Pereira 2001

Intro
  • Exalta o numero de trads do origin.42
  • Flexibilidade na definição de Darwinismo, se não não se encontra um deles. Termo politípioco e heterogeneo segundo La Vergata e Gayon. 43-4
  • Evitava evolução pelo uso embriológico, mas Lyell usava o termo para Lamarck. No descent o primeiro uso e na sexta edição do Origin já está mais generalizado. 47
  • Spencer generalizou a lei do desenvolvimento embrionário em uma fórmula filosófica universal. Isso já em 1852, ou seja, a evolução de spencer tem raízes mais embriológicas e menos darwinianas. 47-8 "a evolução orgânica spenceriana conserva um sentido pré-darwiniano, de tendência para a optimização perfectibilista, fundada no determinismo fisicalista (matéria, movimento, força). Em suma: no sistema filosófico spenceriano, a mecanização da selecção natural diminui o seu estatuto de criadora da evolução orgânica."
  • Survival of the fittest
    • No entanto,foi Herbert Spencer, nos seus Principles of biology (1864-1867), quem tomou a iniciativa de identificar o seu princípio da “sobrevivência dos mais aptos” com a selecção natural darwiniana: “S 165. This survival of the fittest, which I have here sought to express in mechanical terms, is that which Mr. Darwin has called natural selection, or the preservation of favoured races in the struggle for life”(4). Em termos muito sumários, para o engenheiro-filósofo, a evolução orgânica resultava de dois processos simultâneos(*): a adaptação (ou em termos mecânicos, a equilibração directa do organismo com o meio) e a selecção natural, ou em termos mecânicos, a equilibração indirecta. 49
  • No principles of biology tentava unir lamarck e darwin 49
  •  Haeckel
    • Mas, sintomaticamente, Darwin nada diz sobre o determinismo monista-evolucionista do universo, da terra e da vida, perfilhado por Hackel, nem particularmente sobre o valor filosófico e político que Heckel atribuia à sua naturalização mecanicista do homem e da sua história. Por outro lado, se a obra darwiniana de 1871 remete o leitor para as árvores genealógicas de Heckel(?), ela mostra-se cautelosa quanto à lei biogenética fundamental(*) e a todas as restantes leis da autoria do natu- ralista alemão, como sejam,a lei da evolução (divergência e progresso), as leis da hereditariedade e da adaptação, etc. Quer isto dizer que, mesmo no campo das induções e das deduções científicas, a obra de Darwin, The descent of man, não coincide exactamente com a Natiirliche Schópfungsgeschichte de Haeckel.O que separa Darwin de Hackel não é apenas o intento filosófico do naturalista alemão, mas é também a distância entre a teoria original de Darwin e a versão hxckeliana da mesma, ainda que esta não questionasse a selecção natural, enquanto mecanismo capital da evolução orgânica. 56
  • Conry não acredita que o descent seja tão científico quanto o Origin. É uma obra ideológica. Tort discorda 58-9
  • Ver carta de 1872 a Henry Fick na qual Darwin fala da aplicação do que expressa no final do Descent. 64
  • Posição bastante lúcida e matizada quanto ao pensamento aplicado de darwin 65-6
  • Darwin em portugal, dificuldade de penetração devido a inventariação inacabada da fauna e flora portuguesa. 67 Alguns Darwinistas contudo foram JA Henriques que começou a defender darwin em 1865 e o aplicou ao homem em 1866; JB Reis; Arruda Furtado; LW Carrisso; Bernardo Aires; Cortesão; Carlos Ribeiro; Bernardino Machado; Meirels Garrido; Silva Bassrto; Oliveira Martins; Julio de Matos.
  • Tradução
    • Tem algum significado o facto da obra darwiniana de 1871 ter sido traduzida antes da obra capital de 1859. A tradução da primeira foi publicada em 1910(4) e a da segunda em 19130). Tardiamente, sem dúvida, mas não esqueçamos o “francesismo”(!) português da época que dispunha das primeiras traduções francesas das obras de 1859 e de 1871, desde 1862 e de 1872, respectivamente(?). À volta de 1910, houve um surto de pequenos artigos e notícias de difusão do darwinismo antropos -histórico para o grande público(?), mas, como veremos, as letras portuguesas, com Teófilo Braga, Oliveira Martins e outros, já tinham assimilado, com originalidade, a revolução darwiniana, claramente, desde finais da década de setenta do século XIX. 75-6
  • Braga escapa de Royer 78
  • Em 1909 foram a cambridge para as comemorações EFP Basto (no lugar de Henriques); AF Lacerda; FS Teles. Outros: Raul Proença; Miguel Bombarda; Guedes Quinhones.
  • Lamarck em Portugal breve 82-4
  • Conclusão do darwinismo pt
    • Resumindo: em 1882, exceptuando o artigo de Júlio Augusto Henriques, todos os restantes, mesmo o de Arruda Furtado, acentuam a projecção de Darwin na cultura humanística, partindo da leitura biológica do ser histórico e social do homem feita pelo naturalista inglês. Em 1909, reflecte-se vivamente,entre nós, a competição entre a Inglaterra e a França pela paternidade da “revolução copernicana” nas ciências da vida e do homem. Mas, independentemente d

    • os méritos atribuídos a Lamarck e a Darwin, o que ganhou uma força significativa em Portugal foi o uso da teoria biológica da evolução enquanto arma científica na luta político-cultural. 85
1 - Filosofia: o sentido do darwinismo na ca(u)sa de Antero de Quental
I
  • Ora, é na percepção deste divórcio entre a ciência e a metafísica(l) que se enraíza todo o trabalhofilosófico anteriano, na esperança de ultrapassar o absurdo da incomunicabilidade entre as duas potências mais elevadas do pensamento e que, no fundo, eram obra do mesmo espírito humano. 90
  • Viana de Lima. 91
  • Para Quental a filosofia deveria se erguer no limiar da metafísica e da ciência. 93
    • a teoria geral da evolução, hoje com tanto vigor e brilho formulada por Hackel e seus concorrentes ou discípulos, longe de ser, como vulgarmente se imagina, uma descoberta das ciências naturais e um resultado directo da análise científica, é, pelo contrário uma verdadeira hipótese filosófica, que, produto da elaboração especulativa de perto de três séculos, acabou por se manifestar no domínio das ciências”(!). É como se Antero dissesse que aquilo que há de significativo na ciência não é científico mas filosófico. Portanto, aquilo que o filósofo . deve procurar na substância científica é a ideia multissecular de evolução que, hegelianamente, pela força da sua necessidade interna, se objectivou nas ciências da natureza. O facto de a ideia de evolução, intrínseca e | necessariamente teleológica, se ter objectivado na teoria darwiniana em moldes anti-finalistas, não tinha de ser problema para Antero. Podiatratar: -se de uma contradição necessária, própria da dialéctica do ser e do saber, a caminho da sua inteligibilidade metafísica suprema. 98
II
  • Progresso
    • “... a evolução,isto é, o movimento como hierarquia ou desenvolvimento, implicando a ideia de um tipo, que as formas, evolvendo,tendem a realizar, implica por isso mesmo uma finalidade(...). Quem diz evolução diz progresso. Ora, progresso que não tende para cousa alguma, que não tem um tipo e um fim, não se compreende. Se não há tipo, não há “medida ou termo de comparação na série, não há por conseguinte hierar- “quia: há variedade de formas paralelas e equivalentes, mas não desenvolvimento. No meio dessa multidão de formas inexpressivas, tudo será gualmente perfeito ou imperfeito: haverá ainda transformismo, mas não haverá evolução progressiva”(2). É exactamente isto. A ideia natural de evolução ou descendência com modificações não comporta a ideia de “tipo” paradigmático, em função do qual as formas concretas se dispõem hierarquicamente. 99
  • Materialismo monista (positivismo também) é pseudo-filosófico. 100 Evolução é trigo, monismo é joio. Defesa da espontaneidade da matéria 101
  • Vocação não-filosófica da ciência. 103, 105
  • Canto e Castro 105-7
III
  • Crítica a Haeckel
    • Antero denunciava a cumplicidade do monismo materilaista de Haeckel com uma metafísica unívoca, linear e, afinal igualmente teleológica. Para a dadeira razão filosófica, o paupérrimo finalismo naturalista à Heckel não podia identificar-se com o sentido superior da teleologia que é aquele que aponta para a ideia de Bem e sua realização. O finalismo naturalista imprimia no mecanismo evolucionário uma “intencionalidade que não se traduzia na comunhão Ôntica de todos os seres elevados espiritualmente e humanizados pela razão e pela vontade humanas. A causalidade final no monismo materialista era conflitual, aparentemente de acordo com as leis darwinianas da concorrência vital, da luta pela vida e da implacável selecção natural. Necessariamente, a tradução social, ética e política( ) da metafísica de Haeckel tinha de obedecer aos cânones do mecanicismo antihumanista. .... a subordinação da teoria científica da evolução ao monismo hackeliano convertia a sua essência — a imprevisibilidade(*) — numa forma de progressismo finalista. Ora, dada a projecção de Hasckel e seus discípulos na época, não admira que fosse corrente assimilar o darwinismo ao cientismo e imputar-lhe umavisão perfectibilista da vida(!) que, na verdade, não está explícita nem implícita na obra darwiniana. 115
    • Antero viu mais longe. Percebeu claramente as diferenças entre 6 darwinismocientífico e o monismo hackeliano(2). Compreendeu a ausên- cia de sentido na evoluçãonatural; aceitou a cientificidade da teoria e, por isso mesmo, defendeu que nada de substancial se podia extrair da redução da existência à fórmula struggle for life, .... mostrou como é que a construção de Hackel deixava de ser científica sem poder afirmar-se como filosófica; explanou como é quea generalização das leis do mundo orgânico e a sua aplicação ao universo histórico-social se resolvia numa “pseudo-filosofia”, isto é, numa ideolo- gia teórica. A matriz científica da sua totalizante Weltanschauung saía distorcida dessa lógica ilegítima(*) que nem respeitava a especificidade do método e do objecto das ciências da vida orgânica(”), nem salvaguardava a possibilidade da verdadeira filosofia. 116
  • Perfectibilidade não está explicito em darwin [será? acho que darwin sofre do mesmo mal de haeckel] 116
IV
  • Evolução darwinana fecunda: "o transformismo aboliu as fronteiras entre as ciências da vida e as ciências do homem; abriu o caminho à conversão da antropologia “numa verdadeira ciência natural”(2); presidiu à transformação de outras disciplinas em ciências da evolução natural dos seus objectos como é o caso, entre outros, da linguística que se renovou com o estudo da evolução natural das línguas." 122, mas não a evolução mecânica 123
  • Filosofismo cientista 123
  • A crítica formulada por Antero à “filosofia da natureza dos naturastas”- não visava hostilizar o seu reducionismo mecanicista, mas comreendê-la como “uma verdade fundamental, mas circunscrita, positiva entro dos seus limites, mas incompleta na medida da estreiteza desse limis" 125
  • Competências do cientista e do filósofo 126
  • o darwinismo não é excluído do verdadeiro campo prolemático da síntese filosófica anteriana. Antes, faz parte integrante desse ampo, mas sem mudar de estatuto. Figura nele enquanto matéria-prima or meio da qual a razão filosófica se dá a conhecer a si mesma,na sua bsolutidade, sempre, irrecusavelmente, histórica. A teoria científica da volução está, pois, dentro do campofilosófico mas, não é uma filosofia. 129
V
  • Questões intelectuais e morais. Análise literária aprofundada de algumas obras. Nada de muito interessante para mim.
