacional. Fleiuss na republica. Outros são macedo e taunay 138-40
      • Interpretação oficial da história, seja ela qual for. Financiados pela elite e pelo imperador. Trouxe rigor documental para a história brasileira. 141
      • Revista lançada em 1839.
      • Fidelidade a pedro II na seção de história. na de biografias  "uma história pautada em nomes e personagens, e que se concentrava na elaboração de nobiliarquias e genealogias para elites agrárias sedentas de títulos que as aproximassem das antigas aristocracias europeias." Com relações politicas entre biografista e biografado. 144
      • Negros eram considerados incivilizáveis, mas os indios dividiam opiniões. Dividiso entre uma visão evolucinista, católica e romantica. Concepção fatalista quanto aos negros. modelo monogenista 145
      • Em 1844 o von Martius ganha o concurso onde propoe a extinção gradual do menos civilizado.  146-7
        • Ao branco, cabia representar o papel de elemento civilizador. Ao índio, era necessário restituir sua dignidade original ajudando-o a galgar os degraus da civilização. Ao negro, por fim, restava o espaço da detração, uma vez que era entendido como fator de impedimento ao progresso da nação 147
      • A perspectiva historiografica era a da historia colonial, interessada na historia nacional 148
        • Escrever a história constituía dessa forma um ato de garimpagem, de quem recolhe documentos assim como se procuram preciosidades. O ato de selecionar fatos supunha a mesma isenção encontrada naquele especialista que, ciente de seu ofício, separa as boas pedras das más, ou mesmo daquelas que oferecem pouco brilho ao olhar. 149
      • Romero defendia a mestiçagem como produto melhor adaptado ao meio. 151
      • Conclusão do IHGB carioca
        • o IHGB elegia seus pares ao mesmo tempo que excluía “os estrangeiros em terras brasileiras”, ou seja, os negros, “fator de atraso na civilização”. [...], tendo como modelo uma história católica, patriótica, permeável a um discurso evolucionista e muito vinculada à política oficial. 153
      • O IHGB pernambucano compartilhava essa perspectiva, mas busca enaltecer pernambuco. 156-7
      • Visão de mestiçagem:
        • A mestiçagem era vista de forma ambígua: apesar de temida, nela se encontrava a saída controlada e compatível com a representação ordeira que essa elite pernambucana possuía da sociedade. Assim, apesar do manejo com os modelos poligenistas de análise, era sempre a aceitação do monogenismo e a ideia de evolução que acabavam predominando quando se tratava de pensar a situação local. 161.
        • Quando se tratou de tematizar a questão racial, o instituto mostrou, na saída via branqueamento, a mesma atitude que caracterizara até então a sua atuação. A realidade ainda parecia, para as elites locais, bastante fácil de ser manipulada. O influxo branco auxiliaria a tarefa que originalmente cabia à natureza cumprir: tornar o país mais branco e livre da influência maléfica de outras populações. 164
      • O IHGB de SP, a mesma coisa, mas enviesado para SP. o IHGB SP era melhor financiado que os outros.
      • Quanto a questão racial:
        • No IHGSP, uma antropologia evolucionista e determinista racial encontrava-se mais confortavelmente associada a uma visão épica e positiva da história, oscilando os artigos entre uma visão poligenista da humanidade e as conclusões monogenistas das escrituras bíblicas. 
        • Com efeito, muitas vezes um pessimismo próprio da visão “degeneracionista” dominava, construindo imagens não mais idealizadas 171
        • ... promover uma imigração europeia condicionada por leis restritivas à entrada de populações negras e amarelas, que previa o final desses grupos “selvagens que se tornaram degenerados”.38 Dos indígenas, pouco se espera, dos negros e mestiços menos ainda”. 
        • Por outro lado, é nesse mesmo contexto que [Von Ihering] vai aaos jornais fefender o exterminio dos kaignang.172 
      • Assim
        • Assim, também no IHGSP não se pode procurar uma coerência teórica absoluta. Da mesma maneira que os outros institutos históricos, o grêmio paulista soube misturar evolucionismo e darwinismo social, poligenismo e monogenismo, conclusões científicas e religiosas, como revelam as posições de Leôncio do Amaral Gurgel acerca dos indígenas brasileiros. Após ter citado toda uma série de estudiosos das raças, como Agassiz, Littré, Broca, Morton, Pritchard e Buffon, famosos pelas condenações ao modelo monogenista, esse associado do IHGSP finaliza seu artigo da seguinte maneira: “É excusado dizer que, como catholico, e portanto, baseado na fé, eu já era monogenista muito antes que meus estudos sobre esta questão viessem confirmar de forma absoluta as minhas crenças. Sendo as condições fundamentais da natureza humana as mesmas em todas as raças, todos tem os mesmos altos destinos” (RIHGSP, 1907:321). Assim, ao lado da adoção das novas teorias raciais, continuavam presentes as máximas do monogenismo católico, que pareciam ser, mesmo para o IHGSP, dificilmente superadas. “Somos darwinistas na teoria, mas continuamos monogenistas no coração”, concluía um ensaio menos rigoroso, publicado em 1902. 