VI
  • Pampsiquismo.
  • Cc e metafisica
    • cada passo para diante no terreno da especulação provoca logo no campo dasciências uma remodelação das suas teorias gerais, assim como a fundação de mais uma ciência, ou simplesmente o levantamento de mais uma secção no edifício de qualquer delas, propondo à especulação um mundo novo de factos, obriga filosofia, que tem de os interpretar superiormente, a aprofundar ou definir melhor os seus princípios” 146
    • Antero não rejeita o saber científico, não procura corrigi-lo, mas também não o sacraliza. Para o filósofo-poeta, a realidade da ciência é uma prova capital da exitência de atividad epensante e, portanto, do espírito que espontenamente pensa e que, além de inafar positivamente o modo de funcionamento das coisas, não pode deixar de se preocupar com o porque e o apra que de todo o ser. Nenhuma ciência pode impedir o espírito de es´pontenament eperguntar pelo fundamento e peo fim de todo o ser e de todo o saber, muito em especuial do saber científica, há que este detinha na época um poder cultural, social e p9olítico, tendecialmente hegemonico, o que, portanto, constituia preocupação para toda a filosofia da liberddade, mormente, entre nós, para a filosfdia anteriana. 149 ...  Eleva a ciência.
2 - Darwinismo e História
I
  • História depende de biologia para teófilo braga. Panbiologismo. Continua a cientificização de Comte. 155-6
    • Teófilo não questiona o postulado comtiano. segundo o qual, o progresso é o desenvolvimento da ordem e, por isso todos os factos históricos obedecem a uma causalidade teleológica, aind que, por vezes, pareçam casuais. Deste modo, na teoria teofiliana di história, o futuro não está em aberto, como no genuíno darwinismo 160
  • S sexual no amago da dinâmica social 157
  • Monogamia = supeiroridade ariana 158 
  • Arianos = estágio científico (Semíticos metafísico) 162
  • No Systema de Sociologia marca uma sociologia étnica racialista. Raça mal definido, mais retido a morfolgia 163-4
  • Consideração de Pereira:
    • É evidente que Teófilo não pode equacionar o problema fora das noções de progresso e de perfectibilidade substancializadas em moldes comtianos, o que não é, de forma alguma,original, pois todas as construçõescientistas(4) desta época comportavam uma moldura filosófica. Ela servia para dar unidade às proposições científicas em jogo mas, ao fazê-lo, por regra, alterava o sentido que essas proposições, leis ou enunciados tinham no seu campo científico originário. 164
  • Mestiçagem existe, mas não afeta a essência, assim "defender a permanência do tipo antropológico e, simultaneamente, recorrer à lógica darwiniana da descendência com modificações significa usar abusivamente os elementos científicos, como é característica do cientismo" 164 ... A hierarquização dasraças humanas e, particularmente, na “raça branca” o postulado da inferioridade do semita em relação ao ariano, não procede directamente da obra de Darwin(2), mas a partir da revolução darwiniana, institui-se uma ciência racial) que dá cobertura a esta fórmula judicativa, corrente nas teorias raciais da história, a partir dos anos oitenta do século XIX, sensivelmente." 165
  • No Povo Português (1885) [tem um Patria portuguesa (1894) também, não confundir]Demótica = Paleontologia humana + Etnografia. Persistyência, recorrência e sobrevivência 166
  • Naturalismo antimetafísico 170
  • "será ousado afirmar que o naturalismo histórico é de tipo darwinista?" Teixeira Bastos, seu discípulo, diz que sim 170-1
  • Relação com Haeckel
    • a nosso ver, a novaideia de história(4) que Teófilo constrói não é compatível com o espírito ultraseleccionista e eugenista(”) do darwinismo histórico da filosofia monista de Hackel; embora, como demonstrou Amadeu Carvalho Homem, o pensamento de Teófilo seja tributário, numa medidasignificativa, do materialismo monista 171
  • "Toda a produção intelectual teofiliana é obra de militância político- -cultural, ética e estética, enformada pelos cânones filosóficos do posi- tivismo comtiano," 172
  • Visão do tempos (1894-5). Poética naturalista da humanidade ainda positivista. "Pretendia ser a tradução subjetiva da objetividade cien´tifica" 172-3
  • Não toma posição monogenista ou poligenista. 175
  • Ciclos: 1) Faalidade, terra espaço e homem 174; 2) Luta pelo conhecimento natural 179; 3) Liberdade, luta continua. revolução, "struggle for life" das nações 181 
  • Mastodonte 188
  • Conclusão geral
    •  Assim, pode afirmar-se que a luta pelo futuro ideal não é imune à presença activa do aleatório, em particular dos “acasos do meio”(*) e das contingências adaptativas às exigências do evolver. Portanto, se é verdade que Teófilo recusa o factor acaso, enquanto causalidade metafísica, julgamos que, pelo menos na sua poética da história(!), há lugar para a noção naturalista de acaso, enquanto aleatoriedade, embora o seu estatuto na economia geral da sua sistemática seja deveras secundário.
    • A alusão à aleatoriedade evolucionária e a frequência de expressões na epopeia comoa “luta pela vida”, “conflito vital”, “luta ardente”, “conflito da vida” e outras, não perturbam sistemática positivista, designadamente lei dos três estados e a classificação hierárquica das ciências. Mas, de algum modo, significam que o positivismo se adaptou à nova lógica da vida e não foi suplantado na concorrência ideativa finissecular. Essa adaptação não implicava uma metamorfose dos princípios básicos da filosofia comtiana e, em especial, do Amor. É que, se historicamente a consistência ontológica do Amor da Humanidade se reduzia ao estatuto de sentimento frustrâneo ou, como diz o poeta, de “suave ilusão (...) no conflito vital”"(2), nem porisso asleis da natureza o condenavam a uma existência imaginária. Darwin tinha, justamente, observado que a era da simpatia universal() não estava fora dos horizontes da selecção natural. 189-190
  • Aplicação à Portugal e ao cruzamento das raças (Pátria Portugueza) 190 Portugueses arianos, Espanhois semitas. 197
  • Rças
    • ... o arqueólogo da Patria nunca questiona a raça, em sentido biológico(!), enquanto causalidade estrutural do processo histórico, o que estava de acordo com a matriz cultural-epistemológica dominante na época que conjugava a herança do romantismo historiológico com as repercussões antropológicas do paradigma darwiniano. Mas, Teófilo reclamava-se do registo estritamente naturalista; por isso, distinguiu a história das raças da história das línguas; por isso, não trabalhou com a distinção entre “raças antropológicas” e “raças históricas”(2) embora, em 1908, se tenha ocupado da noção de “raças sociológicas”(). Na verdade, Teófilo não podia, em coerência, fazer questão de distinguir a categoria antropológica de raça da noção de raça histórica porque isso significaria admitir que, na expressão de Henri Berr, “les hommes échappent à cette chrysalide: la race”(4). Ora, se no curso histórico, os homens se libertassem do determinismo biológico, tornar-se-ia absurdo defender umahistoriologia naturalista(?). E não esqueçamos que, para Teófilo, mesmo a ética do altruismo que será norma nos tempos históricos futuros, está inscrita no sangue celta da raça francesa, conforme está explícito em Visão dos tempos. 199
  • Pereira Conclui
    • Sem dúvida, a elaboração de um código naturalista de leitura da história e sua aplicação à história portuguesa, incluindo a história da cultura e da literatura, foi uma das primeiras preocupações do pensamento teofiliano a ganhar corpo. Com efeito, esta orientação impregna um comjunto de trabalhos produzids de 1868 até 1871, daa de Epopeas da raça mosárabe, e é retomada, a aprtir de 1878, na sua Histpria unive3rsail alcançand o seu nível de eleboração maims complexo em A patria portugueza, publicada em 1894. 199
  • "Portugal é um patria porque é uma raça", não desenvolvida pois falta evidência, "somoslevados a afirmar que o reconhecimento teofiliano da diversidade física e psicológica da população portuguesa foi um dos factores impeditivos da transformação da sua teoria racialista da história numateoria racista da história" 201-2
  • Se compreendeu a vantagem da diversidade viu mais e mais longe. Rocha Peixoto detestava. "nosso autor exorcizou esse problema sem sair do naturalismo histórico, na medida em que soube converter a miscigenação num trunfo biológico e civilizacional. " 203
II
  • Críticos do germanismo teofiliano.
  • Julio de Vilhena mais latinista, antisemita e fracófilo 205-211
  • Racialismo/Racismo
    • será legítimo considerar racista(4) esta | leitura do processo histórico peninsular? Se se considerar epistemologicamente ilegítimo aplicar um termo novecentista() a um trabalho oitocentista, a resposta é negativa. Além disso, é de sublinhar que o estudo de Júlio de Vilhena não é, de modo algum, marginal, relativamente às certezas fundamentais da sua época(!) e, por isso, não podemos julgá-lo racista sem, ao mesmo tempo, denunciar toda a antropologia de oitocentos e, especialmente, a antropologia pós-darwiniana, como bem observou Claude Blanckaert 212-3
  • JJ melo contra a hierarquia das raças 213
  • Correia Barata, naturalista darwinista arianista 214
    • Acusava TB de abuso da teoria darwiniana 222
    • Onde está a descendência com modificações (Darwin), se toda:a argumentação de Correia Barata se orienta no sentido de provar a descendência sem modificações? .... Onde está a descendência com modificações (Darwin), se toda:a argumentação de Correia Barata se orienta no sentido de provar a descendência sem modificações? 226 [isso é mencionado anteriormente no caso de teófilo braga eu acho]
  • Questão de Royer 215-6
  •  Ecletismo teórico de tipo darwiniano do transformismo continental 216 
  • Darwinismos
    • tal fidelidade era muito improvável, não só no caso de Correia Barata, como em todos os autores que praticaram o naturalismo histórico depois da revolução darwiniana. Se, por um lado, a história humana extravasa a lógica evolucionária da vida e revela ser irredutível às leis da história das plantas e dos animais, por outro lado, desde a década de 60, os darwinismos multiplicaram-se e muitos nem conservavam da teoria de Darwin o tópico nuclear da sua revolução científica(2 [ver mayr quanto aos darwinismos]), isto é, a selecção natural. 
    • É que, as ideologias não são obra, apenas,de literatos. O cientista que faz ciência, também podecair no cientismo(*). Por isso, é pertinente recordar o seguinte: sendo ponto assente que as interpretações racialistas da história seriam cultivadas mesmo que a revolução darwiniana nãose tivesse efectuado(4), o certo é que essasleituras do processo histórico não podiam prescindir de um fundamento científico, num tempo dominado pela razão mecanicista, indutiva, experimental e comparatista. Se não há dúvida que a obra de Darwin se pauta pela prudência, e, em regra, pela suspensão de juízos afirmativos da desigualdade e da hierarquia das raças humanas, por outro lado, é incontroverso que Darwin, desde a primeira hora(!), não excluiu a espécie humana do mundo vivo e que, portanto,as leis da histori= cidade deste se aplicam também à humanidade. Se Darwin nada podia contra o uso e abuso da sua teoria pela dinâmica cultural cientista da sua época, por outro lado, também não podia demarcar-se dela, pois, de facto, nem mesmo podia argumentar que as leis do mundo vivo não contemplavam a espécie humana e o seu devir histórico, sob pena de arruinar a sua obra.
    • Por tudo isto, a naturalização da história da humanidade, em moldes darwinistas, era inevitável e não surpreeende que este reducionismo, de insofismável pobreza de sentido, tenha sido praticado, de forma mais radical, por cientistas da natureza do que por outros agentes culturais ligados a áreas diversas das humanidades e das ciências sociais. Mas se é verdade que os autores com formação científica podiam fazer uma hermenêutica naturalista da história mais sofisticada e hermética, aparentemente mais científica, como no caso vertente, também é verosímil que isso não os impedia de desenvolver uma consciência crítica relativamente à transposição do código darwinista de leitura da história natural para a história humana. Mas, se o fizessem seriam marginalizados. Pelo menos, os cientistas que enveredaram por esse caminho, foram, em regra(2), marginalizados pelos seus pares. 227-8
III
  • Oliveira Martins
  • Resposta a Braga 237
  • Antero o vê como um determinista natural 239, 241, tem certo fundo em 1873, mas fica mais claro depos 244-5
  • Teoria de história
    • De facto, a lógica darwinista da vida surge, no texto martiniano, como uma base explicativa da dinâmica histórica. Mas, nota-se em todo o curso textual uma espécie de fuga de sentido, porque este código científico não permitia elucidar a natureza singular da historicidade(?). Em causa estavam os limites do mecanicismo darwiniano que se traduziam na impossibilidade de prever uma dimensão capital do tempo histórico: o futuro. No entanto, esta limitação do código darwiniano é vista por Oliveira Martins como um trunfo teórico relativamente aos códigos filosóficos da história, de matriz metafísica(?). Com efeito; a teorização darwiniana, ao introduzir a noção de imprevisibilidade(*) no devir natural, afirmava um princípio epistémico inovador, demarcando-se, quer do mecanicismo absoluto, quer dos teleologismos providencia listas e metafísicos, o que, em certa medida, respondia às preocupações de Oliveira Martins, insatisfeito com as teorias finalistas(!) da história. 250-1
    • lei zoológica da selecção. Observa-se em cada grupo de sociedades que a mais bem dotada a todos os respeitos acaba por submeter a si as vizinhas pelas assimilar ou destruir, substituindo-se-lhes. Observa-se que esta raça ariana a que pertencemos, eminente entre todas, foi confiscando para si as conquistas dos povos que encontrou no seu caminho épico, impondo o seu domínio por toda a parte onde a levou o destino de uma expansão que já hoje abraça o globo inteiro”(*). O que se lê é, exactamente, ponto por ponto, em termos conceptuais e lógicos, a cadeia argumentativa do princípio darwiniano dá selecção natural ou a preservação das raças favorecidas na luta pela vida 252
  • Raça ariana como tipo 251-2, 256
  • Futuro não dogmático 257 "é que a sorte não nos foi propícia" 261
    • Neste ensaio martiniano nada nos autoriza a afirmar que o autor tem uma concepção hierarquizada dos ramos da raça ariana, o que significa que, através do factor acaso, o pensamento martiniano se distanciou da classificação hierárquica dos diversos ramos da raça ariana, defendida, especialmente, por Heckel(2). Masesta distância, que testemunha a independência mental de Oliveira Martins, não põe em causa a sua proximidade relativamente à lógica darwiniana da vida. Pelo contrário, como resulta da nossa exposição, a teoria martiniana da história é mais concordante com o texto darwiniano do que com a versão “ultradarwinista”(!) do evolucionismo, construída por Hackel. É que, Oliveira Martins, além de entrar em linha de conta com o factor acaso, salvaguardando a natureza imprevisível da história, qual eco da história natural darwiniana, coloca na base do sucesso expansivo do arianismo as leis naturais da propagação e da apropriação. ... Deixou claro que a sua ideia de evolver não coincidia com a evolução dialéctica hegeliana; nem com a evolução positivista de Comte; nem com a evolução fisicalista de Spencer. E, embora não se identifique com o darwinismo tout court (2), O certo é que a sua ideia de evolução ganha contornos no quadro do paralelismo entre a concepção evolucionária da história da terra e da vida e da história do homem. Numa como noutra, “a evolução resulta de uma sucessão de revoluções mais ou menos aparentes”. 261-2
  • Sociologia comparada. 266
  • Tendência socialista 269
  • Raça e raça histórica 272-4
  • Conclusão
    • Para nós, é claro que, na obra de Oliveira Martins, o mecanismo da selecção natural constitui a inteligibilidade mínima do processo de universalização da história. E, tal como em Darwin,a selecção também é compreendida como um mecanismo de preservação do mais vantajoso e de fixação do novo, não sendo, porisso, reduzida à função negativa de eliminação das raças, ditas, menosaptas na luta pela vida e pela existência histórica. 274
  • Portugal 274
IV
  • Ramalho Ortigão.