        • O resultado, como diz Sérgio Buarque de Holanda, era uma espécie de “ecletismo espiritualista”, que com sucesso acomodava métodos e supostos diversos, em função de interesses no mais das vezes pouco teóricos (Holanda, s. d.:321). A história parecia explicar o predomínio branco em um momento em que o final da escravidão era ainda uma lembrança fresca — “ainda nos vem clara a imagem do final dessa odiosa escravidão, mas são límpidos os caminhos que demonstram a ordem que reina após o seu final” —, e garantia um futuro “civilizado”, bem nos moldes europeus. 173
      • Os instituos eram guardiões do imperador e produziam a história oficial, ufanista e otimista. 174-5
        • Nesses centros, o tema racial pareceu auxiliar na construção de uma história branca e europeia para o Brasil. Mais uma vez a cópia não era absolutamente fiel ao modelo: nos institutos, teoria evolucionista e monogenismo apareciam ao lado dos pressupostos darwinistas sociais e poligenistas, como se modelos originalmente excludentes pudessem ser mesclados. Com as conclusões evolucionistas, justificava-se o predomínio branco e a hierarquia social rígida. Utilizando um darwinismo sociobiológico, explicava-se o “natural branqueamento” da população. Mas eram as teorias deterministas raciais que ajudavam a comprovar um certo atraso, ou condenavam a mistura racial no país. 
        • No entanto, apesar da admiração de que os modelos deterministas pareciam gozar, eles mais serviram como referência do que inspiraram interpretações originais. Nesse local, dominou uma vertente bastante otimista, como se a tarefa de escrever a história oficial da nação não combinasse com pessimismo ou com previsões de mudança social. O projeto de Von Martius, apresentado nos primeiros anos de funcionamento do IHGB, ainda era o modelo vencedor. A história do Brasil consistia na história de suas três raças formadoras, convivendo em ordem e respeitando as hierarquias e desigualdades biológicas. Retomada em meados do século XIX por Silvio Romero, a tese do naturalista alemão sobrevivia em suas linhas mais gerais. Na teoria de Romero surge novamente um elogio à ação das diferentes raças nacionais, um alento para “a boa miscigenação” que ocorria no país.
        • ... Longe do pessimismo dos médicos baianos, do ceticismo dos professores da Escola de Recife e do cientificismo dos naturalistas dos museus etnológicos, os diferentes institutos persistiam na interpretação positiva da realidade. O futuro era insofismavelmente branco, previsível e seguro. 179-80
      V - FACULDADES DE DIREITO
      • Visam criar uma elite que resolva os problemas da nação. Buscavam se criar uma identidade própria para o império a partir de uma elite desvinculada à metrópole. 185-6
      • A partir de 1828 iniciam-se os cursos em Recife e SP. O prestígio era mais pela possibilidade de futuro como político do que pelo curso em si.
      • São Paulo mais influenciada pelo modelo polirtico liberal enquanto recife mais pelo problema racial ambas se pautando pelas escolas darwinistas. 187
      • O curso de Olinda era pautado no modelo de Coimbra, ou seja, ainda era próxima a Portugal. Contudo era mal equipada em material e pessoal, além de altamente influenciada pela igreja. Havia pouca importância intelectual e baixa produção discente. 189-90
        • ver questão de trad na prova de frances
      • Em 1854 é transferida para Recife e sofre uma grande reforma curricular. Buscava dar um estatuto cientifico ao direito.  192-4
        • Sem assumir os excessos e todo o movimento de celebração existente nesses relatos, mais importante é notar que a partir desse momento uma nova concepção de direito se constrói: uma noção “scientifica”, em que a disciplina surge aliada à biologia evolutiva, às ciências naturais e a uma antropologia física e determinista. Paralelamente, em seu movimento de afirmação o direito distancia-se das demais ciências humanas, buscando associar-se às áreas que encontravam apenas leis e certezas em seus caminhos: 196
      • Expurgo da metafísica; progressismo; jargão evolucionista via germanismo de Tobias Barreto (Haeckel e Buckle) e difusão de Spencer, Darwin, Littré, Le Play, Le Bon e Gobineau; guinada teórica da geração de 1870; formação da escola de recife 195
        • "como dizia o professor Phaelante Camara, “o darwinismo sentiu-se a vontade na congregação e nos bancos academicos” (RAFDR, 1904:17)" 195
      • Adaptação do direito ao social-darwinismo e outras doutrinas deterministas. O ideário deterministas expande-se até para a literatura que fica cheia de citações (ver Julio Ribeiro que cida Darwin, Haeckel e Von Martius). 197-8
      • A função autoimposta dessas elites de bachareis em direito cientifico era resolver os problemas da nação. 200
      • Romero
        • Silvio Romero era antes de mais nada um grande agitador. Autodidata e pouco preocupado com o que chamava “pura especulação”, utilizou com entusiasmo a última palavra em ciência e filosofia para lidar de forma direta com os problemas nacionais. Na verdade, as diferentes matrizes teóricas só o interessavam na medida em que ajudavam a pensar em um compromisso com as questões locais, em novas aspirações de uma nacionalidade. 