  •  “A decadência da raça pelos vícios da educação [jesuítica]”(2), apresentou e defendeu a ideia, segundo a qual, textualmente, “a história da nossa decadência oferece a mais perfeita confirmação das leis de Darwin". Militância laica. 285
  • Evolução regressiva. Decadência naturalista. 286, 293
  • Inquisição e Darwin 288-9
  • Seleção militar minimizada 289
  • De que vale a educação se o meio permanece o mesmo? 293-6
  • Longa discussão sobre Chamberlain afastando-o de Ortigão.
  • Diletantismo
    • Mediador entre o cientista especializado e o ignorante. "Daí decorre a afirmação do valor pedagógico do diletantismo, mas também do seu valor cultural-evolucionário, no sentido em que a divulgação diletante do saber é um processo criador."
    • Para Chamberlain,o interesse do diletantismo pela vida real imprime um sentido prático, o único verdadeiro, ao conhecimento científico. Éaconfiguração desse sentido que leva o diletante a romper as fronteiras da especialização académica, a colocar as diferentes ciências em inter-relação e a extrair do seu conjunto o sentido orientador da existência individual e social, isto é, a “verdade viva”(1). O diletante transforma o conheci-mento em sentimento, faz dele uma maneira de sentir (Gesinnung (2)), uma força viva consciente e inconsciente que determina a acção de acordo com os dotes individuais e raciais. Ele vivifica a ciência, convertendo-a num saber configurador do presente e do futuro. Assim se justifica plenamente que, nos rostos dos dois volumes dos Grundlagen, Chamberlain tenha inscrito em epígrafe estas palavras de Goethe: “Nous appartenons à la race qui de Pobscurité s'efforce vers la lumigre”. O verdadeiro espírito diletante está voltado para o futuro(?), esforça-se por compreenderos seus apelosàluz da substância histórica do passado e do presente. Se a história, interpretada cientificamente, isto é, em moldes naturalistas-biológicos-raciológicos, anuncia um destino glorioso para o germano, é dever do diletante colaborar com o sentido da história, vivificar a sua direcção e imprimir na consciência do germano a necessidade da disciplina racial.
    • “Quem sabe se um papel importante não está reservado ao diletantismo na evolução da cultura e da mentalidade?" 311
V
  • Augusto Coelho
  • Baseado em Spencer. 317 "O meio é fator supremo da alma dos povos [ecoa Le Bon]" 318
  • Vacher de Lapouge eugenista pessimista. antimiscigenação 324-5 Para Coelho, a SDN era providência que garantia o progresso dos povos. Nenhuma seleção artificial dá conta da SN. 325-6
  • Apontamento
    • o darwinismo historiológico, mesmo após a teoria gi E niana(”), não evoluiu num sentido exclusivamente seleccionis aro É leitura lamarckisante de Darwin continuava arevelar a sua operativi ça cultural que, de resto, até hoje, não diminuiu( 326
  • Conclusão
    • o mito nórdico construído pela antroposociologia usava de forma distorcida os conceitos darwinistas de luta pela vida, variação, adaptação, selecção natural, hereditariedade, raça, inscrevendo-os num horizonte eugenista, em nome do progresso histórico e da perfectibilidade humana. Mas, a teoria de Augusto Coelho não era menos ideológica, pelo facto de não alinhar com o fundamentalismo seleccionista da antroposociologia. O cientismo do nosso pedagogo é conformista, diria mesmo, providencialista, no sentido em que, na sua teoria da história, a selecção natural assemelha-se a um Deus bom que vela pelo progresso; nos limites do possível, atendendo à insuperável animalidade da espécie humana. 328
Darwinismo e Engenharia Social
I
  • Sociologia de Teófilo Braga.
  • Renovação de matriz comtista. Leitura biologizante da sociedade. 331-3
  • Malthus
    • não é exactamente o princípio malthusiano que Teófilo considera sociologicamente operativo, mas é o princípio biológico da população, enquanto “motor(...) do transformismo” que tem autoridade epistemológica para garantir a reformulação da sociologia. 333
  • Trad: traduz um pedaço do Struggle em 1877 "Teófilo não indica que edição utilizou e não sabemosse traduziu do inglês, do francês, ou de outra língua." 333-4
  • Evita o termo seleção, mas o deduz 335
  • “a sociedade modifica em formas especiais o conflito pela vida e a selecção do mais forte, como procede a natureza orgânica (...) a selecção social actua na diferenciação das castas, das classes e na divisão do trabalho”. Seleção social 335
    • Teófilo considera “a regulamentação das relações sexuais no casámento, como base de toda a disciplina social”(?), mas distingue o casamento monogâmico do casamento poligâmico e atribui o primeiro às “raças progressivas” e o segundo às “raças improgressivas”(*). A poligamia é uma forma empírica de disciplinar a selecção da descendência mas constitui, na óptica teofiliana, o principal obstáculo ao progresso social. Este juízo emitido sobre a poligamia não é propriamente de inspiração darwiniana. Em obra alguma, Darwin hierarquiza as formas de aliança matrimonial ou estigmatiza moralmente qualquer dos múltiplos tipos de acasalamento que observou na natureza. Também a hipótese defendida por Teófilo da “promiscuidade das mulheres ou dos maridos “(º) nas sociedades selvagens não foi colhida na obra darwiniana 336
  • Além de valorizar as diferenças individuais socialmente benéficas, Teófilo Braga defende que a evolução social é garantida pela selecção tendencialmente hegemónica das variações vantajosas, transmitidas hereditariamente, o que faz sentido à luz do pressuposto darwínico, segundo o qual, “a sexualidade é o fenómeno biológico que mais actua, depois da necessidade da alimentação, sobre a colectividade social” 338
  • Darwinismo
    • a teoria de Darwin não diz outra coisa relativamente ao problema das variações, incluindo os hábitos e os instintos sociais(*). Mas, sendo as fórmulas de Darwin, destituídas de uma carga política-programática bem definida(Descent 127-145), elas podiam ser usadas em diversos sentidos ideo-políticos. 338
  • Política cientificia
    • A política científica propõe-se disciplinar a luta pela vida, sendo esta a lei natural que rege a dinâmica social. Com efeito, Teófilo advoga a cientificação de todas as instituições empíricas que nasceram da necessidade insconsciente de corrigir o desequilíbrio entre a população e as subsistências. ...  O naturalista inglês afirmava o poder evolucionário da selecção natural nas sociedades humanas, sem excluir as vantagens da eugenia positiva: .... ssim se compreende o valorestratégico da moral científica, no quadro da transição da política empírica para a política científica nas sociedades industrialistas, onde o maior número, na óptica teofiliana, revelava condições orgânicas para protagonizar o ideal de progresso na ordem com amor. 339-40
  • Instinto de simpatia
    • Teófilo sustenta que o instinto de simpatia se desenvolveu segundo a lei comtiana dos três estados afectivos da Humanidade, independentemente do instinto sexual, mas no quadro da luta pela vida. ... A concorrência vital é, assim, afirmada comoacondição de possibilidade da evolução material, mas também espiritual da humanidade. Ela sobredetermina o desenvolvimento do instinto de simpatia que, sendo a tendência natural de religação, se traduziu historicamente segundoa lei dos três estados afectivos-mentais da humanidade. Portanto, o progresso do espírito humano elevouoinstinto de simpatia a formas de sociabilidade tendencialmente racionais, que a ciência social teofiliana procurava codificar(?), não em moldes absolutos e categóricos, mas de acordo com o relativismo sociológico(?). Assim, a síntese afectiva, demonstrada ou científica, estabelecia “uma Arte de bem viver”(>) em cinco normas orientadoras de sentido higiénico-moral, conciliando o bem-estar social com o “bem-estar subjectivo”(º), ou procurando “estabelecer o justo meio entre o interesse individual e a obediência ao conjunto social”(”), para que a coesão democrática da sociedade se afirmasse, no quadro da concorrência vital. 342
  • Moral (trad)
    • para a sociologia teofiliana pouco importava que o neo-darwinismo weismanniano tivesse provado a intransmissibilidade à descendência dos caracteres adquiridos pelo corpo do indivíduo (soma), no decurso da sua existência. ... Na verdade,a sociologia de Teófilo Braga limita-se a reflectir a ideia darwiniana de evolução. Ora, esta ideia integrava o mecanismo evolucionário defendido por Lamarck(2) e, nessa medida, não era exclusiva: mente seleccionista; ela demarcava-se quer da ortodoxia seleccionista de A. Wallace(?), quer do seleccionismo germinal de Weismann(). Se Teófilo valoriza a higiene e a aprendizagem no quadro dum biologismo sociológico é porque reconhece que os hábitos e o uso dos órgãos podem produzir efeitos orgânicos de sentido evolucionário. Não é improvável que Teófilo (também) conhecesse Darwin, em francês, na tradução de Clémence Royer. Por essa via, Teófilo ficava plenamente familiarizado com o princípio de Lamarck, visto que a tradutora tomava a liberdade de corrigir o texto de Darwin com notas e comentários de sentido lamarckiano. O seu objectivo era, explicita e assumidamente, o seguinte, na conclusão da tradutora: “c'est donc comme disciple de Lamarck que j'ai traduit Ch. Darwin” 
    • O certo é que,o princípio lamarckiano da transmissão hereditária dos caracteres adquiridos era fundamental na economia sociológica de Teófilo Braga, porque garantia a possibilidade de moldar o telos histórico sem alienar a natureza biológica do processo evolutivo da humanidade(). De evolução caucionava o sucesso do voluntarismo ético-pedagógico e dispensava a via da disciplina eugénica, que não servia os intentos teofilianos. Masisto não significa que Teófilo se tenha distanciado da lógica darwiniana. O nosso autor conhecia bem a diferença entre Lamarck e Darwin e sabia que a selecção natural não excluía os mecanismos evolucionários lamarckianos(2). Assim, a defesa da universalização do ensino laico não contrariava a lei natural da luta pela vida, nem o critério darwiniano da sobrevivência dos mais aptos que, rigorosamente, era um critério numérico.