        • Dentro do contexto intelectual da época, a produção de Romero se destacou pelo radicalismo das posições e o apego ao naturalismo evolucionista, em oposição ao positivismo francês.10 Empregando uma terminologia até então desconhecida — retirada de autores como Haeckel, Darwin e Spencer —, esse intelectual de Recife acreditava ver na mestiçagem — tão temida — a saída para uma possível homogeneidade nacional. 201
        • De fato, Silvio Romero, que se dizia avesso “a contemplação exclusiva das coisas” (1907:64), afastou-se dos modelos teóricos puros para encontrar no mestiço “a condição de vitória do branco no pais”. Ou seja, em vista da constatação da inexistência de um grupo étnico definitivo no Brasil, esse intelectual elegia o mestiço como o produto final de uma raça em formação. Utilizando de forma pouco ortodoxa as máximas poligenistas da época, Romero encontrava na mestiçagem o resultado da luta pela sobrevivência das espécies, como estabeleciam as teorias deterministas da época. Porém, paradoxalmente, ao invés de condenar a hibridação racial, seguindo os modelos evolucionistas sociais, esse autor encontrava nela a futura “viabilidade nacional”. Usando a expressão de Silvio Rabello, a teoria de Romero mais se aproximava a um “arianismo de conveniência”, no qual se sustentava o modelo da seleção, a eleição de uma raça mais forte, sem que, no entanto, se incorresse nos supostos dessa postura que se preocupava em denunciar o caráter letal do cruzamento de raças distintas. O caldeamento das três raças formadoras se transformava, dessa maneira, em elemento tão fundamental que Silvio Romero podia até se dar o luxo de ironizar a situação política, afirmando: “este será um dia, um verdadeiro pais mulato. O primeiro imperador foi deposto porque não era nato, o segundo há de sêl-o porque não é mulato” (1895:XXXIX). 
        • Apesar do “elogio à mestiçagem”, não se deve incorrer no engano de procurar em Silvio Romero um defensor da igualdade entre os homens. Ao contrário, esse pensador foi um fiel seguidor do determinismo racial. “Não tenhamos preconceito, reconheçamos as diferenças”, dizia o intelectual em 1887, como que anunciando um momento em que o poligenismo constituía uma verdade tão absoluta quanto a famosa igualdade declarada pela Ilustração. O debate sobre a origem única dos homens era então transformado em um falso problema quando contraposto “à uma desigualdade original, brotada do laboratório da natureza, aonde a distinção e a diferença entre as raças aparecem como fatos primordiais frente ao apelo da avançada ethnografia” (Romero, 1895:XXXVII). 
        • Sem entrar nos meandros da teoria de Romero,12 mais importa entendê-lo enquanto uma grande influência, uma espécie de “pai fundador”.13 É na predileção do tema da mestiçagem; no apego aos modelos deterministas biológicos e etnográficos; na fala radical e cientificista, que vemos a força desse mestre que elabora a teoria e cria um grupo. A partir de Romero, o direito ganha um estatuto diferente no Brasil. Passa a combinar com antropologia, se elege como “sciencia” nos moldes deterministas da época e se dá o direito de falar e determinar os destinos e os problemas da nação. 202-3
      • A escola de recife operava pelo critério etnográfico no quala raça aparecia como denominador comum. 201
      • 1890, reforma do ministro positivista Benjamin constant 204
      • Revista da faculdade de direito lançada em 1891 buscando  destruir a metafisica do direito via etnologia e psicologia, além de concepções evolucionistas.
        • A recorrência a um argumento evolucionista, comum às diferentes publicações dos demais institutos analisados, também ocorre nessa revista de direito. O modelo é assumido de forma bastante consensual, como afirmava Clovis Bevilacqua: “em nome da sciencia não se ergue mais hoje o venambulo da critica para ferir a theoria da evolução. O que as vezes surge nos acampamentos scientificos são modos differentes de compreendel-a. Uma suppõe a evolução única e universal outra a multiplicidade, mas ela já não se discute mais...” (RAFDR, 1897:117). Variavam as teorias, diferentes eram as interpretações, mas o paradigma reinava acima da crítica. 206
      • Teoria como pretexto para questões locais. 207
      • Antropologia criminal derivada das ideias de Ferri e Lombroso. Critica ao livre-arbitrio. 216 Colocavam problema para a mestiçagem 218
      • A partir de 1920 a revista passou a se dedicar a medicina legal.
        • Um sopro novo no ar, um sinal ainda pouco objetivado de reação à interpretação pessimista até então dominante começa a se manifestar. De dentro desse movimento, o higienista e o perito especialista em medicina legal surgem como uma espécie de contraponto à figura do anthropólogo e do sociólogo, para os quais a situação nacional apresentava poucas saídas: ... “Qual é a resposta?”, indagava um artigo de 1919. “Não é porque sejamos um esboço de nacionalidade que marchamos a passo tardio e cansado pela estrada da civilização” (RAFDR:58). O “problema nacional” continuava a existir, porém podia não ser exclusivamente causado por fatores étnicos ou raciais. A questão talvez fosse higiênica e social, como sugeriam novos dados, de natureza até então bastante desconhecida: “80% da população sofre de ankilostoniase, sendo que temos 80% de analfabetos dos quais 29% sabem ler e 5% soletram e compreendem mal. Temos assim a explicação da nossa diferença que nos deprime perante as outras nações” (RAFDR, 1919:59). 219
      • A solução era encontrada na boa mestiçagem, isto é, branqueamento.
      • A partir dos 1930 há um eclipse do darwinsimo 223
      • Em SP, a primeira faculdade de direito surge em 1828. Mal equipada.
      • Melhoras a partir de 90, com a fundação do IHGB SP e da contratação de von Ihering para o MP. Após as turbulencias iniciais percebe-se o intuito da instituição. Formar os futuros políticos. 227-8
      • Revista também após a reforma de constant.
      • Professores versavam sobre diversos assuntos pois podiam entrar para cargos políticos futuramente 229
      • O direito estava sujeito ao determinismo biológico evolucionista e deveria "descobrir as leis que presidem a evolução da humanidade". Era produto e produtor do progrersso.231
      • Academia paulista era conscientemente elitista e autocentrada.
      • Sumário de SP
        • Política e academia assim se encontravam, quase tendo a religião a legitimar essa união. Trata-se de um evolucionismo de fundo católico, que pensa em inevitabilidades mas recorre ao Divino, que vincula um projeto profissional a um programa missionário. De fato, nesse período a faculdade paulista se transformava rapidamente em um centro de “eleitos” especialmente treinados para a condução dos destinos da nação. Bastante afastada das esferas de decisão no período monárquico, já no período republicano associada ao poder econômico regional e contando com uma clientela privilegiada em termos financeiros, a escola de direito de São Paulo transforma-se em um dos grandes legitimadores do novo jogo político vigente. 233
      • Na antropologia criminal condena-se o determinismo em SP.
        • Em nome do livre-arbítrio do indivíduo e da análise social do fenômeno criminal, é com prevenção que os modelos deterministas penetravam nos circuitos acadêmicos paulistas. O que em Recife significava uma interpretação de vanguarda, em São Paulo era assimilado com cautela, com “a critica de quem reconhece a verdade de alguns conceitos e repele os exageros desses juris consultos” (RFDSP, 1906:67). 234
      • Na medicina, os médicos eram vistos como técnicos auxiliares que aplicavam as soluções divisadas pelos bachareis. A autonomia dos profisisonais de direito é a principal diferença entre SP e PE.
      • Repúdio ao determinismo e afinidade pelo liberalismo 235
        • Reconhece-se no modelo paulista “um liberalismo conservador” (Nogueira, 1977:67) mais próximo da reação posterior à Revolução Francesa, em que o conceito de liberdade aparecia condicionado à noção de ordem. Além do mais, como afirma Raimundo Faoro, apesar da influência anglo-saxônica, o liberalismo chega ao país “respirando bolor bragantino” (1977), o que lhe conferiu uma imagem não só conservadora, como elitista e antipopular. Assim, assimilado com certas adaptações que o fariam conviver com a escravidão e o latifúndio durante o Império, e com a hipertrofia estatal e o autoritarismo político republicano, o liberalismo revelava claramente seu lado antidemocrático, no Brasil. 237
        • A FDSP é um espelho da pujança vivida por São Paulo durante a República Velha. A academia não só tendeu a legitimar a vigência de um Estado autoritário e claramente manipulador,25 como procurou na teoria evolucionista a certeza de sua origem e de um futuro certo. 238
      • Estado como fruto da evolução social. 238
      • O que unia as faculdades era a valorização da profissão e o jargão evolucionista dominante até 1930, mas havia bem mais diferenças entre elas. 239
      • Ver 239 para questão das línguas que eram pedidas.