    • Teófilo Braga nunca perdeu de vista a lição darwinianae, a essa luz, advogava que as classes numericamente superiores eram aquelas queapresentavam mais probabilidades de gerar uma descendência numerosa € de nela emergir um maior número de indivíduos altamente capazes. Assim sendo, o ideal demopédico(?), ao proporcionar uma igualdade de oportunidades na luta, colaborava com a ordem natural das coisas. Dizendo de outro modo: o pedagogismo teofiliano estava ao serviço da selecção natural, pois contribuia para que a luta pela vida se processasse de acordo com as desigualdades naturais. A escola era considerada um dos meios mais eficazes para combater as desigualdades artificiais e, simultaneamente, para favorecer a emergência das desigualdades naturais. Ora, a esta naturalização total da sociedade correspondia uma nova síntese afectiva, justamente, a síntese afectiva científica e laica, que velava pelo desenvolvimento natural do ser emotivo e ideativo do homem. Assim, o cientismo teofiliano eliminava do horizonte sociológico, não apenas a moral teológica(*), mas também a moral do perfectibilismo eugenista, que não era linearmente dedutível das premissas darwinianas(”).  
    • Se Teófilo julga que o ideal de perfectibilidade social (o progresso na ordem com paz e amor) não carece de mecanismos eliminatórios dos menos aptos, nem de mecanismos de selecção artificial dos melhores progenitores, então, é porque deposita umafé cientista nasleis naturais da luta pela vida e da selecção natural. Nem a evolução do instinto altruista no sentido da solidariedade social, nem a evolução do instinto de conser- vação no sentido da afirmação do indivíduo, nem um nem outro, implicam a anulação da luta pela vida, porque esta se prende originariamente com o instinto sexual e, nesse capítulo,a sociologia teofiliana pauta-se pelo abso- luto relativismo. Quer isto dizer que, a síntese afectiva científica não é umadisciplina da sexualidade, porque Teófilo pretende que os benefícios da normalização democrática-industrialista-científica da sociedade hão afectem as vantagens biológicas da selecção natural. Se o altruismoé algo que resultou do processo evolucionário, se, portanto, não é um dogmaarti- ficial e imposto, uma invenção estranha à natureza emotiva-afectiva. do homem, então, não faz sentido que ele anuncie o fim da lei natural: O mesmo é válido para o ideal de Paz civil internacional, cujas vantagens selectivas são óbvias. E, se a educação facultasse a todos iguais oportu- nidades de revelarem as suas aptidões e talentos, então, na democracia positivista, as desigualdades naturais afirmar-se-iam, o que seria útile benéfico, tanto para a realização do indivíduo, como para o “bem estar do maior número”(!). A luta pela vida não pode reduzir-se à fórmula hobbe- siana — homo homini lupus —(2), nem nas sociedades selvagens e menos ainda nas sociedades civilizadas que se preparavam para o regime normal da Paz, da Indústria e da Moral científica(?). 346-8
  • O que é darwinismo social? 348-9
  • Braga: Darwinismo social em otimismo liberal. Originalidade na conjugação com o positivismo. 349
  • Positivismo
    • Em França, apesar das divergências de exegese do sistema comtiano, entre os partidários da ortodoxia de Laffitte e os seguidores da heterodoxia de Littré, a teoria darwiniana não foi abordada em moldes substancialmente diferentes pelas duas correntes positivistas. É que, como demonstrou Yvette Conry, todos os positivistas leram e interpretaram Darwin à luz dum postulado fundamental do comtismo, segundo o qual, o progresso é o desenvolvimento da ordem. Este dogma do sistema comtiano levou-os a entender a evolução enquanto desenvolvimento. O caso de Émile Littré, crítico e dissidente de A. Comte, é muito significativo, atendendo a que se tratou de uma figura que imprimiu uma marca muito forte na França cultural da segunda metade do século XIX e que, além disso, se projectou internacionalmente. Como é sabido, a sua influência exerceu-se também na configuração do positivismo português(*), mas não foi tão dominadora ao ponto de condicionar a leitura que Teófilo Braga fez da revolução darwiniana(!). Emile Littré, embora menos dogmático do que P. Laffitte, foi considerado como paradigma das resistências epistemológicas do positivismo à teoria darwiniana(?). Guiado pelo espírito metodológico do comtismo não recusa a priori a teoria darwiniana: “je n'ai aucune répugnance dogmatique contre le transformisme. Il m'est absolument indifférent que nous descendions, animaux et végétaux, les uns des autres”(?). O eminente lexicógrafo e historiador da medicina aceita formalmente a teoria transformista como uma hipótese não verificada e rebate as suas implicações filosóficas e sociológicas(*). Na verdade, Littré permanece tão impermeável à teoria darwiniana como todos os restantes positivistas franceses. É que, a ideia de modificabilidade entendida enquanto desenvolvimento é comum a Littré, a Charles Robin, a P. Laffitte, a E. Jourdy, a JFE. Chardoillet, a F. Harrison, e outros(). À luz do estudo analítico realizado por Yvette Conry, conclui-se que, no fundo, os positivistas franceses julgaram que a teoria da descendência com modificações era redutível à evolução embriológica, no sentido pré-wolffiano de “desenvolvimento”(º), integrante da ideia pré-formacionista. 
    • Este equívoco foi alimentado pelo postulado comtiano do progresso enquanto desenvolvimento da ordem. Na interpretação da historiadora francesa, aquele postulado impediu a inteligibilidade do sentido da evolu-ção darwiniana. Assim,o princípio darwiniano da variação é lido enquanto diferença de intensidade no desenvolvimento da ordem, “imitant en cela la différence de vitesse interne à la loi destrois états(1). Asvariações são reduzidas a variabilidades porque se supõe “qu'elles sont régiées dans Vordre d'un développement, faute de quoi Véquilibre céderait à la maladie ou à la révolution”(2). Por outro lado, o princípio da selecção foi contestado, sem ser compreendido. Por exemplo, E. Jourdy como F. Harrison não hesitaram em escrever que a selecção era estranha às grandes leis sociológicas porque não havia qualquer traço de selecção na lei dos três estados(2). Também Patrick Tort conclui que, em regra, todos os positivistas franceses “repoussent toute application des concepts et schémas darwiniens (sélection naturelle et modele malthusien) à Pétude des sociétés”(4) porque, apesar das suas divergências, a sua fidelidade dogmática aos traços fundamentais do comtismo,limitou radicalmente a sua avaliação da teoria darwiniana. 349-51
  • Pereira acredita que o comtismo não era tão refratário ao darwinismo, se fosse não haveria teófilo. 351
  • Darwin toma conhecimento de Comte em 1838. Darwin gostou e embora não pareça haver grtandes influencias ", é lícito afirmar, no mínimo, que o espírito de positividade laica do comtismo estimulou fortemente a elaboração da teoria darwiniana." Ou seja, não há contradição na gênese da coisa 352
  • Mais perto de Darwin do que de Spencer devido a Comte. Síntese afetiva 352-3
  • Fundação do relativismo sociológico ao determinismo biológico. 355-6 SN supera SAs no processo para o maior triunfo. Rumo a "desigualdade do talento".