      • Recife produzia doutrinadores, SP políticos e burocratas "De Recife vinha a teoria, os novos modelos — criticados em seus excessos pelos juristas paulistas; de São Paulo partiam as práticas políticas convertidas em leis e medidas." 240
      • Na questão da imigração:
        • São Paulo, por sua vez, a “mais avançada das províncias” em sua defesa de um projeto liberal e modernizante, ou mesmo no incentivo à entrada de mão de obra livre, não o foi quando se tratou de pensar em trabalhadores orientais e africanos. Nesse caso, parece que modelos eugenistas de intervenção, defendidos com fervor em Recife, foram relevantes para se justificar a proibição, ou fundamentar a argumentação que destacava as “poucas qualidades” desse tipo de imigração. 241
      • Revela-se a ideia da hierarquização dos povos e políticas de retorno a africa. 243
      • Assim
        • Guardadas as diferenças, o que se pode dizer, no entanto, é que para ambas as faculdades “o Brasil tinha saída”. Por meio de uma mestiçagem modeladora e uniformizadora, apregoada por Recife. Por meio da ação missionária de um Estado liberal, como tanto desejavam os acadêmicos paulistanos. A figura do jurista permanecia, em meio a toda essa batalha, como que intocada. Confiantes em sua posição de “missionários”, buscavam os juristas brasileiros cunhar para si próprios uma representação que os distinguisse dos demais cientistas nacionais. Eram eles os “eleitos” para dirigir os destinos da nação e lidar com os dados levantados pelos demais profissionais de ciência. Na sua visão, encontravam-se distanciados do trabalho empírico dos médicos, das pesquisas teóricas dos naturalistas dos museus, da visão eclética e oficial dos intelectuais dos institutos históricos e geográficos. Entendiam-se como mestres nesse processo de civilização, guardiões do caminho certo. 245
      VI - FACULDADES DE MEDICINA
      • Divisão entre Bahia e Rio de Janeiro.
      • Há uma continuidade histórica:
        • na própria faculdade baiana será interessante entender um certo deslize temático que parece acompanhar a história desse estabelecimento, o qual em momentos diversos — de 1870 a 1930 — privilegiou abordagens diferentes. Assim, se a discussão sobre a higiene pública (que implicava uma grande atuação médica no dia a dia das populações contaminadas por moléstias infectocontagiosas) mobiliza boa parte das atenções até os anos 1880, nos anos 1890 será a vez da medicina legal, com a nova figura do perito — que ao lado da polícia explica a criminalidade e determina a loucura —, para nos anos 1930 ceder lugar ao “eugenista”, que passa a separar a população enferma da sã. 248
        • Higiene publica > medicina legal > Eugenia
      • Os médicos queria salvar a população capaz de se regenerar. os homens de direito seriam responsáveis por normatizar os diagnósticos médicos para a sociedade. 249
      • Raça
        • O tema racial é ainda relevante, pois integra o arsenal teórico de ambas as escolas. Na Bahia é a raça, ou melhor, o cruzamento racial que explica a criminalidade, a loucura, a degeneração. Já para os médicos cariocas, o simples convívio das diferentes raças que imigraram para o país, com suas diferentes constituições físicas, é que seria o maior responsável pelas doenças, a causa de seu surgimento e o obstáculo à “perfectibilidade” biológica. 249-50
      • As escolas de medicina portuguesas e brasileirais até o século XVIII eram obscurantistas e escolásticas. 251
      • Escolas impedidas no Brasil até 1808. Até então a medicina era praticada por herbalistas, práticos e barbeiros pouco regulados e em número suficiente para que houvessem pequenas especializações.
        • “Praticos” e “proto-medicos” não passavam, por sua vez, de simples iniciantes, geralmente mestiços, analfabetos e cuja atuação não levava a qualquer posição de maior prestígio social. Constituíam pequena minoria no meio da multidão de curandeiros, parteiras, boticários, dentistas e sangradores que abundavam em vista da carência absoluta de médicos e cirurgiões. Em 1789, por exemplo, o vice-rei Luiz de Vasconcelos queixava-se à Metrópole da existência de apenas quatro médicos em toda a Colônia. 
        • A falta de profissionais não era, porém, aleatória. As dificuldades em seguir a carreira médica no Brasil eram grandes: livros franceses tinham a entrada proibida, assim como era difícil o acesso à bibliografia médica em geral. No Rio de Janeiro, por exemplo, existia apenas uma livraria de obras de teologia e um vendedor de livros portugueses de medicina. Por outro lado, até 1800 a profissão permanecia vedada aos brasileiros. Foi só a partir dessa data que o édito real de 1o de maio passou a determinar que quatro estudantes, designados pelo município do Rio de Janeiro, dariam continuidade a seus estudos em Coimbra: dois se especializariam em matemática, o terceiro em medicina e o último em cirurgia. 252
      • A partir de 1808 passa-se a formar cirurgiões no Hospital Militar no Brasil. Mal equipado em mateiral e pessoal. 254
      • Em 1813 dá-se inicio no plano de fundar três academias médico-cirugicos na Bahia, Rio e Maranhão. 255
      • Institucionalização e reformulação dos cursos. Regulamentação da formação. Passam a exisitr o cirurgião aprovado e o cirugião formado.
      • 1829 forma-se a Sociedade de Medicina que em 1832 aprova a lei que estabelecia as faculdades de medicina. Muito antes das de odontologia que surgiriam em 1884.256-7
      • teste de frances 257
      • Guinada forte na decada de 1870. Contexto: missão higienista; guerra do paraguai; crescimento desordenado das cidades; doenças endêmicas. Surgem o médico missionário e o perito da medicina legal. 259
      • Reduzida quantidade de livros favoreceu o jornalismo científico pelo qual os médicos se comunicavam 260
      • Bahia prioriza medica legal, rio higiene pública 261
      • Também surge o médico politico lastreado em pautas evolucionistas que busca o lugar dos bacharéis. 263
      • Higiene pública, "prevenir antes de curar". 270
        • Nesse momento, conectada à noção de higiene, aparecia a ideia de saneamento: caberia aos médicos sanitaristas a implementação de grandes planos de atuação nos espaços públicos e privados da nação, enquanto os higienistas seriam os responsáveis pelas pesquisas e pela atuação cotidiana no combate às epidemias e às doenças que mais afligiam as populações. No entanto, essa divisão entre sanitaristas — responsáveis pelos grandes projetos públicos — e higienistas — vinculados diretamente às pesquisas e à atuação médica mais individualizada — funcionou, muitas vezes, de maneira apenas teórica. Na prática, as duas formas de atuação apareceram de modo indiscriminado. 270
      • Questões raciais. A sífilis como degenaração mestiça. Nina Rodrigues busca estabeler a diferença das raças e condenar a mestiçagem como o maior mal. 272
      • Hierarquia dos povos e estabelecimento do negro como degenerado e atraso para a civilização 273
        • Com efeito, não é a inferioridade biológica e cultural dos negros que está em discussão. Ninguém, nesse local, se lembrou ainda de contestá-la. Divergem, porém, os que a reputam inerente à constituição orgânica da raça — e, por isso, definitivamente irreparável — e aqueles que a consideram transitória e remediável. 273
      • Modelos raciais presentes especialmente na Bahia. 274
      • Medicina legal predominante na Bahia após 1880 275
      • Nina Rodrigues apoiava um novo código penal que levasse em conta a raça dos criminosos, para que fossem punidos segundo seu nível evolutivo. 278
      • Crítica ao livre-arbítrio e igualdade humana. 279
      • Eugenia após 1920. Regeneração somática da raça pela educação física ou profilaxia matrimonial. 282
        • No entanto, as teorias raciais são adotadas de forma seletiva e parcial: se ajudam a explicar a seleção natural e o desaparecimento dos mais fracos, são, porém, descartadas quando se trata de pensar na “perfectibilidade” dos “bons mestiços”, ou na homogeneização das raças, conclusões incompatíveis com os modelos poligenistas. 284
      • A partir do fima da década de 1920 passa-se a olhar a cultura ao invés da raça. 285
        • O novo momento parecia marcar o final da figura do médico missionário, obstinado pela “cura da nação”. Sanadas as grandes epidemias que molestavam a população, oficializados a medicina legal e os manicômios judiciários durante o Estado Novo, era hora de voltar às clínicas, abrir mão dos projetos de maior inserção social. 286
      • Duas coisas explicavam o atraso nacional: viralatismo intelectual e dificuldade de publicação. 288
        • Tema básico às duas faculdades de medicina, essa “originalidade científica” tornava-se, nesse momento, quase uma obsessão. Era preciso evitar o “dogma estrangeiro” e encontrar os alicerces para a construção de uma medicina própria, pautada nas especificidades nacionais. 288 [Aí vem os estudos das doenças tropicais.]
      • Revista Brazil Medico.