II
  • Psicosociologia de Julio de Matos.
  • Ultraselecionismo. "a inteligibilidade darwinista do social sobrepôs-se à direcção positivista ... sob influência de Teófilo Braga" 359
  • Critico de Littré, duplamente heterodoxo (materialimos evolucionista) 359-60
    • propunha defender que o princípio evolucionário darwiniano devia ser integrado na filosofia positiva. Simultaneamente, Júlio de Matos procurava justificar a legitimidade das reservas de A. Comte, em relação ao transformismo lamarckiano. É que, segundo argumentava, a evolução na Filosofia zoológica (1809) de Lamarck era ainda de tipo metafísico, pois decorria de “uma força intrínseca predeterminada e preestabelecida, um impulso inicial, como o mais importante factor na explicação do transformismo das espécies”(2). Os princípios lamarckianos da adaptação e da hereditariedade não assentavam numa base positiva e, por isso, A. Comte não podia aceitar o transformismo do naturalista francês. Mas, como advogava Júlio de Matos, “a questão mudou de aspecto depois dos trabalhos de Darwin, Wallace e Hackel, etc., e eu creio que é impossível hoje a um positivista deixar de aceitar o transformismo como uma hipótese legítima”(). ... sua preocupação em justificar a rejeição comtiana da doutrina de Lamarck percorre toda a sua exposição, o que denota o seu empenho em se conservar fiel à disciplina positiva do pensamento e, também, a sua profunda ligação à obra de A, Comte, numaatitude epistemológica semelhante àquela que Teófilo Braga adoptara. 361
  • SN em termos positivistas. Hipotese positiva. 362
  • Seleção psíquica sobrepõe 362
  • Contra o providencialismo que atrapalha o jogo, eugenia pura 362
    • Não causa a menor surprésa à facto de Júlio de Matos, em 1880-1881(1), atribuir ao filósofo francês a autoria do princípio epistemológico que consistia em “fazer preceder o estudo da ciência social pelo estudo da ciência da vida”(2). Era dé ele. mentar justiça, reconhecê-lo. Mas, enquanto a filosofia biológica de Comte, exposta em seis lições, escritas em 1836 e 1837 (da 40º lição à. 45º lição do Cours (2), se saldava, na expressão de G. Canguilhem, “dans . Vidée de la Biocratie, condition de la Sociocratie”(*), Júlio de Matos, já então, tinha em mente uma outra ciência da vida. Tratava-se, precisamente da ciência darwiniana, que não se revia nas categorias biocráticas de Aierarquia, subordinação e unidades biotáxicas(*) da filosofia biológica comtiana. 364
  • Tranfiguração do darwinismo pelos franceses 366
  • Paralelo com o descent 367
  • "É na resposta ao problema do mecanismo evolucionário que Júlio de Matos revela que compreendeu bem a diferença entre Lamarck e Darwin. Em lugar de proceder como os franceses que lamarckizaram Darwin, Júlio de Matos secunda o mecanismo evolucionário darwiniano." 369
  • Ao contrario do que verificamos na sociologia teofiliana, o positivismo comtiano não exerceu em Júlio de Matos um efeito temperador dos corolários políticos que diversos sociólogos evolucionistas, particularmente Herbert Spencer, e mesmo zoólogos como Ernst Heckel, ou juristas e criminalistas como Garofalo, extraíram da doutrina darwiniana. Se Teófilo Braga, possuidor duma inteligência política invulgar, não resvalou para o seleccionismo conflitualista, já o mesmo não ocorreu com o seu condiscípulo republicano. 370 > Ultraselecionismo via Spencer e principalmente Garofalo.
  • Contra o socialismo > Darwinismo social indicidualista 373.
  • Comparação com darwin
    • A divisão da sociedade em classes superiores é inferiores, segundo um critério ético, era corrente na literatura sociológica e política de cariz liberal, produzida na época. O próprio Darwin também utiliza as categorias de homem prudente-superior (prudent-better) versus homem imprudente-inferior (reckless-inferior), sendo este identificado com o maior número. Mas, na matriz darwiniana, esta desproporção numérica entre o homem superior e o homem inferior não constituía um obstáculo à evolução civilizacional por selecção natural, porque, naquelas condições, a luta pela vida tornava-se mais dura. Todavia, pela lógica darwiniana, o estado-providência podia criar dificuldades artificiais à selecção natural, embora esta dispusesse de meios que garantiam: o sucesso dos mais qualificados(3). 374 .... De modo algo diferente, Júlio de Matos temia que o intervencionismo estatal tivesse poder para inverter o sentido progressivo da evolução". 375
  •  Não enfatiza a descendência com modificação não teleológica, mas a luta pela vida.  "Desigualdade biológica e social entre os indivíduos"376 Não teleologia vem na enfase ao individualismo 377
  • Ferri, em oposição, italiano socialista darwinista (há ainda outros 383 (prestar atenção em Woltmann)). Garofalo ia com Haeckel contra o socialismo. 381
  • Socialismo como involução civilizacional impossível 394 e como sistema de pedagogia infantil, anormal-patológicaa 400 sempre amoral.
  • Matos é mais rígido que Le Bon e Spencer. 403
  • "na concepção matosiana, a sociologia é uma disciplina subordinada à psicologia normal e patológica que, por seu turno, mantém relações de dependência estrutural com a biologia filogenética e ontogenética. Note-se que, este tipo de relação inter-disciplinar não é basicamente diferente da concepção comtiana," 406 também semelhante a spencer 410
  • Eugenia hard  anti-pedagógico, não tomava a força do meio e a herança adquirida de lamarck mas a SN bruta e endogenia individual. 412-15
  • Eça também não gostava de socialismo, mas era mais manso 418
  • Resposta dos socialistas n'A canalha 428 tambem com matiz darwiniana 433
III
  • Anarquismo
  • Kropotkine fala da redfução do darwinisms pela burguesia em spencer 436
  • Campos Lima
    • aceita a selecção natural como sendo a lei científica da evolução das espécies vegetais e animais. Por outro lado, considera que a história da espécie humana não se processa rigorosamente em conformidade com o mecanismo evolutivo darwiniano, na medida em que a luta (inter-individual, inter-classista e inter-racial) não se resolve sempre pelo triunfo dos mais aptos ao nível orgânico, como era norma na luta natural. O autor verificava que, no tempo pretérito e presente do evolver civilizacional, a selecção natural era dominada por alguma forma de selecção artificial. Com frequência, os detentores dos melhores dotes físicos e psicológicos eram subjugados por aqueles que possuíam meios exteriores de triunfo, como o poder económico, o poder militar, o poder político, o poder cultural, etc.. 437
  • Na anarquia sim que não há artificialidades que atrapalhem a seleção natural 439
  • Ângelo Vaz e Ajuda recípocra de Kropotkine 439-441 Contra apropriedade privada 445
  • Ressaltam Lamarck. 446, 449 Força pedagógica lamarckista 450-51, 461
  • Kropotkine contra Malthus 452-3 mas Angelo Vaz abraça um neo malthusianismo em seu anarquismo 455, 459-61
  • Conclusão
    • Como vimos, o pensamento libertário defendia que o sucesso da revolução social era garantido pelas leis científicas da história natural, tanto pelas leis lamarckianas que sobreviveram no interior da teoria de Darwin(2), como pelo mecanismo evolucionário propriamente darwiniano, isto é, a selecção natural. Ora, uma parte significativa do darwinismo social, que os anarquistas consideravam “burguês”, não se escudava apenas no núcleo duro da teoria darwiniana, mas recorria às leis de Lamarck para identificar os mais capazes com os detentores do poder económico, político, cultural e militar. Nada há de surpreendente no facto de doutrinas sociais tão diferentes, como o neo-liberalismo de H. Spencer ou o anarquismo de Kropotkine, se justificarem pelos mesmos mecanismos evolucionários(), pois, sendo estes abstractos, podiam ser preenchidos com os valores preferidos por cada doutrinador. Mas, quando uma ideologia quer afirmar a sua diferença radical, ela abre brechas na sua identidade ao recorrer a modelos cientistas vinculados a outros ideários sociais.
  • Gauthier e o darwinismo social verdadeiro e falso. "seu ideário acrata defendia a selecção artificial da igualdade, da liberdade e da solidariedade contra a selecção artificial dos privilégios, dos direitos e das vantagens das classes possidentes." 465 Leitura um tanto abusiva 468
  • Haeckelismo neo lamarckiano recapitulacionista por parte de Campos Lima.