        • Clínica, sem maiores preocupações sociais. 290, 293
          • Com efeito, as noções de higiene pública, saneamento e profilaxia das moléstias contagiosas irão se misturar de tal modo na revista que se torna difícil separá-las de maneira lógica. Tratava-se de uma percepção diversa da atuação médica. Diante do fenômeno iminente das grandes epidemias, o “remédio” era, de um lado, combatê-las; de outro, evitá-las. Descobrir o antídoto quando o mal já era irremediável era tarefa reservada aos novos “pesquisadores médicos”, que aceitaram o desafio de seu século apostando na cura dessas moléstias. Impedir a proliferação do mal e o surgimento de novos surtos era, por outro lado, função dos higienistas e saneadores, que, atuando na comunidade, procuravam educar e prevenir. Papéis apenas formalmente diversos, na maioria das vezes ocupados pelas mesmas personagens, coube aos pesquisadores, aos higienistas e saneadores a difícil empresa de diagnosticar e medicar o Brasil, esse país tão doente. 294
        • Foco nas grandes doenças tropicais. Oswaldo Cruz herói. Higiene pública e saneamento. Moralização para evitar a degeneração. 297
        • Esperava-se passividade da população. O que nem sempre ocorri, como na revolta da vacina 300
          • Com efeito, uma nova prática médica se anunciava. Ao abandonar o indivíduo para tratar da comunidade, o médico higienista resvalava em áreas bastante desconhecidas, temas que inquietavam o conjunto da nação. Era pela doença que se explicava o fracasso do país, restando apenas diagnosticar a origem desses males. Problema inquietante. A partir dos anos 20, o Brazil Medico passará a historicizar a trajetória das epidemias, e em função desse resultado tentará prever os destinos da nação. Nesse contexto saem de foco os estudos sobre bacteriologia, já que, debelados os grandes surtos, faltava cuidar do futuro e pensar nas deficiências gerais da população. 
          • Enquanto discurso tardio é só a partir desse momento que a questão racial passa a fazer parte das análises dos médicos, que então se aproximam dos interesses centrais da escola baiana. As doenças teriam vindo da África — com os escravos —, ou da Europa e da Ásia — com a entrada da mão de obra imigrante (vide Chalhoub, 1993), assim como nosso enfraquecimento biológico seria efeito da mistura racial. Guardando uma certa especificidade, no Brasil, a questão da higiene aparece associada à pobreza e a uma população mestiça e negra. 301-2
        • Importação e adaptação da eugenia. Vínculo da doença com certas raças. Em paralelo com esforços anti-imigração 303
          • Orgulhosos de sua atuação diante das grandes epidemias pretendiam agora “curar as raças”. Queriam separar os regeneráveis dos não regeneráveis 304-5
        • Extermínio via desaparecimento natural ou por esterilização (como propunha Kehl, que negava uma visão positiva sobre a miscegenação). 306-7
        • Isso amaina a partir de 1930
      • Conclusões
        • Por caminhos diversos chegavam as escolas médicas a conclusões semelhantes. Era preciso cuidar da raça, ou seja, da nação; e segundo os médicos caberia a eles o privilégio da execução de tal tarefa. No entanto, a cooperação constante entre as duas faculdades e a coincidência nas soluções encontradas nos anos 30 poderiam levar a uma percepção comum e equivocada acerca da produção desses centros médicos.
        • Para a medicina baiana, a eugenia significou uma forma de atenuar o pessimismo imperante, uma maneira de buscar aceitação para antigas concepções que, de tão extremadas, pouca aplicação poderiam esperar. A eugenia permitia prever a “perfectibilidade”, supor uma melhoria da raça, noções até então consideradas pouco legítimas na escola da Bahia. Já para a faculdade carioca, o reconhecimento da eugenia viabilizou a criação de novos espaços de atuação social. Amenizadas as funções dos médicos epidemiologistas, deslocados do centro das atenções, era como eugenistas que recuperavam seu papel social. 309-10 [Bahia acomodada em decadencia financeira, Rio agressivo perto dos centros de poder]
      VII - ENTRE O VENENO E O ANTÍDOTO
      • Questão de raça como suporte para uma produção nacional. 313
      • Meio de entender a nação:
        • ... se o conjunto dos modelos evolucionistas levava a crer que o progresso e a civilização eram inevitáveis, concluía também que a mistura de espécies heterogêneas era sempre um erro, que gerava não só a degeneração do indivíduo como de toda a coletividade. 314
      • Pessimismo racial leva a desilusão. 314
      • As instituições:
        • Nos museus etnográficos, por exemplo, a ampla utilização de argumentos evolucionistas permitiu explicar cientificamente as diferenças, classificar as espécies, localizar os pontos de atraso. Dialogando com o exterior, coletavam no local exemplares preciosos que atestavam as especificidades desse “exótico país”, mas também ajudavam a comprovar a origem do problema racial. 
        • Nos institutos históricos, por sua vez, a entrada tardia de modelos deterministas levou à acomodação de explicações variadas: de um lado, uma visão otimista, católica e patriótica, modelo já tradicional desses estabelecimentos; de outro, uma concepção determinista e evolutiva da nação. O resultado foi uma interpretação que, apesar de monogenista, recorreu a conclusões darwinistas sociais quando se tratava de justificar, por meio da raça, hierarquias sociais consolidadas. 315
      • Zigzag entre admiração e reformismo. 315
      • Embate entre as faculdades de direito e medicina disputam a hegemonia. Bachareis buscando conduzir o povo por leis e os médicos querendo curar o povo.315
      • Evolucionismo no brasil com sua originalidade
        • No Brasil, evolucionismo combina com darwinismo social, como se fosse possível falar em “evolução humana”, porém diferenciando as raças; negar a civilização aos negros e mestiços, sem citar os efeitos da miscigenação já avançada. Expulsar “a parte gangrenada” e garantir que o futuro da nação era “branco e ocidental”. 316-7
        • Patamar comum para apropriações diferentes, as teorias raciais revelaram usos variados de acordo com o local de inserção. Nos Estados Unidos, a aceitação dessas teorias nasceu junto com a paralisação do desejo de reforma (Hofstadter, 1975:47). O darwinismo social, pensado como uma filosofia da inevitabilidade, se transformou em uma doutrina conservadora nas mãos de elites dominantes que após a Guerra Civil queriam pôr fim aos conflitos sociais internos. 
        • Na Inglaterra, ajustado a uma leitura de cunho spenceriano, o darwinismo recebeu uma conotação liberal, no sentido de fortalecer a doutrina do laissez-faire na economia. Empregado principalmente por setores da burguesia mercantil, o evolucionismo social na Inglaterra recebeu uma interpretação, sobretudo política, pouco se referindo à questão social ou racial (Graham, 1973). Na Alemanha, “uma burguesia industrial ascendente e poderosa passa a utilizar a questão da saúde em uma perspectiva darwinista social, como ideologia da integração nacional” (Weindling, 1989:1). 
        • Por fim, na América Latina, segundo o historiador Thomas Glick, a introdução do pensamento darwinista não só foi generalizada como sua aceitação esteve vinculada a certos setores sociais: “Em sociedades onde as elites estão desunidas, todas as ideias, inclusive as científicas, são apropriadas como armas. O darwinismo é um exemplo adequado, já que foi facilmente convertido em símbolo do secularismo” (1988:103). 318-9
        • Nos rumos inusitados desse debate, percebe-se mais uma vez a originalidade da cópia, o ineditismo de sua utilização. Modelo de sucesso no Brasil dos anos 1870, as teorias raciais fariam no estrangeiro, nesse contexto, poucos seguidores. Já nos anos 1930, a situação como que se inverte. Nos Estados Unidos e principalmente na Europa é a partir desse momento que, a despeito da crítica teórica culturalista, tomam força certos modelos raciais de análise social, como é o caso do arianismo na Alemanha, ou do recrudescimento de uma política de segregação nos EUA. Diferente é a situação vivenciada no país. Combatido em sua utilização nas esferas políticas e científicas e enfraquecido perante a influência das teses culturalistas de Freyre (que tenderam a enaltecer a mistura racial aqui existente), esse tipo de explicação persistiu, porém, sobretudo no senso comum e na representação popular. 324
      • Perfectibilidade destituída da filosofia de Rousseau. Alguns seriam superiores a outros pois seriam perfectíveis frente a degenerescência biológica determinista de outros grupos.
      • Questão sobre o darwiniso e tradução
        • Como se vê não se trata de procurar a interpretação original, mesmo porque suas atualizações são tantas que já fazem parte da história dessas teorias, da lógica desses conceitos. 319
      • Fim do livre arbítrio
        • Ao mesmo tempo que uma leitura determinista gerou o fortalecimento da importância das raças na formação da nação, em contrapartida levou a um esvaziamento do debate sobre a cidadania e sobre a participação do indivíduo. Entendendo o sujeito como resultado de seu grupo “racio-cultural”, esse tipo de teoria tendeu a negar a vontade individual frente a coerção racial. 320
      • Havia um dogma racial que buscava naturalizar a desigualdade. 320
      • Ao final, há uma falência do argumento degenaracionista e um ressalto do sanitarismo. 325




















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