  • Sobre Haeckel
    • à semelhança da posição hackeliana, não era exactamente a teoria de Darwin que o autor [campos lima ou bombarda?] recusava, mas sim o neo-darwinismo exclusivamente seleccionista de A. Weismann(!). Este não convinha a Hackel porque significava a ruína da sua antropogenia, fundada na lei biogenética fundamental que, por seu turno, se alicerçava noprincípio lamarckiano da transmissão hereditária dos caracteres adquiridos. Para defender a integridade do seu sistema monista, Haeckel colocou-se ao lado de Spencer(?) na longa controvérsia que o filósoio inglês travou com Weismann, entre 1893 e 18970), precisamente sobre a hereditariedade dos caracteres adquiridos. Hackel recusava o determinismo germinal e advogava o poder modelador do meio e da educação sobre o indivíduo e a sua descendência. Contra o seleccionismo weismanniano, Hackel permanecia “lamarckien et sélectionniste, ainsi que Vétait le nom moins énorme Spencer”(*) e, entre nós, Miguel Bombarda(”).
    • Neolamarckismo em conjunto com darwin em oposição a Weissman no Origem do homem 1898, [talvez só na 3ed] 473-4
  • Alfredo Pimenta. Pedagogo anti clerical meio anarquista. Traduziu Buchner e apoiva-se no lamarckismo de Dantec e Haeckel mas "Sobre o ideal higienista e eugenista de Hackel e sobre a moral natural do egoismo físico-químico de Félix Le Dantec, o silêncio é regra." 475
  • Ciência burguesa como ficção social a ser destruída pelo anarquismo. 476-7
IV
  • Eugenia
  • Haeckel no enigma: "que vantagem tem a humanidade em conservar a vida e educar milhares de enfermos, de surdos-mudos, de cretinos? Que utilidade tiram estes miseráveis da própria existência? Não será melhor cortar logo no começo o mal que os atinge a eles e às famílias?" 480
    • Porém, o pensamento eugenista que é detectável na obra darwiniana, situa-se exclusivamente ao nível da reprodução(*), e de modo algum comporta ideias de selecção espartana, de eutanásia e outras práticas criminosas como é manifesto nas reflexões hackelianas. Neste domínio, se bem julgamos, Galton está mais próximo de Darwin do que o zoólogo alemão. 480
  • Não houve eugenia hard em portugal 482 mais influência do meio e da higiene, menos racial 484-6
  • Bombarda e questão meio/inato. 494-5 Educação ajuda 497
    • "O que é um degenerado?" Em seu entender, toda a solução radical do problema da degenerescência é insustentável e, em caso algum, pode ser legitimada cientificamente, porque“a ciência hoje não permite senão cortar às cegas” 499
  • O fracasso da proposta de lei, da autoria de Roboredo Sampaio e Melo, apresentada à Câmara dos Deputados, em inícios de 1910, sobre “proibição do casamento aos degenerados”, em concreto, “aossifilíticos, aos alcoólicos crónicos, aos tuberculosos e aos afectados de quaisquer doenças mentais e nervosas graves”(*), é uma boa prova das resistências mentais ao cientismo eugenista e, simultaneamente, da persistência de valores humanistas de fundo cristão, assumidos ou recalcados, nas frentes ideo-políticas da época. 508
  • Castelo Branco lê o descent diretamente para justificar sua lei de seleção negativa. 508-9
  • Descent of man eugenia positiva não negativa 521
  • Questões de gênero
    • No entanto, a sugestão eugénica de Darwin não foi minimamente estudada. De facto, os protagonistas da questão feminina privilegiaram o problema da educaçãoinstrução das mulheres(*), porque ele era prioritário e fundamental na dinâmica (auto)-emancipatória da mulher(!) e porquese reflectia directamente na luta pelos direitos de igualdade jurídica e política(2). Convém ter presente que a indicação eugénica de Darwin não implicava necessariamente a democratização da educação intelectual, moral e física da mulher; não tinha como pressuposto a conquista da igualdade de direitos, nem postulava a igualdade biológica de poder cerebral entre os dois sexos. O argumento de Darwin poucotinha a ver com as questões “femininas” e “feministas” mas, indirectamente, facultava-lhes um valiosotrunfo científico ao afirmar a relação directa entre a descendência feminina e masculina das mulheres educadas e a evolução moral e intelectual de toda a espécie. Os benefícios hereditários resultantes do desenvolvimento mental da mulher não eram exclusivamente femininos mas estendiam-se à sua progenitura masculina. E, essas vantagens evolucionárias tinham uma consistência orgânica, inscreviam-se na constituição hereditária da descendência. 526-7
CONCLUSÕES
  • Darwinismos polítipico (La Vergata). 531
  • Trad
    • Por outro lado, as primeiras traduções da Origem das espécies (1913) e da Origem do homem (1910), bem como os estudos e as notícias publicadas em 1882 e em 1909, expressamente para homenagear o sábio inglês, encerram, só por si, uma ideia (obviamente, imperfeita e lacunar) do acolhimento da teoria darwiniana, entre nós. 532
  • Sobre antero
    • cuidou de distinguir a teoria científica da evolução (Darwin) da Weltanschauung cientista (0 monismo evolucionista hackeliano), é da ideia filosófica de evolução no seu devir histórico. A teoria de Darwin apresentava a evolução enquanto descendência com modificações, sem um sentido progressivo e teleológico, mas apenasfilogenético. A visão hackeliana do mundo subordinava a teoria de Darwin a um monismo materialista, assente numa ideia determinista-mecanicista (físico-química) de causalidade evolucionária: A sua pretensa filosofia era uma “falsa filosofia” porque consistia na simples generalização das leis científicas. A “verdadeira filosofia” da evolução tinha de resultar dum diálogo criador entre a ciência (teoria da evolução) e a metafísica (a ideia de evolução teleológica, intrinsecamente espontânea). 532-3
    • Os cientistas que tentaram fazer filosofia limitaram- -se a sacralizar a ciência (Hackel, por exemplo) e revelaram uma profunda inconsciência àcerca dos problemas da raíz do ser. As questões metafísicas não podem ser abolidas; elas brotam espontaneamente no espírito do filósofo, mas exigem respostas atentas ao progresso do conhecimento científico. Na verdade, Antero valoriza a ciência, fazendo-a partilhar a ideia de que a liberdade não é uma ilusão inconsequente, mas é a aspiração íntima de todo o ser. Assim, dentro do determinismo natural (struggle for life) reside um determinismo superior: a vontade que todo o ser tem de aumentar o seu próprio ser, de se ultrapassar a si mesmo, de se libertar dos condicionalismos que travam a sua (aspiração à) plena espontaneidade. Ao abrir a ciência à ideia de que a evolução é irredutível ao resultado mecânico da selecção natural, Antero concebeu uma filosofia teleológica da evolução que tem no horizonte a superação integradora da animalidade do homem, pela aspiração da consciência à liberdade e pela luta da vontade pelo Bem. ... Para Antero, a evolução moral é mais do que possível, é necessária, embora não seja mecânica, quer se trate da vida individual, quer no que concerne à vida da espécie humana que, tendo já ascendido à categoria de humanidade, preparava-se para se volver em humanidade livre, auto-determinada. ... no juízo anteriano, os cientistas que se arvoravam em filósofos, como Ernst Heackel, animalizavam o homem e entificavam a natureza, elevando o determinismo mecanicista a medida de todas as coisas. 534-5
  •  TB
    • Teoria de história panbiologista.
    • Com efeito, a evolução é entendida enquanto progresso no sentido positivista de desenvolvimento teleológico da ordem,e, portanto, o jogo dos possíveis, O acaso € a imprevisibilidade, que singularizam a teoria darwiniana da evolução, estão ausentes da teoria teofiliana da história. No entanto, a sua abordagem do protagonismo histórico das raças semitas e arianas revela que Teófilo soube adaptar a lógica darwínica da selecção natural e da selecção sexual à lei comtiana dos três estados históricos. 535 ... defendemos que foi a sua fidelidade ao positivismo francês que acautelou a sua teoria da história do fundamentalismo ariano- -germanista. 536
    • TB supera o positivismo comtiano em sua aplicação do darwinismo à sociedade, que não ocorreu na frança:
      • tanto os ortodoxos como os heterodoxos, não aplicaram os conceitos darwinianos (princípio biológico da população, luta , variação e selecção) ao estudo da sociedade. “A grande sombra de Comte tornou-se o túmulo de Darwin” (Yvette Conry), na medida em que a teoria da evolução darwiniana (descendência com modificações) foi identificada com o princípio comtiano do progresso enquanto desenvolvimento da ordem e, em última análise, foi confundida com o préformismo embriológico. Este equívoco impediu a compreensão e alimentou a contestação dos conceitos darwinianos de variação, modificabilidade e selecção natural. Embora “a grande sombra de Comte” também percorra a construção sociológica teofiliana, julgamos que esta representa a possibilidade de conjugação do positivismo heterodoxo com a teoria darwiniana. 543
      • Dispensa eugenia, foco numa seleção natural positiva, " ideal teofiliano de reorganização social procura articular os benefícios da normalização demo-sociocrática da sociedade com as vantagens biológicas da selecção natural." 544
  • Oliveira Martins
    • A sua teoria é estruturada em torno do princípio da selecção natural da raça ariana na luta inter-racial pela existência histórica. A universalização arianocêntrica da história recebe a cobertura do mecanismo evolucionário das espécies, defendido por Darwin. A raça ariana é elevada a primeira e última autora da civilização universal, à luz da “lei zoológica da selecção” (Oliveira Martins), lei que serve igualmente para justificar a exclusão das raças não arianas do processo universalista da história. Com efeito, para Oliveira Martins, a entrada destas raças na história só tinha sentido em função do seu relacionamento com a raça ariana. Assim, a história universal é a história daquela raça que numérica e territorialmente se foi expandindo pelo globo, revelando uma “capacidade ingénita” para exterminar ou submeter as restantes raças, e para assimilar e recriar a cultura religiosa, técnica, etc., de outras raças, como a semita. À lógica da submissão, da absorção ou do extermínio das raças menos favorecidas, pela raça superiormente dotada, é traduzida por Oliveira Martins numa linguagem fria e implacável, pretensamente científica.
    • Portugal deve resolver seu drama racial
    • a ideia martiniana de evolução não é concebida em termos de desenvolvimento essencialista, segundo um plano pré-determinado, pois ela comporta a ideia naturalista de acaso, mas também a ideia de inovação, ou de emergência do novo, como resultante duma acumulação regular de variações e da acção de factores acidentais diversos, mas sempre imanentes aos elementos constitutivos da dinâmica histórica. ....  o facto de o ariano ter triunfado sempre sobre a contingência, o acaso ou o acidente, não significa que o mesmo ocorra no tempo futuro.
    • Adversário do do darwinismo social individualista spenceriano. 538-40
  • Ramalho ortigão
    • Raça portuguesa em evolução regressiva influenciada pelo meio e pelas artificialidades religiosas. 541
    • Evita a eugenia e germanomania de chamberlain. 542
  • Augusto coelho
    • História é um ramo da árvore da vida 543
  • Júlio de Matos
    • Se TB se aproximava do otimismo liberal de darwin, Matos o fazia do darwinismo social individualista de Spencer. Elitista, antisocialista. 545
    • Adoptando o “princípio da continuidade doutrinal” entre a biologia, a psicologia e a sociologia (Comte e Spencer), e perfilhando uma leitura antropogénica da mente normal e patológica (Ernst Heckel), Júlio de Matos renovou o conteúdo do modelo comtiano de cientismo. Comte transitava da biologiafixista e essencialista para a sociologia, através da fisiologia cerebral (Gall), caucionando, deste modo, a precisão sociocrática do futuro da humanidade. Júlio de Matos transita da biologia transformista para a sociologia, através da psicologia evolucionista e, assim, funda a previsão sociológica do endurecimento da luta pela vida, da competição mental, da selecção dos mais qualificados e da afirmação progressiva das desigualdades inter-individuais. 547
    • Oposição por Bombarda. Questão meio/raça 547
  • Anarquismo
    • Várias coisas, mas o que gostei mais foi isso: O anarquismo considerava que a ciência era uma instituição burguesa, uma fábrica de ficções mas, julgava vencê-la, subjugando-a ao ideal acrata. Tão bem comooutros ideários, o anarquismo testemunha o impacto cultural da biologia na época, mas melhor do que outros põe a nu a fragilidade dos enunciados biológicos, quando subtraídos do seu contexto originário. 550
  • Final
    • Não houve religião eugência em portugal. 550
      • Dada a hegemonia do neo-lamarckismo (influência do meio exterior sobre a hereditariedade) na cultura bio-médica francesa, a eugenia foi, em regra, subordinada ao vasto campo da higiene científica, e o mesmo ocorreu entre nós. À valorização do meio moldou a eugenia francesa a uma ética humanista, prudente em matéria de imposições legislativas e moderada no plano da educação eugénica, tanto seleccionista como racialista. Deste modo,a trilogia eugenista (determinismo biológico, desigualdade orgânica, social e rácica, selecção artificial) não substituiu a secular trilogia da liberdade, igualdade e fraternidade (Jacques Léonard). Entre nós, desde finais do século XIX, ganhou corpo um pensamento eugénico (hereditariedade/factores internos) no contexto do higienismo (meio/factores externos) que se limitou a defender a boa descendência, segundoocritério da robustez física e mental, tout court. 551
      • Em regra, esta elite pensante conservava no horizonte o ideal de eugenia preventiva, segundo o qual nenhuma lei teria a eficácia da decisão individual, ... Esta normatraduzia-se na renúncia ao casamento e à descendência e na abstenção da paternidade 551-2
      • Por outro lado, entre nós, a eugenia permaneceu entalada entre a prudência jurídica e o optimismo higienista, o que pode ser interpretado como sendo sintomático da persistência de valores humanistas, de fundo cristão, na cultura portuguesa, apesar da força dos seus sinais de acolhimento do cientismo, ou agnóstico ou ateu, no período considerado. 552 
    • Esterilização não colou. Refutada por Bombarda e apoiada por Moniz.
Refs

  • Catroga "A ideia de evolução em antero de quental" 1985; 
  • Sacarrão, 
    • “O darwinismo em Portugal”, Prelo, Lisboa, (1, Abr.-Jun. 1985, p. 10. 
    • Vide, também, Idem, “Pedagogia da evolução e museus de história natural. O caso português”, Prelo, Lisboa, (16), Jul.-Set. 1987, sobretudo p. 19; 
  • Carvalho ?. 17;
  • Teófilo Braga, “Carlos Darwin”, O Occidente, Lisboa, 5 (123) 21 Maio 1882, p. 118. 
  • Teófilo Braga, Historia universal: Esboço de sociologia descriptiva, 1878-1882
  • Teófilo Braga in 'O que são raças sociológicas”(1908),
  • Teófilo Braga, Systema de sociologia, ob. cit., pp.159 e ss. Esta edição é igual à primeira edição ( Lisboa, Typ. de Castro Irmão, 1884).
  • Teófilo Braga, Povo Portugues 1885
  • Teófilo Braga, Patria Portuguesa 1894
  • Teófilo Braga, Visão dos tempos 1894-5
  • Autobiographia mental de um pensador isolado, pp. XXXIX e ss. In: Teófilo Braga, Quarenta annos de vida litteraria (1860-1900), ob.cit., 1902.
  • Amadeu “Carvalho Homem, A ideia republicana em Portugal: o contributo de Teófilo Braga, 1989

  • Antonello La Vergata, “Enrico Ferri 1856-1929”. In: Dictionnaire du darwinisme et de Pévolution, vol. 2, ob. cit., pp. 1644-1645.
  • Greta Jones, Social darwinism and english thought. The interaction between biological and social theory. Sussex-New Jersey, The Harvester Press Limited- -Humanities Press Ínc., 1980, p. 72 e ss.
  • Yves Christen, Le grand affrontement — Marx et Darwin, Paris, Albin Michel, 1981, p. 155.
  • Paul Weindling, Health, race and german politics between national unification and nazism 1870-1945, ob. cit., p. 118 e ss. 
  • Britta Rupp-Eisenreich, “Le darwinisme social en Allemagne”. In: Darwinisme et société. Direction de Patrick Tort, Paris, Presses Universitaires de France 1992, pp. 169-236.
  • Marcel Prenant, Darwin y el darvinismo, México, Editorial Grijaldo, S.A., 1969, pp. 137-158; 
  • Gabriel Gohau “La descendance de Darwin”, Raison Présente, Paris, 66, 1983, pp. 5-16; 
  • Dominique Lecourt, “A propos du rapport Marx-Darwin. Dune correspondance fictive”, Raison Présente, Paris, 66, 1983, pp. 51-58; 
  • Dominique Lecourt, “Marx au cribe de Darwin”. In: De Darwin au darwinisme: science et idéologie. Congrês International pour le Centenaire de la mort de Darwin. Paris-Chantilly 13-16 Septembre 1982, ob. cit., pp. 227-249; 
  • Pierre Thuillier, Darwin & €Cº., ob. cit., sobretudo o capítulo intitulado “La correspondance Darwin-Marx: fin d'une légende”, pp. 73-93. 
  • Karl Marx; F. Engels, Lettres sur les sciences de la nature(et les mathe: matiques), Paris, Éditions Sociales, 1974, pp. 19-87, 
  • especialmente as cartas de Engels à Marx (Manchester, 11 ou 12/12/1859); Marx a Engels (Londres, 19/12/1860); Marx à Ferdinand Lassalle (Londres, 16/01/1861); Marx a Engels (Londres, 18/06/1862); Marx à Engels (Londres, 7/08/1866): Marx a Engels (Londres, 13/08/1866); Marx a Engels (Londres, 18/11/1868); Marx a Laura e Paul Lafargue (Londres, 15/02/1869); Engels à Marx (Manchester, 18/03/1869); Engels a Piotr Lavrov (Londres, 24/09/1875); Engels à Piotr Lavrov (Londres, 12-17/11/1875). 
  • La Vergata, “Les bases biologiques de la solidarité”. In: Darwinisme et société,

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